Quando depois das últimas eleições em Israel (em setembro de 2019) o líder do partido Kahol Lavan, Benjamin Gantz, que quase saiu vitorioso, disse que estava a tentar formar uma coligação com os partidos israelitas árabes, pareceu aos observadores internacionais que alguma coisa nova estava a passar-se no país.
Isto apesar de Gantz – ex-militar de alta patente – nunca ter colocado em causa as anexações que Israel foi fazendo ao longo dos anos dos territórios que eram da Palestina. Mas, para além dos inesperados e nunca antes vistos contactos com os árabes israelitas, Gantz também parecia interessado em ‘sacudir’ a mão de ferro da amizade que os Estados Unidos e em particular o seu presidente, Donald Trump, mantinham sobre o país.
Quando, poucos dias antes das eleições, Trump disse que estava a preparar um acordo militar com Israel que garantisse a segurança do país, o líder da oposição ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que o acordo não era mais que propaganda em favor do Lykud e que não estava interessado em semelhante plano: Israel sabia tratar da sua própria defesa.
Mas, a ver pelas últimas declarações de Benjamin Gantz, tudo isso faz parte do passado. Depois de se ter ‘colado’ ao plano de paz que Trump tornou público há pouco mais de uma semana – e que tão pouco entusiasmo motivou no planeta – o líder do Kahol Lavan disse agora que em nenhuma circunstância fará um acordo de governo com os partidos israelitas árabes. Em causa está, disse, precisamente a recusa de todo o mundo árabe em aceitar o plano de paz e o facto de, desde então, as relações entre Israel e a Palestina terem piorado.
Gantz junta-se assim a Netanyahu na recusa em conversar com os partidos árabes, que voltam a ficar politicamente isolados, tal como sucede mais ou menos desde 1992 – quando apoiaram o trabalhista Isaac Rabin e os Acordos de Oslo.
A nova postura parece ter deixado desconcertada a oposição a Netanyahu, que assim vê escapar-se-lhe uma hipótese não despicienda de, nas próximas eleições (marcadas para 2 de março) derrotarem o atual primeiro-ministro, acossado por acusações de corrupção pelas quais ainda não foi julgado porque ninguém parece ter força suficiente para levantar-lhe a imunidade decorrente do cargo.
Ravit Hecht, um dos críticos ‘de serviço’ no jornal Haaretz, dos mais influentes do país e de clara matiz de centro-esquerda, disse mesmo que, desde há poucos dias, Benjamin Gantz “parece um clone” de Benjamin Netanyahu. O resultado parece óbvio: depois de 2 de março, o mais certo é que os dois partidos formem um governo de coligação.
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