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Empresas familiares: “Apenas três em cada dez negócios de família chegam à segunda geração”

Europa tem boas condições para a criação de empresas, mas são vários os desafios que fazem com que a maioria dos negócios familiares não resistam ao afastamento dos seus fundadores.
27 Fevereiro 2020, 09h30

“Muitas pessoas pensam que uma empresa familiar tem de ser uma empresa pequena e mal gerida, mas não é assim. Algumas das grandes empresas do mundo são familiares e há estatísticas que mostram que cerca de 30% do total de empresas são familiares”, explicou o especialista em empresas familiares Manuel Bermejo, orador na conferência “Governance em Empresas Agrícolas Familiares – Os Desafios de Hoje”.

Manuel Bermejo tem estado envolvido com o mundo empresarial desde sempre, sendo que o pai e o avô eram empresários. É professor na IE Business School, em Madrid, diretor e fundador da empresa de consultoria para negócios de família The Family Advisory Board. Prefere considerar-se um conselheiro e não um consultor, porque diz “vestir a camisola das empresas” e assim ajudá-las a definir planos estratégicos.

De estratégia se faz uma empresa, mas também de desafios. “Está provado que apenas três em cada dez empresas chegam à segunda geração, e dessas apenas uma vai chegar à terceira ou quarta geração”. De forma a manter o negócio de família, Manuel Bermejo aconselha a “não assumirmos que somos eternos” e a planear antecipadamente a quem será entregue o comando da empresa.

“Uma empresa familiar tem duas caraterísticas muito importantes: uma é o controlo da família e a segunda é o desejo de continuidade, de fazer com que a empresa passe à próxima geração”, reforça Manuel Bermejo, e acrescenta que para essa transição ser bem-sucedida é necessário “manter a coesão familiar” e ter consciência de que o “mundo mudou”. A tecnologia exige cada vez mais das empresas e a competitividade é maior. “Vai aparecer sempre um Uber”, relembra o especialista em empresas familiares.

No entanto, Bermejo acredita que os negócios de família têm feito uma adaptação “muito natural às novas tecnologias” e acredita que “vamos viver mais e ter trabalhos que ainda nem existem”.

A importância da sucessão está associada ao crescimento, fundamental à sobrevivência das empresas familiares. “Uma empresa que cresce é uma empresa mais rentável e com mais capacidade para ser sustentável. Espanha e Portugal têm um problema: as empresas familiares são demasiado pequenas. Uma empresa familiar média em Espanha ou Portugal tem metade do tamanho de uma empresa familiar na Alemanha”, afirma.

Apesar das semelhanças no que toca à dimensão das empresas, Portugal e Espanha são diferentes. “Os empresários espanhóis venderam menos os seus negócios”, já a vantagem dos portugueses reside na facilidade em aprender novos idiomas. “Em Portugal sempre se falou um bom inglês e isso fez com que existissem empresas portuguesas a internacionalizar-se de forma muito natural. Em Espanha, na geração dos avós ninguém falava inglês e, portanto, houve menos expansão internacional”, recorda o especialista espanhol em empresas familiares.

O domínio do inglês coloca os portugueses numa situação de vantagem, mas no que toca à igualdade de género “Portugal ainda tem um longo percurso a fazer”. Manuel Bermejo conta que, “em Espanha, há dez anos ou mais que há igualdade de género”. “A mulher incorpora-se de uma forma muito natural como acionista e gestora. Em muitas empresas portuguesas, as mulheres não trabalham na empresa familiar, só trabalham os homens”, acrescenta o espanhol, que foi orador na conferência “Governance em Empresas Agrícolas Familiares – Os Desafios de Hoje”, realizada em Cascais a 12 de fevereiro.

Diferenças à parte, o professor da IE Business School considera a Europa um bom território para acolher negócios familiares. “No geral, tem uma tributação e um enquadramento legal muito bom para as empresas familiares. Nos EUA, as empresas têm de pagar um imposto altíssimo”, realça.

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