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“Livrarias”: uma viagem por espaços míticos

Há quem viaje para ver monumentos, quem queira apenas fazer uns dias de praia, quem goste de experimentar comidas diferentes, quem recarregue as baterias para todo o ano fazendo uma grande caminhada pela montanha, quem, por questões de trabalho, pouco mais fique a conhecer do que hotéis e aeroportos.
Marta Teives
26 Maio 2017, 09h00

Estas e tantas outras razões são igualmente válidas para viajar; tal como a do espanhol Jorge Carrión, que aproveita para conhecer a alma das livrarias.

Se é verdade que, como afirma o autor, “todas as livrarias são um convite à viagem” – e na Palavra de Viajante não poderíamos estar mais de acordo –, então este livro é um dos melhores livros de viagem já escritos, pois nele viajamos por espaços míticos como as parisienses La Hune ou Shakespeare & Co.; a tangerina Librairie des Colonnes, que servia também como uma espécie de ‘posta restante’ para o escritor Paul Bowles, que não tinha telefone; a City Lights, em São Francisco, fundada pelo poeta Lawrence Ferlinghetti, em 1953, e ainda hoje lugar de peregrinação turística, apesar de já não se verem por lá os poetas da geração ‘beat’; as lisboetas Bertrand do Chiado, pela sua antiguidade, e a mais recente e muito fotografada Ler Devagar; a londrina Stanfords, esse autêntico paraíso para amantes de mapas; ou a Eterna Cadencia, livraria por excelência na cidade das livrarias por excelência: Buenos Aires. E, claro, as livrarias que serviram de cenário a filmes e que, por isso, são hoje procuradas pelos turistas, como a portuense Lello, entronizada quer pela saga Harry Potter, quer pela qualificação de livraria mais bela do mundo que lhe conferiu o escritor barcelonês Enrique Vila-Matas, ele próprio objeto de culto.

Viajar pelas livrarias é também, naturalmente, viajar pelos livros e pelos seus autores. Com frequência, as suas relações com os escritores fizeram delas espaços centrais na vida cultural das cidades, por vezes até fundamentais para a resistência política em tempos ditatoriais. A história da cultura, desde a antiga Roma, não fica completa sem a história das livrarias; nem a história das ideias, já que as livrarias são um território propício à propagação daquelas. Carrión refere uma livraria que já não existe, mas que ajudava a compreender – ou melhor, a ler – uma cidade e um sistema político: a Karl Marx Buchhandlung, nesse imenso bulevar de estética socialista chamado Karl Mark Allee, em Berlim Leste, e que fechou em 2008.

Alberto Manguel, autor de “Uma História da Leitura” e “Biblioteca à Noite” e coautor de “Dicionário de Lugares Imaginários”, para citar apenas os que têm uma temática afim, escreveu sobre “Livrarias”, agora editado em português pela Quetzal, que ‘se houvesse livrarias na Antártida, sem dúvida que Carrión as teria visitado para nos contar sobre o que lêem os pinguins’.

A sugestão de leitura desta semana da
livraria Palavra de Viajante.

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