A qualidade dos recursos humanos, a localização estratégica de Portugal, as boas redes de telecomunicações e até mesmo o clima e a segurança são alguns dos motivos apontados pelas empresas, nacionais e internacionais, que optaram por instalar em Portugal centros de competências em tecnologias de informação. Prestam serviços partilhados dentro de grupos, fazem investigação e desenvolvimento, fazem outsourcing de processos, ou de tecnologias.
Portugal apresenta mais vantagens que desvantagens enquanto destino para instalar centros de serviços tecnológicos, garante Paulo Janela Santos, responsável do centro de serviços tecnológicos de Évora da Capgemini Portugal. No entanto, ainda não se pode falar de um ecossistema de serviços partilhados em Portugal, porque apesar de “existir um número considerável de centros, de inúmeras entidades diferentes, estes não se relacionam entre si”, acrescenta.
“Por forma a captar investimento nesta área, urge posicionar Portugal no radar dos países que procuram externalizar serviços em modelo de nearshoring”, afirma Sérgio de Campos Moraes, diretor-geral da SIBS Processos. Sendo um país interessante, “Portugal pode tornar-se mais atrativo se melhorarem as condições para a empregabilidade (…) e se existirem mais incentivos públicos e regionais de atração de investimento nesta área, como existe por exemplo na Polónia e Eslováquia”, acrescenta.
Sérgio de Campos Moraes recorda que, segundo a experiência de Patricia Cody-Otero, uma especialista da Gartner para estas temáticas, “para o nearshoring português progredir nos mercados internacionais é necessária liderança do governo. Se for de facto uma área na qual o país quer investir, ressalva”. De acordo com a mesma responsável, “torna-se assim importante definir o que o setor deve ser e onde deve focar-se. E esses aspetos devem ter o suporte do Estado”.
Os centros de competências acabam por ser “um caminho para o desenvolvimento de Portugal e para a criação de empregos qualificados e com capacidade de acrescentar valor” ao mesmo tempo que “se promovem as qualificações de talentos portugueses e se criam oportunidades e desafios muito aliciantes também para os recém-licenciados”, assinala José Oliveira, CEO da BI4All.
Apesar de ainda existir, Carlos Coutinho da Silva, CEO da Cleverti, congratula-se que se esteja a atenuar a “falta de atuação conjunta das empresas portuguesas no âmbito do nearshoring”.
Vantagens em múltiplas dimensões
“Portugal está, em muitos aspetos, na crista da onda e o nearshoring tem acompanhado esta tendência com um número crescente de empresas (europeias e não só) a equacionar a expansão das suas equipas a partir do nosso país”, explica Carlos Coutinho da Silva.
“Portugal deve assumir-se como um destino de excelência para a instalação de centros de competências e de serviços por reunir um conjunto de caraterísticas ímpares, tendo a qualidade das infraestruturas nacionais sido diversas vezes referida como um fator de competitividade também ele de excelência”, acrescenta Sérgio de Campos Moraes. A SIBS Processos possui dois centros de serviços em Portugal Continental a partir dos quais presta serviços também para Espanha e Angola.
“Portugal é muito competitivo em dimensões-chave como a das competências (profissionais altamente qualificados e com domínio de softs kills indispensáveis) a dos custos de contexto (comparando muito positivamente com a grande maioria dos países do mercado de nearshore), a das Infraestruturas de comunicação (de qualidade e resiliência de topo) e a do ambiente geral do país (cuja segurança e estabilidade social são cada vez mais valorizadas, e ainda os quadros legal e regulatório nos que estamos inseridos em sede da UE”. Esta síntese é da autoria de Guilherme Ramos Pereira, diretor de desenvolvimento de negócio da HCCM – Outsourcing Investment, empresa que opera nas áreas de Business Process Outsourcing e consultoria IT.
A localização estratégica de Portugal torna o país numa opção cada vez mais viável para a instalação de centros de competência e prestação de serviços de TI para todo o mundo. “Tem uma proximidade cultural e geográfica com outros países europeus, integra a UE e a Zona Euro” e, entre outras mais-valias apresenta “um ambiente político-social estável”, defende o CEO da Cleverti, prestador nacional de serviços de TI em nearshoring.
Valor competitivo
A escolha de Portugal deve-se a fatores que vão desde as elevadas competências e qualidade técnica das equipas, às capacidades linguísticas, à flexibilidade, adaptação e excelente capacidade do tempo de resposta, bem como o valor competitivo face a outros países, detalha José Oliveira, da BI4All.
“A experiência, qualidade e competitividade das equipas tanto técnicas como de desenvolvimento do negócio” são apontadas por Filipe Esteves, diretor-geral da agap2IT, que detém dois centros de competência (Lisboa e Porto) que prestam serviços de desenvolvimento e suporte a nível aplicacional.
A qualidade das instituições de investigação portuguesas e a qualificação dos recursos humanos, são algumas das vantagens apontadas por Nelson Pereira, CTO da Noesis.
