A historiadora Maria Inácia Rezola defendeu hoje, em declarações à Lusa, que seria interessante promover-se a circulação de obras de arte entre Portugal e as ex-colónias africanas e ir além da questão da devolução das peças.
“No que diz respeito à questão da devolução de obras de arte, em Portugal 54% [dos inquiridos na sondagem “50 Anos de Independências — A descolonização portuguesa e os seus legados”] dizem que se deveria devolvê-las”, explicou a comissária executiva da estrutura de missão para as comemorações do quinquagésimo aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974.
Também em Angola e Cabo Verde – as duas nações em África onde foi realizada a sondagem – os inquiridos defenderam, ainda de forma mais expressiva, com 58% e 63%, respetivamente, que estas obras deveriam ser devolvidas.
“Eu penso que já foram iniciadas diligências nesse sentido [da devolução], desde logo iniciando um inventário dos materiais que efetivamente existem em Portugal e imagino que agora o passo será dialogar com as autoridades angolanas, moçambicanas, cabo-verdianas, são-tomenses e guineenses para ver como é que se pode processar essa devolução”, declarou a historiadora.
No entanto, para a investigadora, especialista em História Contemporânea, mais interessante do que as devoluções propriamente ditas seria que se “alargasse a já existente rede de cooperação cultural e pudessem pôr-se a circular em Portugal obras destes países e nesses países obras portuguesas”.
Questionada sobre se o termo “Descobrimentos” deveria ser reformulado na Historiografia portuguesa, Rezola explicou que a expressão interiorizou-se no imaginário português, mas que a população portuguesa sabe “que não se descobriu nada”, que os territórios já existiam com as respetivas populações.
Para a professora universitária, a mudança de termo pode ser equacionada, mas seria mais interessante “debater todas as outras questões subjacentes a esse processo [de expansão] do que estar presos a uma palavra”.
Relativamente às reparações históricas – que são precisamente o tema deste ano da União Africana -, a investigadora defendeu que a colonização foi um infortúnio, mas que a descolonização tem igualmente uma “enorme dimensão trágica”.
Na opinião da historiadora, um dos caminhos que deve ser percorrido entre Portugal e os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) é o da cooperação, “respeitando as soberanias, as independências, as individualidades de cada Estado, mas tirando partido da História comum que uniu os povos e que possui também aspetos positivos”.
A sondagem “50 Anos de Independências — A descolonização portuguesa e os seus legados” surgiu de um trabalho feito entre maio e junho de 2025, em que foram realizados inquéritos em Portugal, Angola e Cabo Verde, com o objetivo de conhecer como os cidadãos destes países percecionam hoje os processos de descolonização, os seus legados e as relações atuais entre Portugal e os seus antigos territórios coloniais em África, segundo uma nota de imprensa da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril enviada à Lusa.
A investigação foi desenvolvida pelo CESOP [Centro de Estudos e Sondagens de Opinião] – Universidade Católica Portuguesa, em parceria com a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril e a RTP.
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