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Cinco milhões para recuperar a histórica Vila Dias no Beato

A Sociedade Vila Dias vai investir cinco milhões de euros na reabilitação do antigo bairro operário de Lisboa e transformá-lo em 160 habitações para arrendamento, juntando jovens aos residentes atuais.
10 Agosto 2017, 07h10

A Vila Dias foi construída em 1888, no Beato, uma antiga zona industrial de Lisboa. Após o encerramento de muitas fábricas, esta área da cidade tem sido votada ao esquecimento. Contudo, depois da inauguração de um dos maiores hubs da Europa, o Hub Criativo do Beato, que nasceu a partir da reabilitação das antigas instalações da Manutenção Militar, o Beato quer renovar-se e reinventar-se. A Sociedade Vila Dias (SVD) viu também as potencialidades do local e decidiu investir, comprando a antiga vila operária do final do século XIX. O projeto inovador passa pela criação de 160 habitações destinadas ao arrendamento. Morais Rocha, administrador da Sociedade Vila Dias, revela que, no quadro da dinamização da Vila, contam incentivar o arrendamento a jovens e estudantes, oferecendo preços acessíveis e criando condições para esta faixa etária. “O nosso objetivo é juntar as gerações mais antigas, que ainda habitam na Vila, e dinamizar o bairro num convívio saudável com as novas gerações”.

O responsável da SVD adianta que o projeto envolve uma reabilitação total do bairro, sem demolição, com a preocupação de manter a sua traça histórica e a sua muito expressiva e invulgar componente de espaços verdes.

As casas serão cuidadas por dentro e por fora, proceder-se-á ao restauro das fachadas, à sua pintura na cor original, o branco, bem como à reparação de janelas, jardineiras e escadas.

Os telhados vão ser substituídos e todas as antenas parabólicas serão permutadas pela fibra ótica para que o fornecimento de serviços seja mais eficiente e económico. Para atender a situações mais urgentes, a SVD já avançou com as primeiras reparações, tendo efetuado um inquérito junto dos inquilinos. Há algumas semanas procedeu-se ao realojamento, em habitação recuperada, da última inquilina que não dispunha de instalações sanitárias próprias.

Rendas acessíveis

“A SVD irá ainda estabelecer planos de entendimento com os moradores para viabilizar o pagamento das rendas em atraso. Sabemos que algumas pessoas não vão conseguir pagar tudo de uma vez, mas queremos tornar estas contas transparentes e justas, tanto que os rendimentos da vila serão afetos por inteiro à sua reabilitação nos próximos cinco anos”, esclarece Morais Rocha. O administrador adianta também que os valores das rendas atuais vão manter-se e que os das rendas de novos contratos, pensados essencialmente para a população mais jovem, não irão ultrapassar os 300 euros, equiparando-se aos preços praticados pelo programa de Renda Acessível da Câmara Municipal de Lisboa.

As 40 habitações que se estima estarem desocupadas – entre as 160 da Vila – deverão ficar aptas para receber novos inquilinos no mais curto prazo possível.

Morais Rocha explica que este projeto não visará o mercado do turismo. “A ideia é transformar este bairro numa zona de prosperidade sob a tutela dos seus moradores. Será este o marco de demarcação da Vila Dias da tendência atual do mercado imobiliário”, admite, realçando a aposta no arrendamento, “porque continua a haver falta de habitações para arrendar em Lisboa, especificamente com rendas acessíveis a jovens, que trarão à Vila um ambiente de convívio salutar com os inquilinos mais idosos”.

A proximidade do Hub Criativo do Beato também teve algum peso nesta decisão. O responsável da SVD admite que é uma estrutura de 20 edifícios com uma área total de 35 mil m2, com potencial para se estabelecer na vanguarda dos centros europeus de empreendedorismo, cuja população pode ser interessante para a Vila Dias. “Afinal, distam cinco minutos a pé (500 metros)…”, realça.

Retorno de 3% a 4% ao ano

Com este investimento, a Sociedade Vila Dias prevê um retorno de 3% a 4% ao ano. Trata-se de um valor que não é alto – há inquilinos que pagam rendas mensais de 50 euros e há quem não pague nada. “Mas não empreendemos este projeto na expectativa de lucro imediato. Sabemos as condições económicas em que as pessoas vivem no bairro e vamos respeitar isso, assim como respeitaremos o desejo dos seus moradores de pôr termo a algumas, felizmente poucas, situações de ilegalidade que perturbam o bem-estar de todos. No entanto, consideramos o investimento no mercado imobiliário uma mais-valia, e o investimento neste projeto é mais seguro do que ter o dinheiro no banco”, afirma.

Morais Rocha garante que se surgirem outras oportunidades interessantes, seguramente que irão realizar outros projetos semelhantes. “Lisboa precisa de reabilitação e esse é um desafio que nos agrada”, conclui.

AFábrica de Fiação de Xabregas, de proprietários estrangeiros, foi fundada em 1854 e começou a laborar em 1858, depois de se constituir em Companhia do Fabrico de Algodões. Foi por iniciativa dos proprietários da fábrica que foram edificadas, em 1867 e 1877, as primeiras vilas operárias em Xabregas. Em 1888 foram construídas mais duas vilas, de maiores dimensões, a Vila Flamiano (inicialmente destinadas aos mestres e contramestres) e a Vila Dias (para os operários).

Artigo publicado na edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão.

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