Dois meses depois de o Governo ter devolvido o antigo normal aos portugueses, assiste-se agora um aumento de casos por Covid-19, ou como afirmaram os especialistas, a quinta vaga da pandemia em Portugal.
Esta quarta-feira, o país ultrapassou os três mil casos por Covid-19, atingindo máximos registados em agosto. E embora ainda se mantenha longe da realidade assistida há um ano — altura em que se contabilizavam 3.919 casos, 85 mortes e 3.781 internados em enfermaria e UCI — o risco é inegável e de acordo com os especialistas o país deve agora agravar as medidas de conteção de forma a evitar que a tendência de crescimento se mantenha.
“Nós corremos o risco de ter um crescimento exponencial no número de casos. Isto significa, duplicar ou triplicar o número de casos em poucas semanas”, afirmou Raquel Duarte, Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, durante a reunião da semana passada no Infarmed, sustentando a tese do especialista do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), Baltazar Nunes que alertou para uma diminuição do efeito protetor da vacina, ainda que a o país se coloque numa posição de liderança da vacinação contra o vírus no mundo.
Vacinação, máscaras e testagem
Para colmatar o aumento da incidência, da taxa de internamento e da mortalidade, os especialistas apelam que se reforcem as campanhas das doses de reforço à população atualmente elegível (utentes com mais de 65 anos, profissionais de saúde ou bombeiros) e que, nos locais de trabalho seja aumentada a qualidade de ventilação e climatização adequada, especialmente devido ao tempo frio que tem feito em novembro e que pode levar muitos cidadãos a não optar pela ventilação correta das habitações.
Quanto ao distanciamento físico, essa continuará a ser a recomendação primária, indo em linha com o regresso da utilização obrigatória de máscara em ambientes fechados e eventos públicos, bem como nas situações de aglomerados não controlados. A medida sugerida foi confirmada pela líder parlamentar do PAN que anunciou que o Governo está a analisar o uso de máscara em espaços fechados, como estádios de futebol, concertos e discotecas.
Os especialistas recomendaram ainda que os cidadãos usem o certificado juntamente com um teste recente para acederem a espaços públicos – uma medida também em cima da mesa do Governo, de acordo com o deputado único do Chega, André Ventura que revelou que a exigência de certificado de vacinação para setores ou estabelecimentos específicos e o controlo dos grandes eventos desportivos e até discotecas, com a combinação de exigência de certificado de vacinação com a exigência de teste com 48 horas pode vir a ser aplicada – que realizem a autoavaliação de risco e promovam as atividades no exterior ou remotas sempre que for possível.
Quanto ao teletrabalho, que entretanto deixou de ser obrigatório, os peritos apontam que continuem a existir desfasamento de horários e que o trabalho remoto seja praticado sempre que possível. A recomendação foi ecoada pelo PS, esta quarta-feira, esclarecendo que se trata da “recomendação do teletrabalho como já ocorreu em determinados períodos da pandemia”, tendo que ser avaliado “os termos, o âmbito e a intensidade”.
Nos convívios familiares, os especialistas apelam a que os intervenientes realizem uma autoavaliação de risco e da utilização de autotestes.
Já nos lares de idosos, é proposta uma testagem regular para funcionários e visitas, enquanto que nos transportes públicos seja garantida a ventilação, o distanciamento sempre que possível e a utilização obrigatória de máscara.
O enfoque dado por Raquel Duarte para a necessidade de acelerar a vacinação justifica-se nas palavras de Baltazar Nunes. Com um índice de transmissão, R(t), de 1,17, “estamos numa fase de aumento do número de casos e transmissibilidade “elevada”, e a “duplicar” a cada 15 dias – e sendo que a maior incidência se verifica na faixa etária dos 0 aos 9 anos.
“A linha dos 240 casos por 100 mil habitantes vai ser atingida rapidamente em menos de duas semanas se mantivermos esta taxa de crescimento”, advertiu. “Também podemos verificar que as linhas dos 480 e 960 [casos por 100 mil habitantes] podem ser atingidas em um ou dois meses se mantivermos sempre esta a taxa de crescimento”.
Apesar da possibilidade destas sugestões, as medidas só serão confirmadas esta quinta-feira pelo primeiro-ministro António Costa durante o briefing do Conselho de Ministros em São Bento, algo que acontece depois das reuniões com os partidos com assento parlamentar que decorreram esta terça e quarta-feira.
“Nada planeado para já”
A única questão que fica por responder é a vacinação entre os mais novos. O líder do CDS-PP revelou que o Governo “não tem nada planeado para já” no que diz respeito à potencial vacinação de crianças abaixo dos 12 anos de idade contra a Covid-19, processo que está a decorrer em diferentes países, incluindo Israel e os Estados Unidos.
“Sobre as crianças o Governo não tem nada planeado para já. Até ao Natal, o compromisso que o Governo fez também com o CDS é que iria priorizar a terceira dose ao grupo dos mais idosos e aqueles que ao longo dos últimos tempos têm perdido eficácia na vacina de acordo com os estudos que vieram a ser revelados também pelos mesmos especialistas”, afirmou Francisco Rodrigues dos Santos.
Segundo os especialistas, é nas escolas e universidades que se encontram os maiores focos de transmissão, sendo que a incidência entre os da faixa etária dos 0 aos 9 anos é que a apresentou o ritmo de crescimento mais sustentado.
A decisão só deverá ser tomada depois do parecer do regulador europeu. A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) deve anunciar esta quinta-feira se dá luz verde à incoculação de crianças entre dos cinco aos 11 anos com a vacina da Pfizer/ BioNTech. Por cá, a diretora-geral da saúde, Graças Freitas já admitiu ficar “muito satisfeita” se puder recomendar vacinação de crianças afirmando que a EMA deverá dar “luz verde” à medida.
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