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Operação Marquês: Sócrates acusa Costa de covardia por silêncio em relação a Manuel Pinho

Sobre a sessão de hoje, Sócrates disse sair do tribunal com “uma sensação de ‘déjà-vu’, de já ter visto este filme”, insistindo que já provou a sua inocência na fase de instrução e que o julgamento vai voltar a discutir tudo o que já foi discutido em três anos de instrução.
Sócrates Operação Marquês
3 Julho 2025, 18h57

José Sócrates acusou hoje o também ex-primeiro-ministro António Costa de covardia por ter ficado em silêncio sobre o facto de ter sido ele quem lhe apresentou o ex-ministro Manuel Pinho.

“Eu convoco António Costa para que esta verdade seja clara. Foi ele que me apresentou Manuel Pinho. Não foi o Ricardo Salgado nenhum. E o que eu lamento, isso sim, (…) é que o doutor António Costa estivesse calado durante todos estes anos sobre essa verdade. Podia-a ter dito imediatamente”, disse José Sócrates à saída do tribunal.

Para o ex-ministro, a atitude de António Costa “é apenas covardia” e admite que o distanciamento em relação a António Costa lhe causou “algum sofrimento, mas isso foi há 10 anos, não agora”.

“São águas passadas”, disse.

Segundo a acusação do Ministério Público (MP), Manuel Pinho, que foi ministro da Economia no Governo socialista de José Sócrates, terá sido indicado pelo ex-presidente do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado, para interceder no executivo em benefício dos interesses de Salgado.

“Eu não tinha nenhum conhecimento com o Ricardo Salgado. A minha relação com o Manuel Pinho começou justamente quando o doutor António Costa me apresentou”, disse Sócrates.

Sobre a sessão de hoje, Sócrates disse sair do tribunal com “uma sensação de ‘déjà-vu’, de já ter visto este filme”, insistindo que já provou a sua inocência na fase de instrução e que o julgamento vai voltar a discutir tudo o que já foi discutido em três anos de instrução.

José Sócrates argumentou que “há uma nulidade absoluta” neste julgamento, uma vez que o acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa que sustenta a acusação em julgamento não pode legalmente ser encarado como um despacho de pronúncia.

“Não é. Isso é falso. (…) A Relação não pode pronunciar ninguém, nenhum cidadão, a não ser que seja procurador ou que seja juiz. Ora, eu não sou nem procurador, graças a Deus, nem juiz. E, portanto, não posso ser pronunciado pela Relação como elas [as juízas] pretendem. Isto é, as juízas estão aqui a manter um embuste”, disse Sócrates.

Tal como tinha feito à entrada, Sócrates afirmou que a acusação assenta na ideia de um “lapso de escrita” do MP, levando a uma alteração da qualificação dos crimes imputados apenas com o objetivo de manter a possibilidade de o levar a julgamento.

“Para quê? Para humilhar. Porque no fundo, no fundo, tudo isto tem um objetivo. O objetivo de todo este espetáculo é a humilhação”, disse.

Onze anos após a detenção de José Sócrates no aeroporto de Lisboa, arrancou hoje o julgamento da Operação Marquês, que leva a tribunal o ex-primeiro-ministro e mais 20 arguidos e conta com mais de 650 testemunhas.

Estão em causa 117 crimes, incluindo corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal, pelos quais serão julgados os 21 arguidos neste processo. Para já, estão marcadas 53 sessões que se estendem até ao final deste ano, devendo no futuro ser feita a marcação das seguintes e, durante este julgamento serão ouvidas 225 testemunhas chamadas pelo Ministério Público e cerca de 20 chamadas pela defesa de cada um dos 21 arguidos.

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