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Acordo entre EUA e Japão nas tarifas gera dúvidas, mas pode ser mote para a União Europeia

O Japão terá de investir 550 mil milhões de dólares nos EUA, mas 90% dos lucros terão de ser reaplicados na maior economia do mundo, moldes pouco favoráveis para as empresas japonesas. Ainda assim, a tarifa de 15% para o sector automóvel é uma clara vitória.
Japão
A Japanese flag flutters atop the Bank of Japan building in Tokyo May 22, 2015. The Bank of Japan maintained its massive stimulus programme and offered a slightly more upbeat view of the world’s third-largest economy on Friday, as a modest rebound in consumption helped service-sector sentiment improve to a one-year high. REUTERS/Toru Hanai
24 Julho 2025, 07h00

Os EUA anunciaram ter chegado a acordo com o Japão, as Filipinas e a Indonésia quanto às trocas comerciais com cada um destes países, que evitam assim a imposição unilateral de tarifas por Washington. Os bens japoneses passam a pagar 15% de taxa à entrada nos EUA e asseguram investimentos avultados, enquanto os filipinos e indonésios enfrentam 19%, mas há dúvidas quanto à duração dos acordos nestes termos, que podem ser uma indicação do que acontecerá com a União Europeia.

Este é mais um passo na política comercial da administração Trump que tem gerado fricções e incerteza a nível global, com estes países asiáticos a conseguirem chegar a um entendimento antes do prazo imposto por Washington de 1 de agosto. Japão, Indonésia e Filipinas juntam-se assim ao Reino Unido e Vietname como os países com quem os EUA já firmaram acordos comerciais, sendo que a China também viu uma extensão considerável e suspensão da escalada tarifária.

O acordo com Tóquio envolve 550 mil milhões de dólares (469 mil milhões de euros) de investimento japonês na economia norte-americana, sendo que a tarifa de 15% passa a aplicar-se aos veículos produzidos no país. Os construtores japoneses ficam assim numa posição mais vantajosa comparando com o resto do mundo, dada a taxa de 25% que estes bens pagam à entrada nos EUA. E, ao contrário do Reino Unido, esta tarifa não está sujeita a quantidades limitadas.

O sector automóvel japonês disparou nas bolsas com estas notícias, levando a Mazda a valorizar cerca de 17%, a Subaru outros 16% e a Toyota a subir 14%.

Em sentido inverso, os automóveis produzidos nos EUA não serão mais submetidos às rigorosas provas de segurança japonesas, reporta a Gavekal. Ainda assim, o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, negou que o governo nipónico tivesse aceitado reduzir as tarifas que aplica sobre as importações.

Por outro lado, a taxa de 50% sobre o aço e alumínio manter-se-á. É também ainda incerto como serão aplicados os 550 mil milhões de investimento, sendo que este montante corresponderia a um disparo de 70% no investimento direto estrangeiro (IDE) japonês nos EUA. Mais: Trump indicou que 90% dos lucros destes investimentos terão de ser reinvestidos na economia norte-americana.

Segundo a análise da Gavekal, este enquadramento dá “grandes incentivos aos países, incluindo o Japão, para fazerem promessas sonantes com poucas intenções de as cumprir apenas para assegurar acordos preliminares que evitem a imposição de tarifas penalizadoras pelos EUA”. Como tal, a expectativa é que este acordo se revele de pouca duração, pelo menos nestes moldes.

Por outro lado, e num sinal para os restantes países em negociações com os EUA, o sinal dado é que as tarifas acordadas ficarão substancialmente acima dos 10% base. O banco ING vê aqui também um indício de que os responsáveis norte-americanos quererão chegar a acordo antes da data-limite de 1 de agosto, sendo que “incluir os gastos com defesa nas discussões pode prolongar o prazo para chegar a um acordo”.

Outros grandes exportadores asiáticos, neste caso, a Indonésia e as Filipinas, também chegaram a entendimento com Washington, passando a pagar 19% de taxa na alfândega. Para a Indonésia, é um valor substancialmente mais baixo do que os 32% sugeridos no ‘Dia da Libertação’, mas as Filipinas veem uma taxa superior aos 17% iniciais.

No entanto, Trump havia aumentado o nível nas ameaças a Manila, falando em 20% no início do mês, quando prolongou o prazo para 1 de agosto. O governo filipino aceitou ainda a importação de carros americanos sem tarifas e irá aprofundar militarmente os laços com os EUA, embora os detalhes não sejam ainda conhecidos.

UE como o Japão?

Entretanto, e com o acordo com o Japão tratado, a Casa Branca vira as suas atenções para os parceiros europeus, com quem tem vindo a endurecer a sua posição. O “Financial Times” fala num entendimento nos mesmos moldes do japonês, ou seja, que manterá barreiras à entrada, embora num nível mais baixo do que chegou a ser falado.

Caso se confirme, as exportações europeias passariam a pagar 15% de taxa à chegada aos EUA, com algumas exceções para sectores críticos de ambas as economias. O FT fala em aeronaves (a UE preparava-se para impor taxas sobre estes bens, visando claramente a Boeing), bebidas espirituosas (aliviando produtores de bourbon nos EUA e de brandy na Europa) e produtos farmacêuticos.

Também os veículos e componentes ficariam incluídos nos bens a pagar 15% de tarifa, o que representaria uma melhoria considerável para o sector europeu, atualmente sujeito a 25%. A tarifa universal de 10% ficaria incluída neste valor, pelo que os 15% já seriam a tarifa final a aplicar à maioria dos produtos transacionados.

Caso se confirme este acordo, a UE evita a imposição de tarifas de 30% a partir da próxima semana, como havia ameaçado o presidente norte-americano. As notícias apontavam cada vez mais para a possibilidade de Bruxelas ativar a sua ‘bazuca comercial’, o instrumento anti coerção, o que significaria mais fricções na economia mundial.

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