O primeiro-ministro António Costa lançou um claro desafio aos ex-parceiros de “geringonça”, Bloco de Esquerda, PCP e PEV, para um “roteiro de ação a médio e longo-prazo” que permita “prosseguir o caminho iniciado em 2015” no resto de uma legislatura que ficará marcada pela recuperação da crise económica e social provocada pela pandemia de Covid-19 e pela necessidade de acelerar a transição digital e energética. Na abertura do debate do Estado da Nação, que encerra nesta manhã de sexta-feira o ano parlamentar, Costa fez um apelo direto aos “partidos que connosco viraram a página da austeridade”.
“Necessitamos de um quadro de estabilidade no horizonte da legislatura. A magnitude da tarefa que temos em mãos não se compadece com acordos de curto-prazo nem com tácticas de vistas curtas baseadas em exercícios de calculismo eleitoral. A resposta a esta crise não passa pela austeridade ou por qualquer Precisamos de um entendimento sólido e duradouro. Se foi possível antes, será certamente possível agora; se foi útil agora, revela-se indispensável agora perante o desafio de vencer a crise pandémica como aquela que nos assola”, vincou o primeiro-ministro.
António Costa apontou como pontos de contacto entre o PS, o Bloco de Esquerda, o PCP e o PEV posições comuns quanto à necessidade de reforçar a capacidade produtiva e valorizar os recursos de Portugal, combater a precariedade na habitação e no mercado de trabalho, e dar prioridade ao investimento público e ao reforço dos serviços públicos, “sem prejuízo das visões distintas” quanto à Europa e à importância de estabilizar o quadro macroeconômico.
Mais tarde, já na fase de debate, o primeiro-ministro disse à coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins – que não se mostrou particularmente receptiva ao desafio que lhe lançara – que as “circunstâncias mudaram” desde o início da legislatura, argumetando que “quem conseguiu que o PS não tivesse maioria absoluta tem agora a responsabilidade de assegurar que haja ‘geringonça’, mas com um PS mais forte”, para fazer frente aos problemas decorrentes da pandemia de Covid-19.
Numa intervenção inicial em que destacou o “envelope financeiro sem precedentes”, com 57,9 mil milhões de euros de transferências a fundo perdido que chegarão da União Europeia na próxima década, António Costa defendeu que além de responder às necessidades imediatas dos portugueses é imperativo fazer transformações estruturais para a modernização de Portugal, cumprindo os objetivos de digitalização e sustentabilidade ambiental.
Defendendo que os resultados do Conselho Europeu desmentiram “aquele que diziam que da Europa nunca viria resposta adequada à crise”, mas também àqueles para quem “pertencer à Europa era aceitar acriticamente as soluções austeritárias”, António Costa realçou a “enorme responsabilidade” de projetar, executar e fiscalizar para garantir a melhor execução dos recursos europeus numa conjuntura em que, como disse no arranque do Estado da Nação, “Portugal está consternado pelo luto, mas mobilizado para a luta”.
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