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Três cotadas portuguesas mais do que duplicaram valor em três anos

E o futuro é prometedor para algumas destas empresas. No caso dos CTT têm um potencial de valorização de 23,6%. BCP e Mota-Engil têm a hipótese de crescer mas a níveis mais baixos (6,45% e 1,83%), assinala o presidente da Maxyield, ao JE.
bolsa bolsas bolsa de Lisboa
15 Setembro 2025, 07h00

Os CTT, Mota-Engil e Banco Comercial Português (BCP), com valorizações de 128%, 315%, e 387% (valores de 12 de setembro) foram as cotadas no índice bolsista português (PSI) que conseguiram mais do que duplicar o seu valor de mercado no espaço de três anos.

E ainda existe potencial para mais crescimento, especialmente para os CTT.

O presidente da Maxyield, Carlos Rodrigues, assinala, baseando-se nos valores do Market Screener referentes a final de agosto, que os CTT têm um “potencial interessante” de valorização de 23,6%. Quanto ao BCP “tem pernas para andar”, com um crescimento que pode chegar aos 6,45%, mas, Carlos Rodrigues, considera que a empresa “encontra-se numa curva mais estreita relativamente à resiliência da sua margem financeira e crescimento” do produto bancário.  Já para a Mota-Engil, refere o presidente da Maxyield, “apresenta indícios de esgotamento” da capacidade de valorização (1,83%).

“A média dos price targets, ou preço-alvo, (estimativas das cotações para um período de 12 meses) no final de Agosto/2025, sendo que os fundamentais destas sociedades perspetiva uma forte desaceleração do potencial de crescimento”, reforça Carlos Rodrigues.

 

Descrição Média dos price target (a) € Cotação atual (a)

Potencial de valorização %
BCP 0,771 0,724 6,45%
Mota-Engil 5,148 5,055 1,83%
CTT 9,08 7,34 23,64%

Fonte: Market Screener, cotações referentes a final de agosto

Sobre os vetores que levaram a que CTT, BCP e Mota-Engil tivessem disparos assinaláveis no seu valor de mercado, o analista da ActivTrades, Henrique Valente, assinala que o crescimento foi impulsionado por “fatores internos específicos de cada uma, como reestruturações, expansão internacional e adaptação a novos segmentos” de negócio.

“Para além disso, beneficiaram de uma fase ascendente do mercado, num contexto de melhoria económica generalizada. No caso do BCP, também se beneficiou de um período de altas taxas de juro, que reforçou a rentabilidade do banco e o tornou mais apelativo para os investidores. Não obstante a melhoria dos fundamentos de cada uma destas empresas, as ações ainda se encontram abaixo dos níveis registados antes da crise da dívida soberana em 2011”, explica Henrique Valente.

Apesar destes crescimentos assinaláveis nos últimos três anos, Carlos Rodrigues lembra que estas mesmas empresas, antes de 2023, tinham as suas cotações “deprimidas” e além disso ou “não acompanhavam o ritmo de evolução do PSI ou então superavam-nos por curta margem.

Fonte: Base de dados da Maxyield construída com base na prestação anual de contas das sociedades do PSI. Valor de 2025 é até final de agosto.

Carlos Rodrigues salienta alguns dos motivos que justificaram as fortes valorizações destas cotadas no PSI.

A começar pelo “grande aumento”, a partir de 2023, dos lucros por ação destas três empresas.

“Este aumento dos lucros é muito acentuado ao nível do BCP e Mota-Engil em 2023 (mais que duplicou relativamente a 2022), tendo continuado em 2024 e se mantém no primeiro semestre de 2025. O crescimento dos lucros por ação dos CTT em 2023 não foi tão acentuado e sofreu uma regressão em 2024 devido a efeito base (receitas não recorrentes)”, assinala Carlos Rodrigues.

