A chanceler alemã Angela Merkel reiterou a sua oposição à adesão plena da Turquia à União Europeia, mas expressou apoio à concretização de laços mais estreitos com Ancara, nomeadamente através da atualização da União Aduaneira entre os dois blocos e do aprofundamento do acordo para os refugiados.
“A minha visão política sobre o assunto é bem conhecida: não acredito que a Turquia se deva tornar membro da União Europeia e não vejo aquele país a juntar-se ao bloco. Mas, apesar disso, quero ter boas relações com a Turquia”, afirmou a chanceler em conferência de imprensa.
A líder democrata-cristã, que se prepara para deixar os seus cargos políticos depois das eleições de setembro próximo, sublinhou que fez grandes esforços nos últimos meses para melhorar os laços entre a União e a Turquia. Merkel disse que a União quer modernizar a União Aduaneira, que tem mais de 25 anos, e renovar o acordo de refugiados de 2016, que visa conter a imigração irregular e fornecer apoio aos refugiados sírios.
“A Turquia está a fazer um excelente trabalho ao cuidar dos refugiados sírios. Oferecemos apoio à Turquia, mas, é claro, foi apenas uma pequena ajuda [financeira]”, disse, referindo-se às promessas de entrega de mais fundos da União como parte do acordo de refugiados de 2016. “Eu gostaria que este acordo com a Turquia fosse mais desenvolvido; isso seria o melhor para as pessoas afetadas”, acrescentou.
O acordo de refugiados União-Turquia interrompeu efetivamente o fluxo de refugiados sírios para a Europa, mas Ancara criticou repetidamente os seus parceiros europeus por não honrarem os seus compromissos financeiros. As autoridades turcas afirmam que, embora Ancara tenha mantido o pacto, a União não o fez, incluindo a transferência de seis mil milhões de euros.
Como parte do acordo, a União prometeu acelerar o processo de adesão da Turquia, iniciar negociações sobre a modernização da União Aduaneira e permitir viagens sem visto aos cidadãos turcos dentro do espaço Schengen.
As negociações entre os dois blocos para resolverem os problemas comuns ganharam força depois de a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o chefe do Conselho Europeu, Charles Michel, visitarem Ancara em abril. Apesar do ‘folclore’ da falta de cadeira uma para a presidente da Comissão, as relações entre Bruxelas e Ancara acabaram por passar por um período de aproximação.
Atualmente, a Turquia abriga quase quatro milhões de sírios, sendo o país com maior número de refúgio daquela região do Médio Oriente e fornece proteção e assistência humanitária a quase seis milhões de pessoas acantonadas no norte da Síria.
Até agora, e segundo números oficiais, Ancara gastou mais de 35 mil milhões de euros dos seus próprios recursos para gerir os refugiados, e as autoridades destacam que a União deve fazer mais, para ser mais equitativa.
As palavras de Merkel surgem num contexto em que o governo do presidente Recep Erdogan tem manifestado intenção de regressar às negociações para entrar na União Europeia. O tema não é fácil, dado que a Grécia e Chipre não querem a presença da Turquia no agregado, e a França também não considera esse alargamento o mais indicado. Outros países têm manifestado algumas reticências. Portugal não se tem pronunciado sobre a matéria – mesmo quando o JE pediu um esclarecimento, na altura da presidência do Conselho da União – e ninguém sabe se a posição oficial é ou não diferente daquela que tinha o na altura Presidente Aníbal Cavaco Silva: apoiava a entrada dos turcos na União.
A posição de Merkel, que dificilmente deixará de fazer jurisprudência na União Europeia, pode despoletar mais um período de confrontos entre os dois blocos.
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