A reforma fiscal que está perto de ser implementada nos EUA será a mais profunda desde a década de 80 e trará cortes de impostos na ordem dos 1,5 biliões de dólares.
Os destaques da reforma são o corte da taxa de imposto sobre o lucro das empresas de 35% para 21%, uma série de incentivos temporários ao investimento por parte de empresas, benefícios fiscais para a repatriação de lucros obtidos no estrangeiro, e um alívio fiscal às famílias norte-americanas que deverá render à família mediana cerca de dois mil dólares por ano.
A reação do setor empresarial tem sido, naturalmente, muito positiva, com várias empresas a aplaudirem e a anunciarem que irão avançar com programas de investimento e contratações quando a reforma for implementada, mas a verdade é que é pouco provável que a reforma fiscal seja o principal motivo dessas decisões. As empresas agradecem a benesse fiscal, mas a verdade é pouco provável que seja isso que as faz mover.
Cada empresa toma decisões de investimento e contratação com base em factores económicos, tecnológicos e estratégicos específicos a cada uma e é pouco provável que um incentivo fiscal seja o factor determinante.
Do lado das famílias, também é natural que agradeçam o alívio fiscal (afinal de contas, é um alívio fiscal), mas a verdade é que as famílias ricas saem muito mais beneficiadas que a família mediana.
Segundo a análise do Penn Wharton Budget Model, uma entidade sem afiliação partidária que analisa com rigor e imparcialidade o orçamento do Estado norte-americano, cerca de dois terços do alívio fiscal das famílias vai ser sentido apenas pelo quintil mais rico das famílias norte-americanas. Ou seja, cerca de 67% do alívio fiscal irá para 20% das famílias, que calham a ser as mais ricas…
Em época natalícia não posso deixar de tentar fazer um paralelismo entre a reforma fiscal que Donald Trump está perto de conseguir entregar aos americanos e os presentes de Natal.
Donald Trump faz lembrar aquele pai que destabiliza a situação financeira familiar para oferecer uma consola ao filho (com alguns extras incluídos), mas depois lhe rouba o comando durante a maior parte do tempo e convida frequentemente os seus amigos para ir lá a casa jogar. O filho ficou contente no Natal e até joga de vez em quando, mas é o pai e os seus amigos quem mais brinca com a consola. A pouco e pouco, o filho vai percebendo o pai que tem…