Uma recuperação lenta, com várias velocidades consoante os setores e totalmente refém da evolução próxima da pandemia. É este o vaticínio dos economistas consultados pelo Jornal Económico (JE) sobre o ritmo e as características da retoma da economia em Portugal, sendo que deixam também o alerta para o impacto inevitável que a performance mundial terá.
“A recuperação vai ser lenta. A incerteza não melhorou e aquilo que está a acontecer em vários países é o regresso ao lockdown em zonas localizadas”, diz Susana Peralta, economista e professora da Nova SBE.
A opinião é partilhada por Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, que explica que atualmente os mercados acionistas a nível mundial descontam uma recuperação económica em “V”, ou seja, uma recessão económica bastante cavada mas rápida, embora a “economia portuguesa seja das mais vulneráveis devido ao considerável peso do setor do turismo, e uma retoma mais rápida, idêntica à norte-americana poderá estar comprometida”.
“Em virtude do distanciamento social, espera-se nos próximos tempos uma economia a 90%, com alguns setores a laborarem a cerca de 40%, nomeadamente a hotelaria, viagens de longo curso, turismo. Como estes setores têm um peso acrescido na economia nacional, a recuperação económica poderá ser mais lenta”, assinala.
Para Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros, o mais provável é que o ritmo da recuperação seja alinhado com aquilo que acontecer no resto do mundo, e na Europa em particular. “Há todo um conjunto de indústrias exportadoras em Portugal, cuja recuperação dependerá muito de tudo aquilo que acontecer no resto da Europa. Esses setores estarão muito mais suscetíveis a uma recuperação mais rápida”, diz. No entanto, adverte que o mesmo não deverá acontecer com os outros setores. “Se olharmos para o retalho e para os serviços, o consumo interno dependerá muito da evolução da pandemia”, sustenta.
“O setor do turismo, sem contar com o turismo interno, vai estar muito pouco animado. É evidente que a recuperação vai ser lenta e é evidente que vai ser diferenciada para cada setor. Todo o setor do turismo e dos serviços que dependem muito do turismo, que são a restauração, os guias turísticos, vai ser avassalador. Vai durar vários anos, não tenho dúvidas nenhumas disso”, vinca Susana Peralta.
Paulo Rosa detalha acreditar que a recuperação será mais lenta no setor do turismo, mas nas atividades a este ligadas como a hotelaria, restauração, aviação, viagens fora da região ou de longo curso, bem como de algumas empresas exportadoras devido ao agravar das tensões comerciais e recrudescimento do protecionismo.
“O distanciamento social veio acelerar a implementação da quarta revolução tecnológica, beneficiando as empresas fornecedoras de equipamentos, softwares e aplicações de conference calls. As compras online são uma realidade crescente. No meio da pandemia de Covid-19, o setor tecnológico “chegou, viu e venceu””, aponta como positivo.
Os economistas ouvidos pelo JE são ainda unânimes em considerar que a recuperação da economia portuguesa ficará cativa da possibilidade de uma segunda vaga pandémica. “Vai depender se existe uma segunda vaga e em que dimensão. Esse tema é absolutamente fundamental”, afirma Filipe Garcia. “Estamos a assistir a um conjunto de indicadores económicos na Europa, nomeadamente confiança, PMI, que dizem que o pior pode já ter passado, mas, ao mesmo tempo, estamos a ver as bolsas a ficarem preocupadas com esta segunda vaga”, sustenta.
Para Paulo Rosa, uma segunda vaga prolongará no tempo a recessão económica em Portugal, no entanto considera que as autoridades e os sistemas de saúde portugueses, e também internacionais, já estão melhor preparados para responder a essa possibilidade.
“Será difícil termos outra vez um confinamento generalizado, a não ser que a Covid-19 se agudize de forma significativa, nomeadamente no próximo inverno. A resposta das autoridades portuguesas a uma hipotética segunda vaga, que poderá ser localizada, dependerá da atuação dos outros países, designadamente da União Europeia e em particular dos que estão mais perto. Um confinamento localizado sem colocar em causa geografias, onde não existe presença considerável da Covid-19, poderão laborar normalmente”, diz.
É neste contexto que Filipe Garcia sublinha que “da mesma forma que foi a pandemia a causar este problema, será a evolução de tudo relacionado com a pandemia que nos vai dar as pistas sobre como vai ser a recuperação”.
Para Paulo Rosa, ainda assim há que os setores da economia que estão a procurar adaptar-se. “O turismo está a reinventar-se em Portugal e a tentar responder à alteração de comportamento dos clientes, como é por exemplo a crescente procura por moradias com piscina, como forma de manter o distanciamento social e impedir a propagação do novo coronavírus”, exemplifica, acrescentando que o setor da hotelaria nacional “está a readaptar as suas instalações, com todos os cuidados para cumprir o distanciamento social”.
“As empresas tecnológicas e de informação portuguesas devem aproveitar o distanciamento social para capitalizarem as suas receitas”, afirma.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com