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Timor-Leste: à segunda volta Ramos-Horta espera ser presidente

Chegou a estar acima dos 50% nas sondagens para a primeira volta, mas o antigo presidente acabou por ter de disputar a segunda volta, que tem lugar esta terça-feira. A renovação do quadro político do país fica para mais tarde.
18 Abril 2022, 17h45

José Ramos-Horta venceu a primeira volta das eleições presidenciais de Timor-Leste com 46,58%, considerado um mau resultado face à expectativa de se situar acima dos 50% e, por isso, poder prescindir da segunda volta. Acabou por não ser isso que aconteceu e, apesar de o ‘velho’ combatente da resistência ser o favorito, enfrenta agora um país dividido.

O antigo porta-voz da resistência timorense às tropas ocupantes da Indonésia bater-se-á com o atual presidente Francisco Guterres Lú-Olo, que obteve apenas 22,16% na primeira volta. Recorde-se que em terceiro ficou a atual vice-primeira-ministra, Armanda Berta dos Santos, com 8,7%, seguida pelo ex-comandante das Forças Armadas Lere Anan Timur (7,57%), e do deputado Mariano Sabino, do Partido Democrático (PD, com 7,26%). Os restantes 11 candidatos somaram em conjunto 7,73% dos votos. Na primeira volta, a abstenção foi de 22,74%, a mais baixa de sempre.

José Ramos Horta desempenhou diversas funções governativas: foi ministro dos Negócios Estrangeiros no I e no II governos transitório de Timor-Leste e no I Governo Constitucional, de 2000 a 2006. Assumiu em julho de 2006 o cargo de primeiro-ministro, para, na segunda volta das eleições de 9 de maio de 2007, ser eleito presidente da República, em disputa com Francisco Guterres Lú-Olo (que agora volta a enfrentar), sucedendo a Xanana Gusmão.

Foi um dos períodos mais conturbados da história recente do país – com o petróleo de que era possuidor a ser um poderoso chamariz para as interferências estrangeiras – a tal ponto, que a missão da ONU para a manutenção da pas apenas abandonou o país no último dia de 2012.

Lú-Olo também é ex-líder da guerrilha e presidente da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin). Ora, isso quer dizer, como apontam diversos analistas, que desde maio de 2002 – que marca o fim da ocupação indonésia – o país não encontrou forma de convencer as novas gerações a aproximarem-se da política. Os cargos principais continuam a ser preenchidos pelos ‘velhos’ guerrilheiros do tempo da resistência – quer os que o ocupam quer os que a eles tentam aceder – sem que a renovação geracional se dê. Segundo dados oficiais, cerca de 90% da população (de 1,44 milhões de pessoas) tem menos de 54 anos.

Aparentemente, isso fica a dever-se ao facto de o país continuar a não conseguir estabilizar a sua situação política e económica – num quadro em que os interesses das companhias petrolíferas continuam a observar Timor-Leste como um campo de prospeção onde podem impor a sua vontade.

Desde a independência, Timor-Leste tem enfrentado grandes desafios na reconstrução das suas infra-estruturas, no reforço da administração civil e na geração de emprego para os jovens que entram no mercado de trabalho. O desenvolvimento de recursos offshore de petróleo e gás aumentou muito as receitas do governo, mas tem feito pouco para criar riqueza.

Em junho de 2005, o parlamento aprovou a criação do Fundo Petrolífero de Timor-Leste, que em 2020 ascendia aos 19 mil milhões de dólares (11 vezes o valor do PIB do país), segundo um relatório do Banco de Portugal; o petróleo representa mais de 90% das receitas do governo. Singapura (51%), China (20%), Japão (9%) e Indonésia (6%) são (para dados de 2019) os principais mercados de exportação – sendo que a Indonésia é o mair fornecedor da economia timorense.

Aos 72 anos, o regresso de Ramos-Horta a um lugar que já ocupou é mais uma tentativa de alinhar o país num processo de desenvolvimento demorado e que coloca Timor-Leste no fundo da tabela do Índice de Desenvolvimento Humano.

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