Às primeiras horas da manhã, militares de vários ramos ocuparam pontos fundamentais da capital portuguesa, com o objetivo de derrubar o regime do Estado Novo. Os sinais de código para dar o arranque das operações – canções de Paulo de Carvalho e Zeca Afonso – foram transmitidos através da rádio nas horas anteriores.
A reação do regime foi lenta. O presidente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano, refugiou-se no Quartel do Carmo, partindo depois em direção ao exílio. Nas horas seguintes foi criada a Junta de Salvação Nacional.
Durante o dia, a população de Lisboa foi-se juntando aos militares. A certa altura, uma vendedora de flores começou a distribuir cravos. Os soldados enfiavam o pé do seu cravo no cano da espingarda e os civis punham a flor ao peito (por isso se chama ao 25 de abril de 74 a “Revolução dos Cravos”).
As mudanças trouxeram alterações profundas na organização social e económica do país. Um ano depois, os portugueses votaram pela primeira vez em liberdade desde há muitas décadas.
A democratização do país sempre foi um dos principais. objetivos. Em dois anos aconteceram atos eleitorais que elegeram deputados para a Assembleia Constituinte, para a Assembleia da República, um Presidente da República e autarcas. Descolonizar, tal como Democratizar e Desenvolver, eram medidas que integravam o programa do Movimento das Forças Armadas (MFA) – os chamados “3Ds”.
Nas vésperas de mais um aniversário da Revolução de abril, o Jornal Económico pediu a opinião de três militares sobre o “D” de desenvolvimento nos últimos 43 anos: Vasco Lourenço, Sérgio Parreira de Campos e Manuel Pedroso Marques explicam o que na sua opinião mudou em Portugal.
Para Vasco Lourenço, o desenvolvimento começou por se concretizar de uma forma intensa. “E não falo só de desenvolvimento económico. Houve uma evolução de mentalidades. Os portugueses acordaram livres, tinham direitos, não só deveres. Claro que a forma de encarar a vida depois deu origem a exageros porque antes não tinham direito a liberdade.”
A melhorias na Saúde, Infraestruturas e Educação são exemplos referidos. “Quando andei a estudar na minha aldeia de 800 habitantes só havia um liceu por distrito até ao sétimo ano. Havia três ou quatro estudantes. Hoje, felizmente, todas as pessoas têm acesso ao estudo”, recorda.
O presidente da Associação 25 de abril diz que o “país está totalmente diferente para melhor”. Sobre a integração de Portugal na Europa realça um facto muito positivo. “Abriu-nos ao mundo”, conta. No entanto, afirma que a União Europeia “perdeu a ideia principal dos seus fundadores e deixou de ser uma comunidade fraterna, onde manda o capital e o mercado”.
“O povo português é muito especial. Aguenta muito e, de vez em quando, é protagonista de atos extremamente importantes, como foi o caso do 25 de abril”, acrescenta Vasco Lourenço.
Para Sérgio Parreira de Campos é fundamental perceber a diferença entre crescimento económico e desenvolvimento. O crescimento, segundo o militar, é o aumento do PIB, enquanto o segundo conceito está relacionado com a melhoria do bem-estar da população.
Educação, Saúde e Habitação
O militar destaca alguns números (os valores aqui referidos constam do site da Pordata): Na saúde, em 1970 havia 94 médicos por cem mil habitantes. Hoje rondarão os 500. Os partos em estabelecimentos de saúde eram 37,5%. Hoje são mais de 99%. A taxa de mortalidade infantil caiu dos 77,5 por mil (bem longe dos 25,5 que existiam na Europa) para os atuais cerca de 3,4 por mil (abaixo dos 3,9 da Europa como um todo). “Ou seja, em termos de saúde, quase todos dados transportam Portugal do terceiro mundo para o primeiro em cerca de apenas duas décadas.”
Na educação, em 1970, havia pouco mais de 15 mil crianças no ensino pré-escolar. Hoje rondam as 300 mil. A taxa real de escolarização era de 2,4% no pré-escolar, 84,3% no 1º ciclo, 22,2% no 2º ciclo, 14,4% no terceiro, 75% no secundário. “Havia pouco mais de 50 mil professores, enquanto hoje existem 150 mil. Em 1970, 25,7% da população era analfabeta. Em apenas dez anos pós 25 de Abril, já tínhamos reduzido o analfabetismo para 18,6%, e hoje andará próximo dos 5%”, refere.
Na habitação sublinha o desenvolvimento na eletricidade e nos alojamentos com água canalizada. “Mesmo no que toca ao crescimento puro e duro, ou seja, à evolução do PIB per capita, do rendimento e da remuneração dos trabalhadores, a diferença é abissal. Só por nítida má fé alguém poderá negar o facto de que o propósito do Desenvolvimento não se cumpriu, tal é uma evidência em todos os sectores da sociedade portuguesa e os indicadores de organismos internacionais confirmam-no.”
No entanto, Sérgio Parreira de Campos acredita que a situação poderia ter sido mais favorável caso não se tivesse registado um conjunto de razões que, na sua opinião, prejudicaram o crescimento e o desenvolvimento: A péssima base de partida, em 1974, depois de cerca de 15 anos de guerra em África, que absorvia mais de 50% do orçamento; a falta de lideranças, insuficiência de capitais, crise petrolífera de 1979, fenómeno da corrupção, entre outros fatores.
“Apesar de tudo, com crescimentos moderados, o desenvolvimento foi extraordinário. Portugal é hoje exemplo numa série de domínios desde a Saúde ao papel da mulher na sociedade.”
Os “3Ds” nunca estão alcançados
Manuel Pedroso Marques, que participou na ação designada por “Movimento de Beja” partilha a mesma opinião. “O país está muito diferente para melhor”, refere. O militar aponta alguns exemplos de sucesso a nível económico como a exportação de medicamentos e de tecnologia. O desenvolvimento está a processar-se.”
Vasco Lourenço alerta: “Os 3 “Ds” nunca estão totalmente alcançados. Há que ambicionar muito mais”, conclui.
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