Pegar no balde, na tesoura, nas lu vas. É tempo de por mão à obra. São dez da manhã e estamos na Quinta das Carvalhas, bem no coração do Douro. Do outro lado do rio fica a vila do Pinhão, e a Quinta das Carvalhas é a propriedade ex-libris da Real Companhia Velha, a casa fundada ainda no tempo do Marquês de Pombal com a delimitação da mais antiga região demarcada do mundo. As referências à propriedade datam, mais ou menos, da mesma altura.
É, pois, tempo de escolher os melhores cachos, apanhar as uvas e encher os baldes. Não se pre ocupe se, ao seu lado, estiver uma sexagenária a trabalhar ao do bro da velocidade. Afinal, ela es tá habituada, você não. Aproveite antes para perceber melhor as vinhas e as diferentes castas, aprender a diferenciar uma Sousão de uma Touriga Nacional, por exemplo. A Quinta das Carvalhas tem cerca de 120 hectares de vinha (ninguém espera que faça a vindima completa) e, com sorte, pode admirar as magníficas vinhas velhas da propriedade, algumas com a bonita idade de um século na companhia de Álvaro Marinho, o viticultor e verdadeira enciclopédia da vinha.
Quando faltarem 15 minutos para a uma, é tempo de subir à famosa casa redonda, edificação sui generis no topo da Quinta, a 500 metros de altitude e com uma vista de 360 graus sobre o vale. O almoço é “à vindima”: feijoada à transmontana acompanhada por vinhos da RCV: branco, tinto e Porto. De tarde, visita-se a adega (que fica noutra quinta, a Casa da Granja), seleciona-se as uvas apanhadas, na mesa de escolha, e participa-se numa lagarada, a típica pisa a pé das uvas. De regresso à Quinta das Carvalhas, uma prova de vinhos comentada é o final em beleza para um longo dia passado no campo a aprender como se faz um bom vinho.
Do outro lado do Rio Douro, mesmo em frente às Carvalhas, encontramos a Quinta de la Rosa, que também oferece um programa de vindimas, mas um pouco di ferente.
O programa da de la Rosa é diferente desde logo porque não in clui a apanha da uva. Começa mais tarde, cerca das 16H00, com uma visita guiada à bonita adega da quinta e ao armazém de envelhecimento da propriedade gerida pelos Bergqvist desde 1906. Segue-se uma prova de vinhos na recém inaugurada loja e sala de provas, mas cuidado porque, depois, há que trilhar o “Vale do Inferno”. Construída antes da Primeira Guerra Mundial e com as pa redes de xisto mais altas de todo o Douro, esta parcela de vinha foi um dos grandes postais en viados para a classificação do Douro como Património da Humanidade.
Às 18h30, é tempo de tomar um aperitivo – Porto Tónico, naturalmente – antes do jantar, porque depois, às 21h00, tem início o ponto alto do programa: uma la garada noturna, tal como se fazia antigamente.
A Quinta de la Rosa oferece ainda a opção de enoturismo, com dez quartos e quatro suites e duas casas independentes com piscina privada. A propósito, a vis ta da piscina comum é das mais bonitas do Douro, pelo que é uma excelente opção para pernoitar na região.
Setembro é mês de vindimas em Portugal, uma festa que ocorre de norte a sul do país e à qual inúmeros produtores de vinho associam hoje soluções de vindimas, mais ou menos ‘à la carte’, para satisfazer um número crescente de enófilos à procura de entrar mais neste mundo e ter um contacto direto com a produção de vinhos.
Demos aqui dois exemplos a norte, no Douro, mas podíamos com a mesma facilidade escolher dois grandes produtores a sul, na segunda região vínica do país. Podíamos igualmente escolher a Herdade das Servas e a Herdade do Esporão, onde o dia começa às dez da manhã, com um café de boas-vindas no alpendre, junto às vinhas berço de néctares como o Esporão Reserva ou o Private Selection. A equipa de agricultura co manda as hostes a partir daqui e todo o trabalho de vindima é uma oportunidade única para explorar as tradições e um saber secular. Ao meio dia, o calor aperta tanto que o melhor é visitar a ade ga e as caves que, no Esporão, fi cam a uns incríveis 30 metros de profundidade. Um refresco a abrir o apetite para o menu enogastronómico preparado pelo chef Pedro Pena Bastos, do restaurante Esporão – bem harmonizado com os vinhos da Herdade.
Um pouco mais acima, em Estremoz, a Herdade das Servas substitui a vindima pela pisa a pé, que aqui tem a particularidade de ser feita em lagares de mármore maciço – da região, naturalmente. Antes, ainda, a participação na me sa de escolha permite aprender a selecionar as melhores uvas, e o programa não estaria completo sem uma prova de vinhos da herdade e um almoço de vindimas, a cargo da chef Maria da Fé, que tem nome de fadista mas alma de cozinheira.
Viseu, no Dão, é um belo exemplo de associativismo e a ini ciativa organizada pela cidade congrega muitas quintas à sua vol ta. É o caso da Quinta de Lemos, que abre as suas portas a quem quiser participar nas vindimas e, além disso, no dia do município e de São Mateus – 21 de se tembro – o enólogo da quinta e o chef Hugo Rocha do restaurante Mesa de Lemos – um dos grandes do país – participam num ‘showcooking’ conjunto e de harmonização.
Escolhas não faltam e este ano até temos sorte, porque a vindima, ao sabor do tempo, prolonga-se até outubro.
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