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Setor do shipping beneficia com ataque de Israel ao Irão

A ZIM Integrated Shipping Services (Israel) e a Maersk, que estão no Top 10 mundial do shipping, foram as que mais valorizaram logo na sexta-feira com o ataque de Israel ao Irão. Analistas consultados pelo Jornal Económico (JE) explicam os motivos das subidas das cotadas neste setor.
18 Junho 2025, 07h00

O setor de shipping foi um dos que beneficiou com o ataque de Israel ao Irão, ocorrido na passada sexta-feira. Destacou-se a ZIM Integrated Shipping Services (Israel), que logo na sexta-feira valorizou mais de 5,7%, e também a Maersk (Dinamarca), que nesse mesmo dia subiu 4,1%.

Os ganhos da ZIM Integrated Shipping Services continuaram na segunda-feira, disparando mais 7,8% logo na abertura da bolsa, mas na terça-feira já desvalorizava 1,5%. Em sentido contrário, a Maersk chegou a quebrar 1,4% na segunda-feira e descia mais 1,6% na terça-feira.

Tanto a ZIM como a Maersk fazem parte do Top 10 mundial do setor.

A ZIM Integrated Shipping Services fecha o Top 10 das maiores empresas de shipping mundiais, numa lista liderada pela Maersk, de acordo com o ranking da Alcott Global, empresa especialista em logística e cadeias de abastecimento, com os dados a reportarem-se a 2021. Depois da Maersk, surge a MSC (Suíça), a Cosco Shipping (China), a CMA CGM (França), a Hapag-Lloyd (Alemanha), a One (Japão), a Evergreen Line (Taiwan), a HMM (Coreia do Sul) e a Yang Ming (Taiwan).

Dentro do Top 10 mundial do shipping, destacaram-se as subidas de 1,7% da Cosco Shipping, a quebra de 0,2% da Hapag-Lloyd, o crescimento de 2,7% da HMM e a valorização de 2,6% da Yang Ming na sexta-feira. Na segunda-feira, a Cosco Shipping descia 0,4%, a Hapag-Lloyd desvalorizava 0,5%, a HMM subia 0,4% e a Yang Ming quebrava 0,6%. Na terça-feira a Cosco Shipping subia 1,3%, a Hapag-Lloyd caia 0,9%, a HMM tombava 5,3%, e a Yang Ming valorizava 3,5%.

Shipping beneficia com instabilidade

O economista sénior do Banco Carregosa, Paulo Monteiro Rosa, referindo-se às subidas do setor de shipping e das empresas cotadas em bolsa, considerou que este momento de subida poderá estar associado a “receios de instabilidade geopolítica” na região do Médio Oriente, o que “tende a aumentar os custos e os riscos” do transporte marítimo, valorizando as empresas do setor.

Já o analista da XTB, Vítor Madeira, refere que as subidas, em bolsa, por parte da ZIM Integrated Shipping Services, na sexta-feira e na segunda-feira, podem ser interpretadas como uma “resposta racional” do mercado à expectativa de aumento nas margens operacionais da empresa, num contexto geopolítico “mais instável”.

Referindo-se à ZIM Integrated Shipping Services, Paulo Monteiro Rosa sublinha que a estrutura da empresa israelita “é mais ágil e exposta” ao mercado spot (com preços flutuantes e menos contratos a longo prazo), o que a torna “particularmente sensível a alterações bruscas na procura e nos preços” dos fretes.

“Ao contrário da Maersk — uma gigante global com uma frota muito superior, diversificada em várias áreas logísticas e com uma base de receitas mais estável —, a ZIM funciona como um operador mais reativo às dinâmicas do mercado. Assim, num contexto de tensão geopolítica e aumento da procura ou dos custos de transporte, empresas como a ZIM podem beneficiar mais rapidamente em termos bolsistas”, explica o economista sénior do Banco Carregosa.

Vítor Madeira refere que a ZIM Integrated Shipping Services, uma transportadora marítima com forte presença nas rotas do Médio Oriente, vê que qualquer escalada de tensão na região, como a que ocorreu na sexta-feira entre Israel e Irão, “tende a gerar disrupções logísticas, redirecionamento de rotas e aumento dos prémios de risco” no transporte marítimo.

“Estas alterações pressionam os custos globais de transporte, mas, por outro lado, podem beneficiar empresas como a ZIM, que operam com ativos próprios e conseguem, em determinados contextos, repassar esses custos aos clientes, ampliando as suas margens”, sublinha o analista da XTB.

Resultados têm ajudado a subida da ZIM

A influenciar o comportamento da ZIM Integrated Shipping Services, acrescenta Paulo Monteiro Rosa, estiveram também os seus mais recentes resultados trimestrais, que revelaram um desempenho financeiro “muito acima” das expectativas, com lucros em “forte crescimento e melhoria das perspetivas” para 2025.

“Esta conjugação de fatores — bons resultados, sensibilidade ao mercado spot e o contexto internacional — ajuda a explicar a subida superior a 5% das ações da ZIM [na sexta-feira]”, reforça Paulo Monteiro Rosa.

Vítor Madeira diz ainda que a ZIM Integrated Shipping Services também se tem destacado pela sua política de retorno ao acionista, com distribuição de dividendos muito robustos nos últimos anos, refletindo lucros extraordinários originados, em parte, por “disrupções similares [em alusão ao ataque de Israel ao Irão ocorrido na sexta-feira]” na cadeia global de abastecimento. “O mercado poderá estar agora a antecipar novos ganhos extraordinários num cenário de maior procura por rotas alternativas e tarifas de transporte mais elevadas”, afirma o analista da XTB.

“A valorização da ação [da ZIM], portanto, não representa uma desconexão com o risco geopolítico, mas sim uma leitura pragmática do impacto que esse risco pode ter na dinâmica de oferta e procura do setor marítimo de transporte de contentores — um segmento altamente sensível a choques exógenos e que está claramente a beneficiar deste conflito”, conclui o analista da XTB.

Refira-se que o preço do petróleo disparou com o romper do conflito entre Israel e Irão. Logo na sexta-feira subia mais de 8%. Contudo, na sexta-feira, a matéria-prima quebrava 0,8%. O mercado já antevia o aumento no preço do barril de petróleo ainda antes do ataque de Israel ao Irão, uma tendência que se agravou desde sexta-feira. Wall Street alerta para um disparo no petróleo de 75% devido à tensão no Médio Oriente.

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