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Bancos e seguradoras estão entre os mais afetados com a crise política em França

As OT francês a 10 anos já se aproximam dos 3,58%, um nível de resistência técnica, para além do qual poderia ocorrer um aumento descontrolado das yields, numa altura em que se prevê que o serviço da dívida se torne a maior rubrica orçamental do Estado até 2027, alerta a XTB.
3 Setembro 2025, 18h12

A XTB desenvolveu uma análise acerca do impacto da crise política francesa nos mercados intitulada “Crise política francesa: o voto de confiança de 8 de setembro, um ponto de viragem decisivo”.

Os bancos e as seguradoras estão entre os mais afetados. O Société Générale e o Crédit Agricole chegaram a cair cerca de 9%.

Recorde-se que o primeiro-ministro francês, François Bayrou, anunciou que, em 8 de setembro, submeterá o seu governo a um voto de confiança na Assembleia Nacional, na sequência da sua declaração de política geral sobre as orientações orçamentais. Se a moção for rejeitada, o que acontece pela primeira vez na Quinta República, o governo será obrigado a demitir-se.

Dado o atual impasse parlamentar, uma dissolução da Assembleia Nacional pareceria então inevitável, aumentando o risco de mergulhar o país no mesmo impasse político e atrasando ainda mais a elaboração do orçamento para 2026.

“O cenário mais esperado pelos mercados continua a ser o de uma rejeição da confiança, que desencadearia a demissão do governo, seguida da dissolução da Assembleia Nacional e de novas eleições”, defende a XTB. No entanto, um tal resultado daria início a um período prolongado de incerteza: seria necessário quase um mês para convocar uma nova Assembleia, seguido de vários dias para formar um governo.

O processo orçamental teria então de começar quase do zero, atrasando perigosamente o calendário orçamental de 2026. Estes atrasos agravariam as tensões políticas e sociais e aumentariam o risco de um “ano branco”, que faria descarrilar a trajetória de redução da dívida da França.

As OT francês a 10 anos já se aproximam dos 3,58%, um nível de resistência técnica, para além do qual poderia ocorrer um aumento descontrolado das yields, numa altura em que se prevê que o serviço da dívida se torne a maior rubrica orçamental do Estado até 2027, alerta a XTB.

“Os bancos e as seguradoras estão entre os mais afetados: o Société Générale e o Crédit Agricole chegaram a cair cerca de 9%, expostos tanto ao risco de taxa de juro (com a subida dos rendimentos a baixar o valor das obrigações soberanas que detêm) como ao risco de crédito (com o aumento das preocupações sobre a capacidade de reembolso do Estado)”, lê-se na nota da corretora.

As empresas de construção e de infraestruturas, mais dependentes da economia nacional também estão sob pressão: Vinci, Bouygues e Saint-Gobain registaram quedas acentuadas. Em contrapartida, os setores de vocação internacional, como o luxo e os cuidados de saúde, mantêm-se resistentes. LVMH, Hermès, L’Oréal, Sanofi e Kering mantiveram-se estáveis, confirmando o seu papel de portos seguros em tempos de instabilidade política e financeira.

Olhando para a posições dos partidos, à esquerda, La France Insoumise (esquerda radical) e Europe Écologie-Les Verts (esquerda verde) deverão, sem surpresa, votar contra a confiança, diz a XTB.

A posição do Partido Socialista continua, no entanto, a ser decisiva. Embora Boris Vallaud, presidente do grupo socialista na Assembleia, e Olivier Faure, primeiro secretário do PS, tenham anunciado a sua oposição, não são de excluir negociações com o Governo. Uma remodelação do Governo com a inclusão de ministros socialistas e a retirada da proposta de supressão de dois feriados poderiam fazer mudar a sua posição, acrescenta a corretora.

À direita, o Rassemblement National encontra-se numa posição delicada. Até agora, tinha-se abstido de derrubar o Governo, não apoiando as moções de censura. No entanto, o voto de confiança tem um peso simbólico muito diferente: apoiar o Governo prejudicaria a sua imagem de defensor dos eleitores das classes média e trabalhadora. “Politicamente insustentável, tal atitude parece estar fora de questão. Por conseguinte, espera-se que o RN vote contra a confiança”, defende a XTB.

Aritmética parlamentar

Dos 577 deputados, pelo menos 264 já estão certos de se oporem ao governo, faltando ainda os 289 votos necessários para lhe retirar a confiança. Se o Partido Socialista se juntar à oposição, o número de votos contra ascenderá a 330, tornando inevitável a queda do executivo. Mesmo a abstenção dos socialistas seria suficiente para fazer cair o governo, uma vez que a maioria necessária passaria a ser de 256 votos. O PS tem, portanto, a chave do escrutínio de 8 de setembro.

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