Quando traçámos perspetivas para o ano que agora termina, identificámos um conjunto de “forças económicas” e “forças disruptivas” que marcariam a década seguinte. Estas verdades incontornáveis, como lhes chamámos, descrevem, entre outras realidades, um crescimento económico lento, baixas taxas de inflação e juros, e um reforço das ruturas geradas pelo populismo político e pelas pressões climáticas.
Passado um ano, estas verdades mantêm-se inalteradas e permanecem a grande maioria das forças que, este ano, condicionaram a obtenção do desejado retorno pelos investidores: as disruptivas a impactar os modelos de negócio tradicionais e as económicas a erodir o valor dos próprios retornos.
Entretanto, a Fed reverteu caminho e voltou a uma política monetária acomodatícia. Na Europa, prosseguiu-se o corte de taxas e renovou-se o programa de compra de ativos. Na China, as taxas também desceram e até o Banco de Inglaterra moderou posições e considera cortá-las. Esta flexibilização deve manter-se na maioria das grandes economias.
No caso americano, o crescimento subjacente da economia não foi suficiente para compensar os impactos adversos que resultaram das guerras comerciais e também elas se deverão manter. Esta verdade incontornável está, por sua vez, relacionada com o aumento da pressão que o populismo político coloca nos mercados. Considerando a proximidade de eleições nos EUA e as disputas entre dois populistas no Reino Unido, esta pressão não tende a abrandar.
Os investidores viram também um aumento das pressões colocadas pelas alterações climáticas, quer nos protestos públicos, quer nas propostas ambientais que se multiplicaram nas assembleias de acionistas, e que continuarão a ampliar-se à medida que as diretrizes ambientais nortearem mais investidores.
Perto do limite
Neste contexto, a questão que se coloca é se os bancos centrais – com as suas políticas monetárias – podem fazer mais para dinamizar as economias e os mercados.
A Fed tem margem para mais cortes de taxas, mas os mercados estão já a descontar esta flexibilização adicional. Na China, também há espaço para cortes adicionais. Na Europa, Mario Draghi deixou claro, na sua despedida do BCE, que fez tudo para apoiar o crescimento, e no Japão já se terá alcançado o limite, com a flexibilização a chegar a áreas – como os fundos de investimento imobiliário – que outros países nem sequer põem em cima da mesa.
Há ainda uma vertente inexplorada, a da teoria monetária moderna, que defende o financiamento dos gastos públicos pelos bancos centrais (em vez da compra de ativos financeiros), o que injetaria dinheiro diretamente na economia e, sem dúvida, alavancaria a atividade e principalmente a inflação.
Este inédito caminho seria mais um passo para atingir os limites das capacidades da política monetária. Uma vez atingidos, as pressões macro podem tornar-se menos relevantes. E esta transição “de macro para micro”, que já fazia parte das nossas visões para 2019, deverá ganhar peso à medida que o tempo avança.