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Netanyahu propõe Donald Trump para o Nobel da Paz

Há muito que se dizia que o presidente dos Estados Unidos faria tudo para se acrescentar a uma lista onde já está Barack Obama. Só não era claro para ninguém, a não ser para o primeiro-ministro israelita, que o ‘raid’ militar sobre o Irão fosse matéria de facto para apresentar ao Comité Nobel.
FILE PHOTO: U.S. President Donald Trump and Israeli Prime Minister Benjamin Netanyahu shake hands after Trump’s address at the Israel Museum in Jerusalem May 23, 2017. REUTERS/Ronen Zvulun/File Photo
8 Julho 2025, 10h25

A visita de cortesia do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu à Casa Branca redundou num surpreendente anúncio: Israel vai propor às autoridades competentes a atribuição do Prémio Nobel da Paz a Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos. A acontecer, não seria a primeira vez que um presidente norte-americano em exercício ganharia o prestigiado galardão: em 2009, o então presidente Barack Obama, ainda ‘caloiro’ no lugar, ascendeu a esse estrelato, o que, dizia-se na altura, o deixou muito admirado. Não era para menos: afinal, os Estados Unidos estavam envolvidos em duas guerras (no Iraque e no Afeganistão) e os esforços da Casa Branca para resolver conflitos no Médio Oriente não estavam a obter nenhum resultado.

Desta vez, a surpresa parece ser ainda maior: Trump acaba de proceder a um ‘raid’ militar intimidatório e predador das instalações nucleares do Irão – fazendo um favor a Israel que o Estado hebreu não tinha armas para executar – o que não será o melhor dos currículos para apresentar ao Comité Nobel Norueguês. Comité esse que não costuma estar confortável com a atribuição do galardão a líderes político-militares, como ficou bem evidente no ano de 1953, em que o antigo primeiro-ministro britânico Winston Churchill foi galardoado com o… Nobel da Literatura.

Não sendo claro que a Trump possa suceder o mesmo – pelo menos não se lhe conhece nenhum empenhamento no segmento da literatura – Benjamin Netanyahu disse, quando deu a conhecer a sua iniciativa, que a atribuição do Nobel é mais que merecida, uma vez que o presidente dos Estados Unidos é o ‘autor’ dos chamados Acordos de Abraão – o que, valha a verdade, pareciam valer a pena, não fosse o instinto predatório de Israel em relação à Palestina. O primeiro-ministro disse também que todas as iniciativas de Trump, depreende-se que mesmo a investida militar sobre o Irão, têm como fim, mesmo que ele possa ser longínquo, a paz.

Trump disse que não sabia de nada – mas os seus críticos afirmam há muito que o presidente dos Estados Unidos persegue o prémio, como se esse fosse mais um motivo para figurar em definitivo nos anais da história. Preocupação inútil: Trump já lá está, nos anais, depois de acumular uma primeira presidência, um improvável hiato de quatro anos e uma segunda presidência em que dinamitou e mais tarde bombardeou o multilateralismo.

Até à próxima

Falando no início de um jantar entre autoridades norte-americanas e israelitas, Netanyahu disse que os Estados Unidos e Israel estão a trabalhar com outros países que querem dar aos palestinianos um “futuro melhor”, sugerindo que os moradores de Gaza poderiam mudar para países vizinhos, segundo adianta a imprensa norte-americana. “Se as pessoas quiserem ficar, pode ficar, mas se quiser sair, devem poder sair”, disse Netanyahu. “Estamos a trabalhar em estreita colaboração com os Estados Unidos para encontrar países que queiram concretizar o que sempre disseram: que queriam dar aos palestinianos um futuro melhor. Acho que estamos perto de encontrar vários países.

Trump, que inicialmente se mostrou reticente a Netanyahu quando questionado sobre a deslocalização de palestinianos, disse que os países ao redor de Israel estão a ajudar. “Tivemos grande cooperação dos países vizinhos, grande cooperação de cada um deles. Então, algo de bom vai acontecer”, disse Trump.

No início deste ano, o presidente sugeriu a remoção de palestinianos e a tomada da Faixa de Gaza para a transformar na “Riviera do Médio Oriente” (sic). Os moradores de Gaza criticaram a proposta e prometeram nunca deixar as suas casas no enclave costeiro – que aparentemente encerra fortes perspetivas para o turismo, podendo vir a ser no futuro um forte concorrente a Portugal.

Trump e Netanyahu encontraram-se por várias horas em Washington, enquanto autoridades israelitas continuavam as negociações indiretas com o Hamas visando garantir um cessar-fogo em Gaza e um acordo de libertação de reféns mediado pelos Estados Unidos. Netanyahu retornou à casa de hóspedes de Blair House na noite de segunda-feira, onde se encontrou com o vice-presidente JD Vance.

Os dois líderes, com seus principais conselheiros, realizaram um jantar privado no Salão Azul da Casa Branca, em vez das conversas mais tradicionais no Salão Oval, onde o presidente normalmente cumprimenta dignitários estrangeiros em visita. Do lado de fora, segundo a Reuters, centenas de manifestantes, muitos usando lenços keffiyeh palestinianos e agitando bandeiras da Nação, reuniram-se perto da Casa Branca, agitando faixas que diziam ‘Parem de Armar Israel’ e ‘Diga Não ao Genocídio’. Também pediam a prisão de Netanyahu, referindo-se ao mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional contra o líder israelita por supostos crimes de guerra em Gaza.

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