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Politóloga aponta ao Chega “vocação para impedir que a direita moderada chegue ao poder”

Marina Costa Lobo apontou acordo para viabilizar o governo dos Açores como um “erro estratégico” de Rui Rio. No debate “Democracias Liberais e os seus Inimigos”, promovido pelo Instituto + Liberdade e que contou com Miguel Poiares Maduro e Bruno Maçães, a investigadora universitária disse que aproximação ao Chega vai afastar eleitores do PSD.
António Cotrim/LUSA
13 Fevereiro 2021, 16h18

A politóloga Marina Costa Lobo apontou o entendimento com o Chega para viabilizar o governo regional dos Açores como um “erro estratégico de Rui Rio”, na medida em que “muitos eleitores centristas dificilmente votarão num PSD que possa fazer acordos de governo” com o partido liderado por André Ventura. “O Chega tem vocação para impedir que a direita moderada chegue ao poder”, sentenciou a investigadora do Instituto de Ciências Sociais no debate “Democracias Liberais e os seus Inimigos”, promovido neste sábado pelo Instituto + Liberdade, dirigido pelo ex-presidente da Iniciativa Liberal, Carlos Guimarães Pinto, que arrancou a sua atividade na véspera.

Contrariando uma afirmação da historiadora Maria de Fátima Bonifácio, para quem o Chega “permite a livre expressão de quem não se revê no socialismo”, Marina Costa Lobo enumerou momentos em que a “direita descomplexada” protagonizada por Paulo Portas, Durão Barroso ou Pedro Passos Coelho apresentou alternativas políticas sem enveredar pelo discurso “racista, ultraliberal e antissistema” do partido fundado por André Ventura.

Durante o debate com o antigo ministro adjunto Miguel Poiares Maduro e o antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus Bruno Maçães, ambos membros do Governo de Passos Coelho, a politóloga defendeu que a “geringonça de direita” que sustenta o executivo do social-democrata José Manuel Bolieiro nos Açores não se pode comparar com aquela que existiu na anterior legislatura. Isto porque, em sua opinião, o “cordão sanitário” em relação ao PCP e ao Bloco de Esquerda (e forças políticas que o antecederam) durou as décadas suficientes para dar confiança nos eleitores quanto ao posicionamento do PS.

“Os partidos centrais não podem dar estar muito distantes, pois é preciso que estejam próximos para permitir a mudança do eleitorado centrista, que é maioritário”, disse a politóloga, antecipando que a aproximação ao Chega poderá afastar do PSD muitos descontentes com a governação de António Costa.

Menos interessados em falar desse tema, ao ponto de Bruno Maçães confessar que está “pouco interessado nas aventuras de Rui Rio e André Ventura”, os outros participantes no debate divergiram no retrato que fazem dos inimigos das democracias liberais. Poiares Maduro destacou a forma como a China “tirou milhões de pessoas da pobreza e criou uma classe média sem ser um regime democrático” e alertou que em todo o mundo “a polarização e radicalização leva a que a política esteja cada vez mais bloqueada”. Enquanto isso, mesmo admitindo que as soluções são diferentes, “não devemos entender que a luta pela liberdade só acontece na Europa e nos Estados Unidos”.

Numa ótica mais conjuntural, Poiares Maduro alertou para as “consequências gravosas” para o futuro do país de “estarmos a deixar desprotegidos os sectores da atividade económica proibidos de funcionar em função do confinamento”.

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