O escritor tanzaniano Abdulrazak Gurnah – novo Nobel da Literatura – usa como fermento dos seus romances homens e mulheres oriundos da costa oriental africana que espalha pelo mundo como se esse fosse o destino dos que dali são oriundos. Não todos por insuficiência, medo ou devastação: para Gurnah, é de uma gesta que se trata: o homem africano, especialmente o do oriente, tem na alma a vontade de partir.
Para lá dos seus atributos literários e dos avatares das suas personagens, Abdulrazak Gurnah deles se lembrou de imediato quando lhe pediram para comentar o facto de a Academia o ter indicado para o Novel da Literatura deste ano: apelou à Europa para mudar a sua visão sobre os refugiados de África e a crise migratória, segundo relatam as agências internacionais.
“Muitas destas pessoas que vêm, vêm por necessidade mas também porque têm algo para dar. Não vêm de mãos vazias”, disse o escritor em entrevista à Fundação Nobel, recordando que, como nos seus romances, há “pessoas talentosas e enérgicas” – mesmo entre aquelas que estão em fuga de qualquer coisa.
Abdulrazak Gurnah sucede ao escritor Hole Soyinka na lista, muito curta, dos Nobel da Literatura de origem africana – com o nigeriano a atingir o prémio máximo da disciplina em 1986. Outro africano, Ngugi wa Thiong’o, do Quénia, estava também na lista dos favoritos para o Nobel este ano.
Até à sua recente reforma, Gurnah foi professor de Literatura inglesa e pós-colonial na Universidade de Kent, no Reino Unido. “Pensei que era uma piada”, revelou Abdulrazak Gurnah, quando lhe pediram para comentar o que sentiu quando a Academia Sueca o contactou.
A Academia – que não se esqueceu de recordar que o Prémio Nobel da Literatura continua a ter no “mérito literário o critério absoluto e único”, relevou o facto de Gurnah se consagrar a temas muito atuais.
Nascido em Zanzibar, mas exilado no Reino Unido há meio século, o escritor é mais conhecido pelos seus romances “Paradise” (1994) e “Junto ao Mar” (o único editado em Portugal, segundo adianta a agência Lusa).
Com origens familiares na Península Arábica, fugiu de Zanzibar, um arquipélago no Oceano Índico, para Inglaterra no final dos anos 1960, depois de o antigo protetorado britânico ter conquistado a independência e se ter juntado à Tanganica para formar a Tanzânia, numa altura em que a minoria árabe era perseguida. Gurnah só regressou a Zanzibar em 1984, pouco antes da morte do seu pai.
Embora escreva desde os seus 21 anos, Abdulrazak Gurnah publicou dez romances desde 1987, bem como contos curtos.
No ano passado, a muito honrosa distinção do Nobel foi entregue à poetisa norte-americana Louise Glück pela sua obra de “beleza austera”.
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