Num mundo virado às avessas pela pandemia de Covid-19, a “capacidade que a União Europeia teve de se reinventar e de acelerar as escolhas necessárias” para, de forma consertada e comum, enfrentar os desafios da emergência sanitária, é da maior relevância, segundo disse o ministros dos Negócios Estrangeiros, Augusto Satos Silva.
Intervindo (com o vídeo pré-gravado) na 4ª Conferência de Lisboa 2020, da responsabilidade do Clube de Lisboa, Santos Silva admitiu que “a primeira resposta à pandemia foi descoordenada e insuficiente”, dado que “ninguém sabia” aquilo que tinha pela frente, mas recordou que a partir do “Conselho Europeu de julho” tudo mudou.
Nomeadamente porque, em tempo recorde e sem excessos de subtilezas nacionais, “foi decidida a primeira emissão conjunta de dívida garantida por todos nós”, o que não só serviu “para quebrar um tabu que nos paralisava”, como foi necessário e suficiente para demonstrar a flexibilidade e a pouca morosidade das decisões centralizadas na Comissão Europeia.
O investimento nos recursos próprios, a transição ambiental (nomeadamente no que tem a ver com a resposta às alterações climáticas) e a aposta na resiliência produtiva – tudo fruto de um esforço de investimento financeiro comum – colocou aquela reunião magna de presidentes e chefes de Estado dos 27 num patamar que a própria União nunca antes havia atingido, na opinião de Augusto Santos Silva.
Numa conferência subordinada ao tema ‘A aceleração das mudanças globais’, o ministro dos Negócios Estrangeiros deixou três temas de reflexão, que importa esmiuçar – e que o Clube de Lisboa se encarregará de fazer: como responder coletivamente e de forma multilateral aos desafios globais; como vão as grandes potências e as regiões sair do esforço de combate à pandemia e da própria pandemia; e “quais são as consequências destas duas questões para a ordem global”.
Recordando que a Covid-19 “toca a todos mas não toca a todos de forma idêntica”, Santos Silva afirmou que a África e a América Latina estão do lado errado das consequências sanitárias da pandemia. Entre outros razões, porque “a Organização Mundial da Saúde não pôde agir por consenso e com toda a capacidade analítica” de que deveria dispor. Parecendo ser uma crítica à falta de informação que (não) circulava entre a OMS e a China, onde o vírus se manifestou pela primeira vez, Santos Silva disse que “a reforma da ONU”, que considerou necessária para manter um elevado grau de resposta multilateral aos problemas globais, tem de passar pela reforma “quer da OMS quer da Organização Mundial do Comércio” – duas instituições que a Casa Branca diz estarem cercadas pelo governo chinês.
Mesmo assim, Santos Silva disse ser a favor de um mundo pluripolar, onde várias regiões e várias potências mundiais possam existir em paralelo, uma vez que é desta diversidade que nasce o fundamental “equilíbrio” entre as diversas vontades planetárias.
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