Num cenário que, se inventado, dificilmente teria tantas peripécias inesperadas, o Brexit está agora em vias de voltar a bloquear, e desta vez por culpa dos Estados Unidos. Mais um ponto inesperado, mas que tem lógica: os Trabalhistas, pela voz do seu líder, Jeremy Corbyn, afirmam que os Conservadores estão a deixar estender as conversações para um possível acordo que desbloqueie o Brexit porque não querem um excessivo aumento da regulação na fase pós-saída.
Segundo Corbyn, as negociações entre os dois partidos ‘encalharam’ porque os Trabalhistas querem avançar para a união alfandegária, enquanto os Conservadores querem um cenário de desregulamentação pós-retirada, como parte de um acordo comercial com os Estados Unidos.
Corbyn disse que os Trabalhistas vêm apresentando um projeto sólido para uma união alfandegária durante as negociações da semana, mas sugeriu temer que os dois lados não encontrem um terreno comum. “Tem que haver acesso aos mercados europeus e, acima de tudo, tem que haver um relacionamento dinâmico para proteger os direitos do consumidor, do trabalho”, etc, disse.
Fica por saber-se se Theresa May tem em vista um acordo com Donald Tump ou se tudo não passa de um desejo. Se for assim, é um desejo antigo: recorde-se que, mal Trump foi eleito, May ‘correu’ aos Estados Unidos na tentativa de encontrar uma alternativa comercial e económica à União Europeia, que de algum modo pudesse suavizar a previsível turbulência na altura da saída.
Na altura, May veio dos Estados Unidos trazendo na bagagem nenhuma certeza sobre a matéria e algum desprezo da Casa Branca sobre o assunto. Na altura, os comentadores especularam que se tinha fechado mais uma porta ‘no nariz’ dos brexiteers – que tiveram sempre nos Estados Unidos a certeza de um aliado que, no limite, estaria sempre lá.
O segundo encontro entre May e Trump foi bem menos caloroso – e também bem mais apimentado – e os britânicos puderam ficar com a certeza de que, do lado norte-americano, não viria o auxílio que muitos esperavam.
Agora, e face às palavras de Corbyn, é possível que o cenário tenha mudado e que a primeira-ministra tenha encontrado uma forma de apresentar esse ‘trunfo’ aos britânicos: uma perspetiva de um acordo comercial entre o Reino Unido e os Estados Unidos.
Não que isso fosse suficiente ou sequer necessário para que o Brexit fosse concluído com êxito, mas por certo permitiria uma perceção diferente da saída por parte dos britânicos.
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