Segundo a imprensa norte-americana, União Europeia, México a Canadá são, por esta ordem, os três blocos com maior impacto nas importações mantidas pelos Estados Unidos: respetivamente 18,5%, 15,5% e 12,6% – com todos os restantes países a não chegarem aos dois dígitos. Ora, as tarifas propostas (as mais recentes, descontando-se o ‘carrossel’ de que têm sido alvo, são, respetivamente, de 30%, 30% e 35%, com o Canadá a ser negativamente discriminado. É claro para todos, menos para Donald Trump, que a instabilidade comercial resultou em grandes oscilações nos mercados e novas tensões entre alguns dos parceiros mais próximos dos Estados Unidos.
Mas há quem tenha mais razões de queixa. A decisão sobre os três blocos ocorreu um dia depois de anunciar a imposição de tarifas de 50% sobre as importações do Brasil, sugerindo que as novas taxas eram em parte uma resposta a uma ‘caça às bruxas’ contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado político de Trump. Laos e Myanmar (40%) e Tailândia e Camboja (36%), são os tristes ‘campeões’ das tarifas, se nada entretanto for alterado. Mas na casa dos 35% há várias economias: Bangladesh, Sérvia e Montenegro.
Trump também anunciou planos para impor uma tarifa de 50% sobre o cobre importado, depois de os seus assessores apresentarem um relatório argumentando que proteger o cobre era importante para a segurança nacional. O metal também é muito utilizado pelas indústrias de manufatura e construção, que provavelmente pagarão preços mais altos pelo cobre importado. Para já, contudo, apenas os construtores automóveis apresentaram queixas: após uma semana caótica no mercado do cobre, os fornecedores dos construtores já pediram aos seus clientes que paguem mais pelos produtos saídos para as fábricas porque não podem absorver os custos adicionais. Uma fonte de um grande fornecedor automóvel no mercado dos EUA disse, citado pela agência Reuters, que a empresa sentiu um impacto “significativo” nos preços elevados do cobre, alumínio e aço. Isso cria atritos comerciais e lacunas estruturais de custos, disse a mesma fonte.
Em muitos casos, as taxas anunciadas por Trump foram iguais ou próximas dos níveis que ameaçou impor em abril, quando lançou taxas punitivas sobre quase 60 parceiros comerciais dos Estados Unidos – antes de reverter a decisão por 90 dias – para todos os países exceto para a China. De então para cá, só dois acordos foram alcançados: um com o Reino Unido que reduz as tarifas sobre carros britânicos, aço e alumínio e equipamentos aeroespaciais; e outro com o Vietname, que passou de uma ameaça de 46% para 20% – muito à custa, dizem os analistas, da abertura com que o país asiático diz vir a acomodar investimentos no turismo da parte do grupo Trump (alegadamente gerido pelos filhos do presidente norte-americano).
Representantes do Japão, Malásia, Coreia do Sul, Indonésia e outros também têm corrido para Washington nas últimas semanas para tentarem encontrar um acordo que evite tarifas mais altas, mas não tiveram sorte. A União Europeia também faz parte deste grupo de desafortunados.
Nenhuma outra guerra comercial teve tanto impacto como a dos Estados Unidos com a China – que Trump iniciou ainda no seu mandato e que a administração seguinte, encabeçada pelo democrata Joe Biden, manteve nos seus traços gerais – indicando que o Império do Meio é transversalmente ‘odiado’ pela sociedade norte-americana. As duas maiores economias do mundo começaram a aumentar os impostos de importação entre ambas, mas depois chegaram a um acordo em junho para remover algumas das medidas económicas prejudiciais que usaram para se atingir mutuamente. Embora os detalhes da trégua não tenham sido divulgados, o acordo exige que a China relaxe as restrições aos metais de terras raras, minerais críticos necessários para a fabricação de automóveis, robôs, turbinas eólicas, aviões a jato e outras tecnologias. Em troca, os Estados Unidos concordaram em retirar os limites que haviam imposto aos produtos e tecnologias exportados, incluindo etano e peças de aviões.
Também em junho, as tarifas sobre aço e alumínio dobraram para os 50%, uma ordem executiva com que Trump queria “contrariar os países estrangeiros” e os impedissem de “minar a competitividade” das indústrias norte-americanas. Mas as tarifas altas provavelmente aumentarão os custos das empresas norte-americanas que dependem dos metais – como construtores automóveis, fabricantes de aviões, construtoras e perfuradoras de petróleo – e pode tornar mais caros alguns bens de consumo, como a comida enlatada, tão do agrado dos norte-americanos.
O presidente emitiu uma ampla panóplia de outras tarifárias nos últimos meses, incluindo novas taxas sobre semicondutores e produtos farmacêuticos. E também atacou a indústria cinematográfica, dizendo que colocaria uma tarifa de 100% sobre filmes feitos fora dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, alertou a Apple que poderia enfrentar uma tarifa de 25% sobre iPhones fabricados noutros países – o que deu cabo das intenções da mega-empresa em deslocalizar a produção da China para a Índia: a nova ordem é produzir nos Estados Unidos.
Mais recentemente, Trump colocou na mirou os BRICS Brasil, Rússia, Índia, China, Brasil, África do Sul e outros novos aderentes) ameaçando-os de impor uma tarifa adicional de 10% a “qualquer país que se alinhe com as políticas antiamericanas dos BRICS”.
O ponto de vista de Trump parece ser que qualquer défice comercial – quando o valor dos bens que os Estados Unidos importam de um país é maior do que o que exporta para esse país – é mau: os norte-americanos estariam a ser “roubados” pelos outros países. Uma espécie de ‘complot’ internacional e planetário (um todos contra um) que Trump quer reverter: o seu objetivo é tornar as tarifas tão dolorosas que obriguem as empresas a fabricar os seus produtos nos Estados Unidos, o que criará mais empregos e aumentará os salários. Mas Trump, recorda a imprensa norte-americana, também descreveu as tarifas como uma ferramenta para extrair concessões de outros países. O que Trump não diz, nem admite, é que tudo isto irá colocar uma forte pressão inflacionista – que o ‘odiado’ presidente da Reserva Federal, Jerome Powell, vem tentando minimizar através da manutenção das taxas diretoras – algo que o presidente dos Estados Unidos considera abominável e uma espécie de traição pessoal.
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