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Erros e mau planeamento geram caos no Aeroporto de Lisboa

O Serviço de Segurança Interna instalou em maio novas máquinas para controlo de passaportes. O resultado está a ser caótico. Nunca foi tão difícil entrar em Portugal.
27 Junho 2025, 06h55

Nos últimos dois meses, os turistas que necessitam de controlo de passaportes para entrar e sair de Portugal através do Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, têm enfrentado uma situação desesperante. O tempo de espera para entrar no país ultrapassa muitas vezes as quatro horas. Para sair, o problema mantém-se: a espera ronda, em média, uma hora. Este cenário caótico deve-se à instalação de novas máquinas eletrónicas de controlo dos passaportes que, em vez de facilitarem e acelerarem o processo, complicaram-no ainda mais devido a uma série de falhas graves na forma como foram postos a funcionar.

A responsabilidade pela gestão e operação destes sistemas cabe ao Serviço de Segurança Interna (SSI), que decidiu ativar o novo sistema de controlo automático de passaportes sem avisar atempadamente a ANA Aeroportos – a entidade gestora do aeroporto – e, pior ainda, sem realizar os testes necessários para garantir o seu correto funcionamento. A decisão foi avançar e instalar, na convicção otimista de que correria bem. Aconteceu exatamente o contrário.

Para tornar tudo ainda mais difícil e irremediável no curto prazo – as máquinas foram instaladas em maio e até agora continua tudo na mesma – oSSI não fez qualquer plano de contingência para responder a eventuais falhas que pudessem surgir, Esta falta de planeamento e de comunicação criou um verdadeiro colapso operacional que, na melhor das hipóteses, só ficará resolvido no início de julho, embora, perante tantos problemas, uma fonte que acompanha o processo diz ter “dúvidas legítimas” sobre esta promessa do SSI.

Na verdade, desde que foi instalado, o sistema eletrónico encontra-se praticamente inoperacional, obrigando quase todos os passageiros a recorrer ao controlo manual, nos guichês operados por agentes da PSP. No entanto, o número de agentes disponíveis é insuficiente para dar resposta ao elevado fluxo de passageiros, especialmente em períodos de maior movimento, como as férias de verão. O Humberto Delgado recebe mais de 100 mil passageiros por dia. embora só uma parte tenha de passar pelo controlo de passaportes. As filas tornaram-se. portanto, intermináveis, com relatos de turistas exaustos, crianças e pessoas mais velhas em pé durante horas, e até casos de turistas que perderam os seus voos por causa da demora à saída do país.

Esta situação tem causado prejuízo à imagem de Portugal enquanto destino turístico, sobretudo numa altura em que o país procura afirmar-se como uma referência num setor tão competitivo. Muitos visitantes têm partilhado nas redes sociais as suas experiências negativas, o que poderá ter repercussões na escolha de Lisboa como ponto de entrada na Europa.

A ANA Aeroportos não tem responsabilidade direta nesta crise, uma vez que a gestão do controlo de fronteiras é uma competência exclusiva das autoridades de segurança interna. É um assunto da exclusiva responsabilidade do Estado.

O Ministério das Infraestruturas está a acompanhar o desenrolar dos acontecimentos e tem pressionado o SSI para uma resolução célere do problema. No entanto, o SSI demorou a comunicar publicamente as razões para o colapso. No início foi, aliás evasivo nas respostas que deu ao Governo.

Para agravar o cenário, até o servidor responsável por registar eletronicamente as entradas e saídas de passageiros tem apresentado falhas, obrigando à sua substituição iminente. No aeroporto, há dezenas de novas máquinas ainda por desembrulhar, à espera de serem instaladas e configuradas corretamente, o que demonstra a falta de preparação e de planeamento em todo este processo.

As consequências não se limitam apenas ao desconforto dos passageiros. Os atrasos nos controlos de saída têm provocado atrasos nos voos, uma vez que os aviões não podem partir enquanto todos os passageiros não tiverem passado pelo controlo de passaportes. Esta situação obriga, por vezes, a manter a pista aberta apenas para as partidas, limitando a chegada de novos voos e causando uma reação em cadeia que afeta toda a operação do aeroporto.

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