Sébastien Lecornu, sétimo primeiro-ministro a ser nomeado por Emmanuel Macron, não aguentou um mês no cargo e o presidente francês já aceitou o pedido de demissão, de acordo com informações avançadas pelos media em França. Lecornu deveria apresentar a sua declaração de política geral à Assembleia Nacional francesa na terça-feira, mas em vez disso viu-se obrigado a apresentar a demissão.
Para Sébastien Lecornu, já demissionário, “não se pode ser primeiro-ministro quando as condições não estão reunidas”. “declarou a partir de Matignon, a sede do governo. “Tentei construir um caminho […] em questões que foram alvo de bloqueios”, como o seguro-desemprego e a segurança social para “revitalizar a gestão conjunta” e “construir um roteiro” com o núcleo comum. Não conseguiu, mas declarou: “seria preciso pouco para chegar lá”. Pedindo “mais desinteresse por parte de muitos” e “o apagamento de certos egos”. O ainda primeiro-ministro disse que “algumas coisas podem ser feitas antes de 2027”. “O próprio princípio da construção de um compromisso entre partidos políticos é ser capaz de combinar linhas verdes e levar em conta um certo número de linhas vermelhas”. “Devemos sempre preferir o país ao partido. Devemos saber ouvir os seus apoiantes”, disse.
Para Sébastien Lecornu, “os partidos políticos continuam a adotar uma postura como se todos tivessem maioria absoluta na Assembleia Nacional. Encontrei-me numa situação em que estava disposto a chegar a um acordo, mas cada partido político quer que o outro adote todo o seu programa”, lamenta. “É escolha dos diferentes partidos políticos da oposição de não se juntarem à base comum do governo, mas sim de permitir debates e depois organizar compromissos, sabendo que compromissos não são compromissos. Temos de mudar a nossa mentalidade e não querer aplicar a totalidade do nosso projeto e programa”. “A composição do governo dentro da base comum não era fluida e dava margem ao despertar de alguns apetites partidários, por vezes não alheios com a futura eleição presidencial”.
O agora primeiro-ministro demissionário, que anteriormente ocupava o cargo de ministro da Defesa, tinha sido o escolhido de Macron para suceder a François Bayrou. Lecornu tinha integrado todos os executivos desde 2017. Lecornu, que tomou posse a 9 de setembro, tinha sido o quinto primeiro-ministro no espaço de dois anos. Os dois anteriores – Michel Barnier e François Bayrou – foram demitidos após tentarem aprovar orçamentos para reduzir o défice francês, o mais elevado da zona euro.
O último ato de Sébastien Lecornu como chefe de Governo foi a nomeação de Roland Lescure, um aliado de Emmanuel Macron, como ministro das Finanças. Este ato foi visto como uma proximidade às forças de esquerda no parlamento, antes das novas negociações referentes ao próximo orçamento francês.
Os mercados, como seria de esperar, mostraram rapidamente o seu descontentamento face à persistente crise política: a Bolsa de Valores de Paris caiu 2,02% na abertura. Entre as ações mais afetadas estavam as do BNP Paribas (-5,18%), Crédit Agricole (-4,76%) e Veolia (-4,12%). Ao mesmo tempo, Frankfurt perdeu 0,14%, Londres 0,16%, Milão 0,86% e Lisboa segue a perde 0,17% – depois de ter vindo a ensaiar uma recuperação desde o início de outubro.
Entretanto, o presidente Macron está sob forte pressão para se demitir. Dos dois extremos do espectro político francês, à esquerda e à direita – ambos com forte presença parlamentar – sucedem-se as exigências de que Emmanuel Macron deixe o cargo e abra passagem a eleições presidenciais. Pelo calendário, as eleições só deveriam realizar-se no segundo trimestre de 2027.
O que, por outro lado, parece cada vez mais claro, é que o país não deverá escapar a eleições – e se não forem presidenciais, serão para a Assembleia Nacional. De facto, como salientam os críticos, Macron já não tem mais alternativas: quando foi convidado para primeiro-ministro, Michel Barnier tentou manter-se à tona da tempestade política francesa tentando uma aliança com a extrema-direita de Marine Le Pen e Jordan Bardella – não foi bem-sucedido; o seu sucessor, François Bayrou, tentou promover uma aliança ao centro do espectro político – afinal a ‘zona de conforto’ de Macron, mas também não foi bem-sucedido; finalmente, Sébastien Lecornu mudou de rumo e tratou de engajar o seu gabinete – que acabara de apresentar – aos socialistas, o bloco mais moderado da esquerda. Ao ser igualmente mal-sucedido, as opções de Macron (ou de quem o presidente nomear para primeiro-ministro) estão esgotadas. Resta por isso, dizem quase todos, as eleições.
Convém recordar que quaisquer que elas sejam, presidenciais ou parlamentares, serão em princípio ganhas pela extrema-direita. É precisamente o Rassemblement National (RN) de Le Pen que vem apelar a eleições: “O macronismo está morto. Macron deve agora escolher: dissolução ou renúncia, e rápido!” e acrescenta o pedido de um “regresso às urnas” dos franceses. “A desordem deve acabar “, acrescentou o porta-voz da RN, Sébastien Chenu, que lamenta “um Estado em crise, governos sucessivos, instituições paralisadas e o povo francês abandonado”. Pouco depois, Marine Le Pen insistia, voltando a apelar a Emmanuel Macron para dissolver a Assembleia Nacional. Uma decisão que considerou “absolutamente necessária”. “Estamos no fim da linha, não há solução e não haverá amanhã“, disse, acrescentando que “a única decisão sensata nestas circunstâncias […] é voltar às urnas e que os franceses deem direção ao país. A farsa já dura há tempo a mais”, acrescentou, dizendo que o presidente “colocou o país numa situação terrivelmente complicada”.
A secretária nacional dos Verdes, Marine Tondelier, anunciou que o seu partido convocou um “conselho político de emergência”. “Desde o dia em que foi nomeado, no início de setembro, eu disse que a equação de Sébastien Lecornu era insolúvel. Porque as mesmas causas (um macronista em Matignon enquanto eles perdem as eleições) inevitavelmente levam às mesmas consequências “, afirmou.
Do seu lado, Olivier Faure (PS), secretário-geral do PS francês – e a grande aposta de Lecornu para ter apoio parlamentar suficiente para formar governo, disse que a demissão do primeiro-ministro foi pedida “com dignidade e honra”. “Perguntava-me se ainda havia um gaullista neste país. Havia um”, declarou.
Para o líder do França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, a renúncia do terceiro governo em um ano “é o sintoma do impasse em que a Quinta República inevitavelmente mergulhou: Há uma contradição entre a legitimidade da eleição presidencial e a das eleições legislativas”. E denunciou “a incapacidade do presidente da República de controlar tal situação“. Mélenchon pediu que se “assumisse de frente o cerne do problema, ou seja, o presidente da República e sua legitimidade para continuar a decidir em tais circunstâncias”, reiterando o seu apelo pela demissão de Emmanuel Macron. “Ele é a origem do caos”, declarou, criticando “a determinação do presidente em decidir o oposto do que havia sido dito nas eleições legislativas”.
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