O Partido Comunista Português (PCP) comemora este sábado 100 anos de existência. Em entrevista ao Jornal Económico, o dirigente comunista Paulo Raimundo, que integra a comissão política e do secretariado do PCP, fala sobre a longevidade do partido, em contraciclo com as restantes forças comunistas na Europa que se tornaram residuais ou se extinguiram. “A razão da ‘longevidade’ do PCP reside, a par do seu projeto político e ideológico, na sua profunda ligação aos trabalhadores e ao povo”, diz.
Olhando para os partidos comunistas da Europa, o PCP é o partido que mais resiste e que mais votos consegue. O que explica a longevidade do PCP?
A história e percursos dos diferentes partidos comunistas na Europa e no mundo, tendo naturalmente elementos em comum, são determinados a partir das suas próprias experiências, história, cultura e características de cada povo e os processos de luta desenvolvidos ou em desenvolvimento. A resistência e a influência dos diferentes partidos comunistas não podem nem devem ser medidos tendo como único elemento de aferição a sua expressão eleitoral. A razão da “longevidade” do PCP reside, a par do seu projeto político e ideológico, na sua profunda ligação aos trabalhadores e ao povo, aos seus anseios e direitos, independentemente do momento histórico e situação concreta.
Em 100 anos de história, quais foram os principais desafios que o PCP enfrentou e que desafios tem pela frente?
São 100 anos de vida e luta profundamente ligados à realidade do país, dos trabalhadores e do povo. Da mesma forma que não há nenhuma conquista dos trabalhadores e do povo à qual o PCP não esteja profundamente ligado e associado, também os desafios que os trabalhadores e o povo enfrentaram ao longo destes 100 anos, constituíram desafios para o PCP. Desde logo o desafio de fazer frente ao fascismo, na dura vida clandestina, a luta pelos direitos e pela liberdade; o desafio da dinamização da luta e da elevação da consciência social e política das massas, elemento estrutural para concretizar a revolução e as suas conquistas; o desafio de defender essas mesmas conquistas e valores constitucionalmente consagrados face a um processo contra revolucionário que rapidamente se iniciou após o 25 de Abril; o desafio de lutar contra a política de direita e o roubo de direitos e salários. O desafio de lutar por uma alternativa patriótica e de esquerda ao serviço dos trabalhadores, do povo e do país. Grandes desafios que se concretizam e desenvolvem em lutas, ações e iniciativas concretas.
Se o PCP fosse Governo, o que faria diferente do atual Governo do PS e dos anteriores Governos do PSD e CDS e o quais seriam as suas principais áreas de atuação?
O país está perante o desafio, necessidade e urgência de levar por diante a rutura com a política de direita, a concretização da política alternativa patriótica e de esquerda e de um governo que a concretize, elementos fundamentais para assegurar o presente e o futuro do país. Se dúvidas houvessem sobre esta necessidade, a situação decorrente da epidemia veio revelar drasticamente as fragilidades e os problemas estruturais que enfrentamos. Uma política e um governo que não serão possíveis apenas com o PCP, que reclama a convergência, ação, envolvimento de muitos democratas e patriotas, mas impossíveis sem o PCP. Uma política que o PCP pudesse determinar nos seus eixos essenciais seria uma garantia que os problemas estruturais que enfrentamos não teriam atingido a atual dimensão. Por outro lado, aspetos que são estruturantes, teriam assumido toda a centralidade e progresso e não uma ação de retrocesso como ao longo de anos e com sucessivos governos se verificou. Disso são exemplo os ataques aos trabalhadores seus direitos e salários; o desinvestimento propositado nos serviços públicos como destaque para a saúde e educação; a entrega ao sector privado de empresas e sectores estratégicos ou a opção de submissão do país aos grandes interesses económicos e aos ditames da UE. O país tem recursos, meios e condições para avançar e responder às necessidades dos trabalhadores e das populações. O que falta é uma política e um governo com a coragem para a concretizar. É nesse projeto que o PCP está empenhado.
Como é que o PCP encara o futuro, numa altura em que tem vindo a perder força eleitoral e assiste a uma diminuição do número de militantes?
O PCP encara o futuro com a consigna que adotou para as comemorações do seu centenário – “o futuro tem Partido”. Os trabalhadores, o povo e o país podem ter confiança, tal como a tiveram no passado, tal como demonstramos no presente, que não só o PCP cá estará no futuro, como nesse futuro haverá um PCP determinado e convicto em concretizar o seu projeto, que é o projeto dos e ao serviço dos trabalhadores, do povo e do país, o projeto de futuro. O PCP cá está e estará para enfrentar todas as lutas nas diversas frentes – social, económica e ou institucional –, com a mesma determinação e confiança de quem não pode nem quer abdicar da sua profunda ligação aos trabalhadores ao povo e à sua realidade. Enfrentámos nestes 100 anos de vida momentos muito difíceis, ataques brutais, altos e baixos, com mais ou menos influência e capacidade, em todos estes momentos foi na ligação às massas que o PCP encontrou sempre as soluções para continuar. Foi nas empresas, locais de trabalho e na luta das populações que vieram, tal como hoje acontece, os militantes, ativistas e dirigentes do Partido. Assim foi, assim o é hoje, assim será no futuro.
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