As negociações entre Conservadores e Trabalhistas britânicos com vista à obtenção de uma plataforma comum que sirva para a Câmara dos Comuns aprovar um acordo capaz de ser entre em Bruxelas está preso pela União Aduaneira – que os Trabalhistas querem, mas que um número assinalável de Conservadores rejeita.
As negociações ao mais alto nível entre os dois partidos vão prosseguir esta semana, mas não há evidência de que venham rapidamente a resultar num acordo. Depois de um momento em que tudo parecia estar a correr bem, John McDonnell, dirigente Trabalhista, veio este fim-de-semana arrefecer o ambiente com declarações no sentido contrário.
É que Theresa May quer uma União Aduaneira temporária com a Europa – para deixar as mãos livres ao próximo governo, seja ele qual for, mas os Trabalhistas querem algo de mais sustentado que possa servir às empresas britânicas de âncora permanente.
McDonnell disse que o seu partido quer fazer um acordo o mais rapidamente possível, mas exige uma União Aduaneira permanente para dar estabilidade às empresas, e não apenas um acordo provisório até às próximas eleições. E afirmou mesmo que não confiava na primeira-ministra depois de detalhes das negociações terem sido vertidas para os jornais ao longo do fim-de-semana, num quadro em que os Trabalhistas pretendiam manter a confidencialidade das negociações.
May escreveu um artigo no jornal Sunday Mail pedindo aos Trabalhistas que “coloquem as nossas diferenças de lado por um momento”. Mas os Trabalhistas querem um acordo permanente, dado saberem que vários candidatos à substituição de May não estão de acordo com a União Aduaneira entre o Reino Unido e a União Europeia.
Do lado de Bruxelas não há ainda reações – mas parece evidente que as estruturas comuns não vão aceitar um acordo temporário, que possa ser desfeito em pouco tempo, o que faria as negociações voltarem repentinamente à estaca zero.
McDonnell disse à BBC: “onde estamos no momento é: sim, nós queremos uma União Aduaneira, mas permanente e abrangente e a razão para isso é que as empresas querem segurança não apenas por alguns meses até umas eleições, mas permanentemente”.
McDonnell deixou claro que o Partido Trabalhista precisa de mudanças no acordo de retirada e na declaração política para garantir que os futuros líderes conservadores não podem romper o acordo depois do Brexit.
“Estamos a negociar com a equipa de Theresa May conforme solicitado. Enquanto estamos a fazer isso… nos bastidores, todos os candidatos à liderança estão praticamente ameaçando acabar com qualquer acordo que façamos. Estamos a lidar com um governo muito instável”, disse McDonnell. Mas nos Trabalhistas a vida de Jeremy Corbyn também não é fácil: muitos deputados estão preparados para rejeitar qualquer acordo sem um segundo referendo.
De qualquer modo, é Theresa May quem enfrenta as piores reservas dos deputados: ‘brexiters’ conservadores de linha dura, como Iain Duncan Smith, estão indignados com a perspectiva de um acordo envolvendo uma União Aduaneira, e querem que a primeira-ministra renuncie rapidamente. É provável que May enfrente, segundo os jornais britânicos, e já amanhã, terça-feira, novas movimentações em torno do Comité 1922 para o estabelecimento de um cronograma para a sua saída ou sérios esforços para a remover da liderança do governo e do partido.
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