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Uma cimeira à procura dos “engenheiros-poetas”

A 1ª edição da cimeira internacional ‘The Future of Politics’ recebe 30 líderes políticos internacionalmente reconhecidos, como Ségolène Royal ou Alexandra Cousteau. Culmina com a assinatura da ‘Declaração de Cascais para a Política com Ética’ mas, antes disso, Jorge Brown quer inspirar os 300 jovens líderes do futuro.
30 Setembro 2021, 07h30

Cascais recebe esta quinta e sexta-feiras a 1ª edição da cimeira internacional ‘The Future of Politics’, onde, segundo a organização, “serão abordados os principais temas que determinam o futuro das nossas sociedades, em particular os desafios enfrentados pelos sistemas políticos ocidentais”. O evento é da responsabilidade da organização internacional sem fins lucrativos Advanced Leadership Foundation (ALF), em parceria com o Município de Cascais e com o apoio da revista Politico.

A cimeira, que decorrerá na Nova SBE, em Carcavelos, vai reunir cerca de 30 líderes políticos – entre os quais, atuais e antigos Chefes de Estado e de Governo -, empresariais e representantes da sociedade civil de mais de 15 países.

Merece destaque, neste dia de abertura, a intervenção da antiga candidata à presidência de França Ségolène Royal, que vai analisar a forma como as alterações climáticas estão a transformar a política contemporânea. Intervirá também Alexandra Cousteau, presidente e cofundadora da Oceans 2050, que vai abordar os grandes desafios e obstáculos à sustentabilidade ambiental, focando em particular o caso da regeneração dos oceanos.

Ética e transparência, crise climática, os impactos da automatização e da inteligência artificial no futuro do trabalho e o combate à desinformação, são alguns dos temas que vão estar em foco ao longo dos dois dias da cimeira.

Mas talvez aquele que curiosidade inspira seja a decisão da organização de contribuir para a formação de 300 jovens líderes portugueses que venham a “empenhar-se como agentes de mudança nas suas comunidades locais”.

Jorge Brown, vice-presidente da Advanced Leadership Foundation, destaca exatamente este ponto: a intenção de promover “os líderes de amanhã e proporcionar-lhes as ferramentas para mobilizar as comunidades em torno do debate de problemas atuais e futuros, como o agravamento das desigualdades e da exclusão, a defesa da consolidação dos modelos democráticos, entre outros”.

Em declarações ao JE, Brown explicou que “a educação dos jovens líderes de amanhã obedece a três critérios diferenciados: oportunidade, visibilidade e formação”. Sendo certo que “um programa de formação abrangente é a chave” de todo o processo. E ‘abrangente’ quer dizer “o digital, as matemáticas e as ciências, mas também a história e a filosofia”, segmentos essenciais para aqueles “que não procuram apenas os 15 minutos de fama” e regressam ao anonimato. É a isto que Jorge Brown chama “formação universal”. Ou, como enfatizou, o mundo será com certeza mais bem gerido quando “conseguirmos formar engenheiros-poetas”.

Mais prosaicamente, a organização entende que estes jovens precisam de munir-se de ferramentas básicas que servirão de esteio ao resto: “saber falar em público, saber organizar um plano básico de negócios e ter conhecimentos mínimos” sobre um leque alargado de assuntos fazem parte deste roteiro de excelência.

Mas se a formação, sendo essencial, depende do esforço individual, a visibilidade e as oportunidades fazem parte de uma envolvente mais difícil de controlar. O que devem os jovens fazer para chegarem lá? “É preciso acompanhamento, humildade da parte dos jovens, mas também generosidade da parte dos profissionais estabelecidos”. “Partilhar experiência de vida é muito importante, mas os lugares de topo são também um vício […] e a generosidade pessoal é uma forma de o ultrapassar”, explica.

Já a ‘humildade’ dos jovens deve resultar de uma evidência que não o é para todos: “os jovens atuais acham que a separação entre gerações é muito grande”, devido essencialmente ao primado e à inevitabilidade do digital. “Mas isso não é bem verdade”, considera Jorge Brown: “entre todas as gerações existe esta separação – entre nós e os nossos pais [qualquer que seja a nossa idade], aconteceu isso”.

Há, evidentemente, diferenças – e uma das que tem mais impacto é “o facto de as ideologias importarem cada vez menos. Talvez agora a palavra-chave seja pragmatismo”. Perde-se a ideologia – perder-se-á também a religião? Jorge Bronw concorda que o espiritualismo não está tão presente entre os jovens como esteve noutras geografias históricas. Mas destaca que algumas igrejas souberam percecionar essa mudança e engendrar uma resposta: “o Papa Francisco tem sido pioneiro” nesta área, afirma.

No final da cimeira se verá, ou talvez mais lá para a frente, se os 300 jovens portugueses que vão participar nesta espécie de imersão serão ou não os líderes do futuro.

O vice-presidente da organização, nascido no México, foi ou é responsável vários conselhos consultivos, incluindo a Organização Mundial da Juventude, Heroes Club, Incyde Foundation e várias empresas privadas. Com mais de 20 anos de experiência em consultoria corporativa internacional e política, é especialista em estratégias de crescimento, desenvolvimento de negócios, recursos humanos e estratégias corporativas. Foi conselheiro sénior da Embaixada do México na Bélgica e ocupou vários cargos no governo mexicano, incluindo a equipe de transição presidencial mexicana de 2000. Foi também diretor de sustentabilidade do The Climate Project Spain, a filial espanhola do projeto sem fins lucrativos do ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore.

A cimeira culmina com a assinatura da ‘Declaração de Cascais para a Política com Ética’, um mecanismo de colaboração internacional em que os participantes se comprometem a respeitar um conjunto de regras de boa conduta política.

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