Em Madrid, onde se verificam mais casos novos de infeção por coronavírus a cada dia do que na grande maioria das comunidades espanholas, duas questões estão a intrigar os especialistas que têm acompanhado a evolução da pandemia no país: de onde vêm estes 30 a 50 casos diários novos, e porque não estão estes agrupados em focos de contágio?
Avança o El País que, apesar da lista de focos, não vai ser oficialmente divulgada pelo Ministério da Saúde espanhol a informação agregada por regiões disponibilizada pelos vários governos regionais permite verificar a origem dos vários surtos ativos no país. Em Madrid, mesmo com a testagem que é feita em várias frentes (por exemplo, a pacientes antes de se submeterem a cirurgias ou trabalhadores de empresas que façam controlos à entrada), as autoridades de saúde têm apenas quatro surtos locais ativos identificados, não conseguindo desvendar a sua origem.
O Ministério da Saúde justifica este baixo número de surtos identificados pelas características dos casos que têm surgido – dentro de um agregado familiar e com sintomas ligeiros. Para os responsáveis de saúde, a classificação de “surto” envolve três ou mais contactos entre doentes que não partilhem residência, ou uma só transmissão dentro de um lar de idosos, e o rastreamento de contactos não tem conseguido encontrar ligações nas novas infeções descobertas que permitam qualificar a situação como surto. No entanto, segundo várias fontes consultadas pelo El País, o problema reside precisamente nos rastreadores, que se têm revelado incapazes de lidar com o volume de trabalho.
Helena Legido-Quigley, uma especialista em saúde pública, disse à publicação espanhola que o caso madrileno espelha bem o que se passa um pouco por toda a Espanha, onde, por cada caso positivo, são identificados quatro contactos, bem longe da média europeia de 14. Também Javier Padilla, médico de cuidados primários, acredita que “a demora no rastreamento dificulta a identificação de surtos ao esfumar a lembrança das pessoas dos locais onde esteve”, dificultando o rastreamento dos seus contactos. O médico diz ainda que no centro de saúde onde trabalha se verifica que as autoridades de saúde chegam a demorar “até uma semana a contactar o paciente para o estudo de contactos”.
Outra objeção aos dados apresentados é a discrepância nos números do Ministério da Saúde, que aponta para 762 casos em Madrid nos últimos 14 dias, e os da Comunidade de Madrid, que regista 588, discrepância essa que nenhum dos lados consegue explicar. Dos 762 casos identificados pelo Ministério, apenas para 23 doentes o contágio foi identificado como proveniente de um surto; nos restantes 739 casos, a informação oficial é de que serão principalmente “de carácter familiar”.
A maior parte dos especialistas consultados pelo El país aponta a suborçamentação para a saúde pública como o cerne do problema. Madrid especificamente vive há anos uma escassez de profissionais na área da saúde, um problema que a Comunidade havia prometido resolver com o reforço de 400 trabalhadores, promessa essa que rapidamente baixou para 172 e, a meio de julho, se efetivou em aproximadamente 30 pessoas.
Outro obstáculo identificado é técnico e prende-se com a falta de integração da informação nos sistemas hospitalares, o que leva a que a informação tenha de passar por muitas pessoas e por mecanismos não uniformizados. No entanto, a ideia passada é de que, neste capítulo, a Comunidade está a trabalhar para melhorar o sistema, para que este seja “mais rápido e automático, com menos passos entre os profissionais”.
Fernando Rodríguez-Artalejo, catedrático do Departamento de Medicina Preventiva e Saúde Pública na Universidade Autónoma de Madrid, apelou a que a informação disponibilizada seja mais clara, com a “origem dos 20-50 casos diários (lar de idosos, empresas, centros de saúde), nacionais ou importados, percentagem de assintomáticos, tempo desde sintomas ao diagnóstico, percentagem de testes positivos, número total de testes realizados, número de contactos rastreados e em quarentena, e proporção de pacientes em que se identifica a fonte de contágio”. Também Pedro Gullón, da Sociedade Espanhola de Epidemiologia, diz que a falta de informação detalhada faz com que as transmissões em Madrid se tornem num “mistério”. “O número de transmissões não chega a baixar, mas também não sobe. O mais normal seria que existem surtos”, conclui ao El Pais.
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