Além disso Carlos Rodrigues destaca que estas empresas “apresentam elevados níveis de rentabilidade” a nível de earning yield cujo escoamento coloca o BCP em primeiro lugar, seguindo-se a Mota-Engil e os CTT.

“A rentabilidade dos capitais próprios é também muito elevada com a Mota-Engil em primeiro lugar, seguindo-se os CTT e o BCP, sublinha o presidente da Maxyield.

Outros fatores destacados por Carlos Rodrigues passam por estas serem ‘ações baratas’, tendo em conta o seu PER (cotação/ lucro por ação), e ainda por estas três empresas terem “na sua estrutura acionista importantes investidores internacionais com participações qualificadas, que reforçam a confiança do mercado”. Além disso quer o BCP quer os CTT apresentam um free float superior a 50%, “oferecendo uma forte liquidez às suas ações e proporcionando um peso considerável” no PSI.

Carlos Rodrigues diz ainda que estas três empresas tiveram “uma componente internacional bem-sucedida” a partir de 2023, o que ajudou a se valorizarem em bolsa.

“A partir de 2023 a subsidiária polaca do BCP apresenta níveis “razoáveis” de provisões para cobertura dos riscos com os créditos à habitação em moeda suíça e a partir deste ano passou a apresentar resultados positivos. A atividade dos CTT em Espanha passou a gerar resultados positivos a partir de 2023 ao nível dos negócios de encomendas, expresso e e-commerce (comércio eletrónico). A atividade internacional da Mota-Engil sofreu igualmente um forte impulso a partir de 2023”, explica Carlos Rodrigues.

Outro fator que ajudou estas empresas, na visão de Carlos Rodrigues, passou pela sua política de dividendos que apresenta níveis de pay out no intervalo [35%-50%], “permitindo uma boa dividend yield, sendo que os lucros retidos garantiram aumentos de  capital próprio por ação atribuíveis” aos acionistas.

“A dividend yield média dos exercícios de 2023 e 2024, relativamente ao BCP, CTT e Mota-Engil foi respetivamente de 8%, 4,5% e 5%. Em anos anteriores ao exercício de 2021, o BCP não distribui resultados sendo o valor de 2022 bastante baixo. Em anos anteriores ao exercício de 2020 a Mota-Engil não distribuiu resultados. O regresso à distribuição dos lucros pelo BCP e Mota-Engil influenciaram o seu posicionamento bolsista”, refere Carlos Rodrigues.

A contribuir também para a subida do preço destas ações esteve ainda a relação entre as cotações e o capital próprio por ação.

“Os CTT apresentaram uma relação das cotações com o capital próprio por ação, designada na língua inglesa por price book value (PBV), superior a 1 (um), razão pela qual apresenta o menor acréscimo das cotações relativamente ao final de 2022 e a nível destas três sociedades”, explica Carlos Rodrigues.

Já quanto ao BCP até 2023 (inclusive) apresentou “cotações inferiores ao valor do capital próprio por ação, cuja situação se inverteu a partir de 2024 com a forte valorização da ação”.

No caso da Mota-Engil partiu de um valor negativo do capital próprio em 2020, “tendo beneficiado em 2021 do aumento do capital social e entrada de novo investidor (chinês)”.

A capacidade de exposição aos media foi outro fator a contribuir para a valorização destas empresas. “O BCP e a Mota-Engil têm tido forte exposição positiva relativamente aos média, designadamente com especialização nas áreas de negócios e economia & finanças. Isto vem criando perceções favoráveis junto dos investidores”, refere Carlos Rodrigues.

E as mudanças na gestão executiva foi também outro fator que fez as cotações aumentarem nestes últimos três anos, para o presidente da Maxyield.

“Quer os CTT quer a Mota-Engil, iniciaram este ciclo de crescimento das cotações num contexto de alterações na composição executiva. Estas mudanças e reposicionamentos estratégicos foram bem-sucedidos. O BCP beneficiou da estabilidade existente a nível do seu corporate management”, assinala o presidente da Maxyield.

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