Paulo Janela Santos acrescenta ainda que “estamos na vanguarda da criação de algumas das soluções mais inovadoras e disruptivas à escala mundial e conseguimos praticar preços muito competitivos para a grande maioria dos mercados estrangeiros”.
Outra vantagem apontada por José Oliveira, são as infraestruturas e comunicações, como a cobertura de banda larga e as redes de nova geração bem como no incentivo à inovação, investigação e desenvolvimento, o que nos permite ter uma oferta de serviços bastante competitivas.
Em matéria de infraestruturas, Filipe Esteves acrescenta ainda os aeroportos, bem servidos de rotas aéreas diretas e próximos dos centros de competência.
Bruno Mota, sócio fundador da Bold Internacional, valoriza as constantes melhorias, com “novos espaços vocacionados para nichos”. É o caso de cidades que têm zonas já segmentadas para o sector tecnológico. A Bold Internacional tem cinco centros de competências vocacionados para a mobilidade, estratégia digital, administração de sistemas, entre outros.
O rol de vantagens não poderia estar completa sem o factor “Sol” e luminosidade a que acresce a cada vez maior visibilidade a nível internacional, motivada pela promoção do país enquanto destino turístico.
Desvantagens reduzidas
Na balança entre os prós e contras do setor, são poucas as desvantagens apontadas pelos responsáveis pelos centros de competências contactadas. Acima de tudo as queixas prendem-se com a pouca oferta de engenheiros informáticos e semelhantes.
“É notória atualmente a falta de recursos humanos para fazer face às necessidades dos mercados deste setor”, diz o CEO da Cleverti. “E, ainda por cima tem tendência para sair”. Portugal “ainda não tem capacidade suficiente para reter o talento português, deixando muitas vezes bons profissionais irem trabalhar para multinacionais estrangeiras”, lamenta Nelson Pereira, da Noesis.
Também Paulo Janela Santos considera que “o rácio entre a oferta e procura de recursos qualificados, certificados e também com as competências e formação em TI continua a ser demasiado desequilibrado para as exportações das organizações”.
Outro contra apontado por alguns dos profissionais contactados tem a ver com a elevada complexidade fiscal e burocrática, que pode afastar empresas potencialmente interessadas em prestar serviços a partir de Portugal.
Guilherme Ramos Pereira refere que “importa endereçar o tema dos custos fiscais para as empresas e trabalhadores considerando que os países concorrentes, essencialmente do leste da europa, atuam empenhadamente na captação de investimento e de recursos através de políticas fiscais muito atrativas”.
Carlos Coutinho acrescenta que “sendo competitivo face aos países de origem, Portugal tem menos recursos e preços mais elevados que a concorrência direta” (Polónia, Bulgária, República Checa ou Ucrânia), o que se torna uma grande desvantagem.
No entanto, Nelson Pereira aponta para a necessidade de “termos capacidade de nos distanciarmos dos modelos deste género que existem na Ásia e na Europa de leste, onde é apresentada uma proposta de valor baseada em serviços low cost. Em Portugal o investimento passa por impulsionar o potencial dos nossos profissionais junto de qualquer cliente em qualquer país”.
Finalmente Bruno Mota reclama mais atenção ao financiamento: “Precisamos de negócios rentáveis que nos permitam investir em I&D de forma a garantir que as soluções que os centros de competência apresentam estejam realmente na vanguarda da tecnologia”.
Oportunidades para o talento português
A maior oportunidade do setor passa pela aposta na inovação, mas mais do que isso “em tornar as pessoas cada vez mais inovadoras”, explica Nelson Pereira, CTO da Noesis. “É importante que se otimize ainda mais o trinómio universidades-clientes-centros de competência, aproximando assim os mercados das escolas e banalizando o desenvolvimento orientado para as necessidades”.
Os centros de serviços em nearshore são também uma oportunidade para o talento português. “Portugal tem uma elevada percentagem de profissionais na área das TI, com uma elevada capacidade de adaptação e utilização de novas tecnologias, assevera José Oliveira. A BI4All, fornecedor de soluções de BI, procura trabalhar em estreita ligação com os clientes e criou um conceito de um centro de nearshore que permite a transferência de processos de negócios e de projetos.
Por outro lado, Paulo Janela Santos considera que os centros de nearshoring “são uma oportunidade para o aumento das exportações, em particular no que respeita à prestação de serviços especializados sem que se assista à “fuga de talento” em busca de melhores oportunidades, remunerações e experiências desafiadoras”.
Enquanto Paulo Moraes assinala que “o crescimento crescente na modernização e simplificação administrativa, a forte aposta governamental nas tecnologias de informação e o surgimento crescente de consultoras em outsourcing no mercado nacional, são algumas das oportunidades que as empresas do setor devem aproveitar para se posicionar no mercado internacional.
“Portugal tem muito do que é preciso para conquistar a confiança dos países europeus e não só como um destino de excelência para o nearshore”, assevera Bruno Mota.
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