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Insolvências e tensões protecionistas aumentam os riscos mundiais

Os riscos para empresas exportadoras continuam elevados e a Europa não foge à regra. As insolvências estão a aumentar, inclusive em países que são dos maiores parceiros comerciais de Portugal, enquanto há riscos acrescidos em países da América Latina para onde Portugal vende bens e serviços. As pandemias e as alterações climáticas são outros riscos relevantes.
Aly Song/Reuters
29 Fevereiro 2020, 17h00

As tensões entre EUA e China estão longe de explicar o aumento do protecionismo nas trocas comerciais, isto porque apenas 23% de todas as medidas protecionistas tomadas entre janeiro de 2017 e novembro de 2019 são da autoria das duas principais potências mundiais, alerta a publicação da seguradora francesa Coface “Barómetro riscos-país setorial”, distribuída em janeiro último.

Contudo, 2020 vai ser fértil em insolvências. O “Global Insolvency Outlook 2020” da Euler Hermes, a companhia que em Portugal detém a seguradora de crédito à exportação COSEC, afirma que as insolvências vão aumentar em média cerca de 6% a nível global, e isso significa um crescimento que acontece pelo quarto ano consecutivo. A chairman da empresa, Maria Celeste Hagatong, comenta, em nota, que daquelas informações resulta “a necessidade cada vez maior de as empresas serem proativas e seletivas na escolha dos seus parceiros de negócio. Tanto no país onde operam, como nos mercados para os quais exportam”. Isto significa a necessidade de “soluções que mitiguem o risco de crédito dos seus clientes”, adianta a gestora.

Ainda de acordo com o mesmo documento, e dentro dos riscos a que estão sujeitas as empresas para o corrente exercício, está a perspetiva de Portugal poder vir a registar “2.590 insolvências”. E isto porque é esperado um crescimento económico na Europa ocidental abaixo do valor que por regra estabiliza o número de insolvências, ou seja, cerca de 1,7% do PIB. Embora moderada, a generalidade dos países vai registar uma subida das insolvências, caso de Espanha com mais 5% do que em 2019, sendo este o principal parceiro comercial de Portugal. Alemanha e Reino Unido vão registar um aumento de 3% nas insolvências e Itália mais 4%. Em Portugal é esperado um número de insolvências que será cerca de 2% do ano anterior, enquanto em França a expetativa é de estabilização.

Mas o tema das insolvências é bem mais grave fora dos países europeus e lembremo-nos que Portugal alargou substancialmente o número de países clientes das suas exportações. A seguradora Euler Hermes salienta que “um em cada dois países no mundo” terá mais empresas em dificuldades do que no período anterior à crise financeira, ou seja, num comparativo a 2007. Ainda assim, Portugal teve crescimentos modestos, tendo aumentado o número de insolvências em 23% entre o início da crise financeira e o ano passado.

Em suma, as empresas enfrentam desafios e riscos perante crescimentos moderados dos países europeus, disputas comerciais – que não se limita a EUA versus China, mas também EUA versus Europa –, incertezas políticas e tensões sociais. E segundo o documento da Euler Hermes existe ainda uma “discrepância crescente entre os setores industriais, mais expostos às trocas comerciais internacionais e os setores dos serviços que vão beneficiar da resiliência da procura interna”.

Por outro lado, o impacto económico do novo coronavírus está a gerar dúvidas entre as economias mundiais, sendo Itália um dos países afetados. Mas como refere Paulo Morais, da Crédito y Caución, “as dúvidas quanto ao crescimento do PIB chinês, agora mais do que nunca, constituem um terceiro fator desestabilizador da economia mundial”. Adianta Paulo Morais que, para a China, a guerra comercial aumentou o risco de uma desaceleração do PIB que pode fugir ao controlo das autoridades chinesas e que afete diretamente a economia mundial, tendo em conta a dimensão e o peso da China.

Portugal
No que respeita a riscos para Portugal, é de assinalar um risco de crédito elevado para países africanos e do Médio Oriente, como Moçambique, Angola ou Irão. Ainda assim, os maiores parceiros de Portugal mantêm risco de crédito idêntico ao ano anterior e falamos de Espanha, Alemanha, França e Reino Unido.

José Monteiro, da seguradora Coface, explica que as medidas protecionistas não são exclusivas das duas maiores potências do mundo. Afirma que “o desejo de muitos países emergentes de proteger um grande número das suas indústrias, enfraquecidas pela concorrência internacional, irá mentê-los cautelosos quanto à abertura do comércio”. Este facto pode afetar as exportações portuguesas. O comércio internacional global em volume de mercadorias foi em 2019 inferior ao ano anterior, um fenómeno que não ocorria há dez anos.

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