“Partimos de uma caravançara junto deste mar e fomos dormir a uma vila que se chama Argiz, que é habitada de arménios cristãos. É de boa comarca, e de muitas aldeias e lugares, tudo habitado destes cristãos arménios, que estão em mais liberdade que [em] outro nenhum lugar atrás. E aqui habitam poucos mouros curdis, com que se avêm muito bem os cristãos. A vila é rasa e sem cerca, de bons edifícios e casas todas terradas por cima. É terra muito fria. Vestem estes cristãos o vestido feito ao costume de Pérsia, trazem na cabeça uns carapuções de seda com umas trombas tão grossas como o braço de um homem (…)”.
A editora Livros de Bordo continua o seu excelente trabalho de recuperar relatos de viagem escritos por portugueses e há muito desaparecidos das prateleiras das livrarias. Depois de Luís Fróis (“Tratado das Contradições e Diferenças de Costumes entre a Europa e o Japão”), agora calhou a vez a António Tenreiro com o seu “Itinerário da Índia Por Terra a Este Reino de Portugal”.
António Tenreiro nasceu em Coimbra por volta de 1500. Embarcou jovem para a Índia e, em 1523, prestava serviço em Ormuz quando integrou uma das embaixadas portuguesas enviadas a Tabriz, na Pérsia. Depois de alguns meses em Tabriz, onde terá aprendido persa, viajou até ao Cairo por regiões controladas pelo Império Safávida e pelo Império Otomano, talvez em missão de espionagem. Regressado a Ormuz, aí residiu até 1528, quando empreendeu uma nova viagem por terra até Portugal, com o encargo de levar cartas urgentes a el-Rei D. João III. Três décadas mais tarde, publicaria em Coimbra o “Itinerário”, relato das suas aventurosas viagens.
Ou seja, não foi só o veneziano Marco Polo que narrou as suas viagens pelo mundo. António Tenreiro, Cavaleiro da Ordem de Cristo, inclui-se num grupo alargado de portugueses que empreendeu viagens por via terrestre e delas deixaram testemunho, como por exemplo, o seu contemporâneo Damião de Góis (que viajou bastante pela Europa Central); o franciscano Frei Pantaleão de Aveiro, que foi em peregrinação à Terra Santa, também no século XVI (e que inspirou o livro “A Casa do Pó”, de Fernando Campos); o jesuíta António de Andrade, que no primeiro quartel do século XVII chega ao Tibete (“Cartas do Tibete” foi, também, editado pela Livros de Bordo); Pêro da Covilhã que, ao serviço de D. João II, viaja pela Índia e pelo mítico reino de Prestes João; ou, mais recentemente, Roberto Ivens e Serpa Pinto, que exploraram o continente africano. Não nos espantemos, pois, que haja um português em cada canto do mundo.
Uma sugestão de leitura da livraria Palavra de Viajante.
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