A Comissão Nacional de Trabalhadores do Novo Banco (CNT) pediu, em setembro do ano passado, uma audiência em Plenário de Comissão Parlamentar, sobre o futuro do banco e dos seus 4.909 trabalhadores. A audiência realizou-se hoje, com os deputados Eduardo Teixeira do PSD, Nuno Sá do PS, José Soeiro do BE e Duarte Alves do PCP.
Na intervenção o representante da Comissão de Trabalhadores alertou que Novo Banco poderá reduzir em 1.500 os trabalhadores, ou seja, quase um terço do atual quadro de pessoal.
“Para 2021, também, fruto da atual conjuntura pandémica e consequente agravamento da economia a nível global, será, na nossa opinião, muito difícil atingir os objetivos definidos no Plano de reestruturação estabelecido com a Comissão Europeia no final de 2017, estando previsto, caso os mesmos não sejam renegociados, como o próprio acordo prevê, em caso de uma contingência de força maior, que seja alheia ao controlo do Banco, encerramentos adicionais de Balcões e despedimentos de cerca de 1.500 trabalhadores”, diz a Comissão de Trabalhadores.
“A Administração do NB está a ir mais longe que os objetivos acordados com a DGComp, uma vez que estes previam que em 2021 o Banco deveria ter 400 balcões e 4.909 trabalhadores, objetivos já atingidos e ultrapassados em 2019”, aponta a entidade que representa os trabalhadores do banco liderado por António Ramalho.
A Comissão de Trabalhadores revela que “no entanto, sabemos que o acordo prevê reduções adicionais, caso não sejam cumpridos os objetivos de rentabilidade e cost-income em 2019, 2020 e 2021, ano definido como o limite para a concretização do plano de reestruturação. Como em 2019 esses objetivos foram atingidos não houve lugar a
penalizações adicionais”.
No entanto os objetivos de rentabilidade e cost-to-income podem estar comprometidos com o atual contexto de crise pandémica.
Na sua intervenção final, a Comissão Nacional de Trabalhadores do banco que nasceu da resolução do BES, alertou para o “elevado risco de vir a acontecer no Novo Banco mais um plano de reestruturação impiedoso, que poderá culminar com mais um processo de rescisões pouco ou nada amigáveis, ou até mesmo como um despedimento colectivo”.
O representante dos trabalhadores do banco revelou que “muito recentemente fomos informados pelo presidente da comissão executiva do Novo Banco, que está a ser desenhado um banco de futuro e que será muito mais pequeno e com menos pessoas. Uma vez que o banco tem de ter em linha de conta as alterações correspondentes no mercado. Tais como passivos não remunerados devido às baixas taxas de juros, a digitalização crescente, o não aumento de comissões e a tudo isto acresce o contexto Covid-19 que terá consequências profundas no desenvolvimento da actividade e no comportamento dos consumidores”.
“Estas são as razões que a administração do banco está a invocar para continuar a reduzir postos de trabalho”, refere o representante da Comissão de Trabalhadores.
Recorda-se em 2019 o Novo Banco solicitou e obteve autorização do Ministério do Trabalho para alargar a 310 trabalhadores o limite previsto para as cessações por mútuo acordo entre 8 de agosto de 2019 e 31 de dezembro de 2021.
“A nossa preocupação é que o banco só está preocupado com a rentabilidade que quer dar aos acionistas norte-americanos”, considera o representante dos trabalhadores que diz que “vivemos em reestruturações permanente desde há seis anos e o método passou sempre por fechar balcões e dispensar trabalhadores. Contudo essas reestruturações não se têm mostrado eficazes pois os prejuízos cada vez são maiores, o negócio mais reduzido e os trabalhadores e contribuintes é que são os sacrificados”, disse o representante da CNT.
O mesmo responsável pela comissão de trabalhadores lembrou que o Novo Banco já fechou 314 balcões e reduziu 3.229 trabalhadores. “Parece que nos vai ser apresentado mais um plano de reestruturação novamente sustentado na redução de custos feita à custa da redução sistemática das condições dos trabalhadores e dos postos de trabalho”, disse.
A Comissão de Trabalhadores lamenta não ter sido envolvida no plano em curso. “Não iremos permitir que seja utilizado o mobbing e o assédio moral”, avisa o representante dos trabalhadores do Novo Banco que adianta que “queremos que o plano de optimização e redimensionamento esteja assente no respeito pelos valores humanos e sociais”.
“Os planos que nos têm sido apresentado assentam sempre no cost esquecendo o income“, aponta ainda a CNT do Novo Banco, lembrando que a instituição financeira tem uma quota de mais de 16% no mercado de PME’s, mais de 19% das operações de Trade Finance, “tendo sido eleito o melhor banco português nesta área de negócios”. “Demonstrou agora de novo neste estado de pandemia, que continua a ser o principal parceiro das empresas, ao
colocar quase 50% da linha de apoio Covid-19 junto dos seus clientes”, sublinha a Comissão de Trabalhadores.
A mesma entidade defende a importância do banco na manutenção no apoio à economia que “continua a ser vital, pelo que, consideramos que o Novo Banco não deve ser usado como arma de oportunismos e de táticas políticas”.
Paralelamente às críticas avançadas no Parlamento à gestão do Novo Banco, a Comissão de Trabalhadores reconhece que “esta permanente guerrilha mediática e política, está a gerar nos clientes um clima de desconfiança e está a prejudicar a atividade corrente e a recuperação económica do Banco. Todos sabemos que o negócio bancário
assenta na confiança, pelo que se esta acabar, também se acaba o negócio”.
Na apresentação inicial a Comissão de Trabalhadores não poupou críticas também à administração anterior do banco liderada por Eduardo Stock da Cunha, dizendo que “não só não conseguiu vender o banco, como foi o responsável por reduzir 1.000 postos de trabalho e por querer levar a cabo o maior despedimento coletivo alguma vez realizado na banca portuguesa, cerca de 500 pessoas”, que “só não se concretizou, pela nossa intensa luta, pela denúncia feita pela comunicação social e sobretudo pela pressão de quase todos os grupos parlamentares e
que levou inclusivamente esta Comissão, a ouvir a Administração, o Fundo de Resolução e a Comissão de Trabalhadores”.
A CNT diz ainda que “infelizmente, não se evitou na sua totalidade, pois 69 trabalhadores foram alvo do
despedimento coletivo, do qual, passados quatro anos, ainda se arrasta nos tribunais o processo de impugnação apresentado por 33 trabalhadores, não tendo havido até agora, qualquer decisão na primeira instância.
“A nossa grande preocupação é a manutenção dos postos de trabalho de quase 4.500 trabalhadores e com os cerca de 6.600 pensionistas do Fundo de Pensões dos Trabalhadores do Novo Banco, que não podem continuar a ser postos em causa por discursos políticos demasiado abrasivos, que depois de projetados para a comunicação social,
são interpretados da pior forma quer pelos cidadãos contribuintes, quer pelos clientes e pelos trabalhadores, criando sempre muito ruído, dúvidas, incertezas e sobretudo muita desconfiança. Apelamos e pretendemos sensibilizar para
a moderação no tratamento deste tema, por todas os factos e razões que acabamos de enunciar”, defende a CNT
“Ricardo Salgado e sua companhia, ainda não foram julgados, os trabalhadores do Novo Banco, há muito parecemos estar condenados”, remata o representante da comissão dos trabalhadores do banco que nasceu da resolução do BES.
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