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Cigarrilhas cubanas esgotadas em Portugal

Problemas logísticos e procura explosiva dos consumidores asiáticos afetaram o mercado nacional. A importadora oficial, Empor, garante a reposição das cigarrilhas até ao início de julho.
20 Junho 2025, 07h53

As cigarrilhas cubanas desapareceram das prateleiras de muitas tabacarias portuguesas, apanhando de surpresa os consumidores habituais. A ausência das marcas Cohiba, Montecristo, Partagás ou Romeo y Julieta deve-se a uma combinação de fatores: o aumento explosivo da procura de tabaco pelo mercado asiático (absorve grande parte das 800 mil unidades produzidas diariamente em Havana) e a problemas logísticos no norte de Espanha, ponto de entrada das cigarrilhas em Portugal.

“O período mais drástico aconteceu há cerca de dois meses. Mas a situação será reposta gradualmente, ao nível de marcas e formatos, entre o final do mês de junho e o início de julho”, diz Pedro Rocha, diretor-geral da Empor, a importadora oficial do tabaco cubano para Portugal, ao Jornal Económico.

Antes de chegar aos consumidores portugueses, as cigarrilhas percorrem um caminho longo e controlado. A viagem começa na fábrica da Internacional Cubana de Tabacos (ICT), em Havana, Cuba, e segue rumo aos hubs logísticos no norte de Espanha. Aqui, ocorre uma etapa essencial: a terminação do embalamento, que inclui a aplicação do Identificador Único (IU) — um selo com número de série e QR Code obrigatório por lei. Foi precisamente nesta fase que surgiram perturbações, que travaram o abastecimento ao mercado português.
“O sistema Track and Trace (identificação desde o fabricante até o ponto de venda) obrigou o setor do tabaco a acelerar a sua transformação digital, contribuindo para um controlo mais eficaz sobre o mercado legal. No entanto, foi também um dos principais fatores por detrás da rotura de stock das cigarrilhas cubanas, evidenciando os desafios da harmonização global de normas num setor com forte presença de produtos importados e tradicionais”, explica Pedro Rocha, diretor-geral da Empor.

Concluído o processo, o tabaco vai para armazéns alfandegados em Lisboa. E, a partir daí, as cigarrilhas são distribuídas para as lojas de todo o continente e ilhas.

Neste cenário marcado por uma cadeia de distribuição cada vez mais imprevisível, várias tabacarias especializadas em Portugal e em outros países europeus foram prejudicadas. Com a oferta limitada e o aumento da procura, alguns produtores cubanos dão prioridade a mercados que oferecem maior rentabilidade. E a Ásia é um desses casos. “Nunca houve uma falha tão grande como agora. Desde o final de abril que não abasteço a loja”, diz Getúlio Cabral, gerente da Tabak, em Telheiras, um estabelecimento distinguido com o selo Habanos Point (avaliação que atesta a qualidade do tabaco e os seus métodos de armazenamento). “Atualmente, há uma escassez generalizada de produção cubana, o que torna difícil manter um stock constante de algumas marcas ou vitolas específicas. O mercado flutua bastante e há momentos em que conseguimos certas referências e outros em que isso já não acontece”, acrescenta uma responsável da A4 Tabacarias Premium, em Vilamoura, ao Jornal Económico.

A histórica Casa Havaneza, no Chiado, ainda mantém algum stock disponível. Luís Laforga Granjo, 54 anos, genealogista e apreciador de tabaco cubano, comprou ali uma das poucas caixas de cigarrilhas ainda disponíveis no mercado. Fã das marcas Cohiba, Montecristo ou Partagás, habituou-se ao ritual de fumar uma cigarrilha depois de cada refeição. “Quem fuma quer apreciar o aroma e o sabor — e nisso o tabaco cubano é incomparável”, conta.

Luís começou a fumar cigarros, depois experimentou cachimbo, até se converter de vez às cigarrilhas. Cultivado em zonas como Vuelta Abajo e Pinar del Río — tem características únicas. “Uma cigarrilha demora entre 10 a 15 minutos a fumar. Mas é o suficiente para relaxar enquanto se saboreia um café, se folheia um livro ou se partilha uma boa conversa”.

Enquanto a normalização da oferta não chega, resta aos apreciadores manter a esperança de voltar a saborear, em breve, o requinte do tabaco cubano.

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