A Rússia anunciou planos para instalar novas bases militares no mar Mediterrâneo, na região Ásia-Pacífico, bem como no Índico e no golfo Pérsico, no quadro de uma nova doutrina naval aprovada pelo presidente russo, Vladimir Putin. O líder russo considera os EUA como a maior ameaça à segurança do seu país.
No caso da Armada russa, Moscovo vê como “principal risco” para os seus navios a falta de bases suficientes fora das suas fronteiras, estruturas que possam receber e abastecer os seus navios de guerra e realizar trabalhos de reparação e manutenção técnica.
Além de garantir a presença permanente da frota russa na base naval de Tartus, na Síria, Moscovo quer desenvolver centros de manutenção naval “no território de outros países da região”, o que pressupõe bases em países africanos e do Médio Oriente.
Essas bases também serão localizadas em países do Pacífico e do Índico, bem como no Mar Vermelho. Desde há anos que a Rússia tem vindo a tentar forjar uma cooperação estratégica com vários países destas regiões, como alternativa aos tradicionais parceiros europeus com quem estes países têm relações mais profundas. A Rússia tem precisamente enfrentado o armamento europeu no decorrer da campanha militar na Ucrânia, já que a UE tem equipado Kiev.
O Kremlin também está disposto a solucionar uma das principais carências da sua frota desde há décadas: a construção de porta-aviões.
Mais concretamente, a nova doutrina naval russa menciona o interesse em desenvolver a cooperação militar-naval com a Índia, o Irão, a Arábia Saudita e o Iraque. Além de precisar de aço de qualidade para construir estes navios de grande porte, a Rússia também precisa de encontrar novos fornecedores de motores para navios com grande tonelagem, até há poucos anos assegurados por fábricas na Ucrânia.
A Marinha de guerra russa apenas tem um porta-aviões, o Almirante Kuznetzov (lançado ao mar em 1985), mas até este tem estado em manutenção e reparação nos estaleiros de Murmansk. Do outro lado, os Estados Unidos têm 11 porta-aviões. O mais recente, da classe Gerald Ford, entrou ao serviço em 2017. Quatro outros da mesma classe estão encomendados. O mais antigo é o Nimitz, lançado ao mar em 1972.
A Rússia assume agora que o “maior desafio” à sua segurança nacional é a estratégia dos EUA de domínio dos oceanos, que inclui restringir o acesso da Rússia a recursos e vias de comunicação oceânicos.
Moscovo acusa Washington de querer atingir uma “hegemonia incontestável” da sua Marinha de guerra, a que junta pretensões territoriais sobre costas e ilhas russas, a cada vez maior aproximação das infraestruturas na NATO do território russo e a maior frequência das manobras navais.
Por tudo isto, a Rússia também se propõe acelerar e diversificar as suas atividades em águas do Ártico, a partir dos arquipélagos de Francisco José e Svalbard (de soberania norueguesa).
Uma das prioridades do Kremlin será converter-se num dos líderes mundiais na descoberta e exploração dos recursos do territorio ártico, especialmente na plataforma continental russa. Este objetivo é comum a outros países, que acusam Moscovo de militarizar a região. Também visa controlar as atividades de outros países na Rota Ártica, que Putin propõe como alternativa ao Canal do Suez.
A doutrina naval destaca que “as zonas importantes” nas quais a frota russa deve garantir os seus interesses nacionais, do ponto de vista económico e da segurança nacional e estratégica, são: o Mar Negro e o Mar de Azov; o Mediterrâneo Oriental; o Báltico e a zona das ilhas Kuril (cuja soberania é reclamada pelo Japão), e os eixos de comunicação marítima rumo aos continentes da Ásia e de África.
Outra das prioridades é a de reforçar o potencial da frota russa do Mar Negro e fortalecer a infraestrutura militar-naval da península da Crimeia e da região de Krasnodar.
No futuro, a Armada russa também quer garantir o acesso sem restrições ao enclave báltico de Kaliningrado, atualmente muito dependente do trânsito terrestre de mercadorias por parte dos países bálticos.
Tanto os novos porta-aviões da Armada, como os navios de grande tonelagem para a exploração do Ártico serão construídos nos futuros estaleiros do Extremo Oriente russo, com capital em Vladivostok, assinala a doutrina, que bem substituir a que foi aprovada em 2015, após a anexação da Crimeia, que – em grande medida – deteriorou as relações entre Putin e o Ocidente.
“Assinalámos abertamente as fronteiras e as zonas dos interesses nacional da Rússia, tanto económicas como estratégicas, que são vitais”, assegurou Putin numa intervenção no Dia da Armada, em São Petersburgo.
“Vamos garantir a sua defesa de forma firme e através de todos os meios”, concluiu.
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