Livro: “Três”

“Ao fundo, as montanhas. O ondular dos cumes em tons de castanho e verde. Não distingo as distâncias, vejo-as como se estivessem umas em cima das outras, por camadas, e não umas atrás das outras. Os tons por cima dos montes do Tibete vão-se esbatendo até ao branco das neves, na última linha de sombras azuis antes das nuvens. Van Gogh teria pintado este velho céu violáceo, mas em nenhum outro lado do mundo podia ser tão azul e a água tão verde. Vejo passar os carros.”

“Três” é o mais recente livro de viagens de Sérgio Brota, onde o autor relata as suas andanças pelo Vietname, China e Tibete e América do Sul (Peru, Bolívia e Chile).

Depois de “Solitude – Pequenas Histórias de Grandes Viagens” (Papiro, 2010) e “O Homem das Solas de Vento” (Alfarroba, 2012), este é o seu terceiro livro e, para já, o mais pessoal e introspetivo. A escrita, mais descomprometida, mas simultaneamente mais poética, foca-se em pequenos pormenores do quotidiano das populações, em breves explicações da História dos países, na descrição das paisagens – incluindo as urbanas – e nos deleites da gastronomia local, mesmo quando esta se caracteriza pela simplicidade.

Este registo parece denotar uma evolução na forma de viajar que, muitas vezes, vem com o tempo (o que é de celebrar), dando mais espaço à contemplação e aos pequenos detalhes –, tornando o leitor companheiro – e, desejavelmente, cúmplice – de viagem do autor, grande apaixonado pelo Oriente.

Como nota, refira-se que consta que Paul Verlaine terá dito de Arthur Rimbaud que este era ‘um homem de solas de vento’ devido à sua alma irrequieta.

Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.