George Orwell deve a sua fama principalmente a dois livros: “1984”, uma distopia em que o totalitarismo vigente assenta numa vigilância omnipresente a que, infelizmente, já abrimos a porta – e dir-se-ia até que de bom grado –, e a “A Quinta dos Animais” (anteriormente, intitulado “O Triunfo dos Porcos”), a história de uma revolução que correu mal, já que alguns animais eram, afinal, mais iguais do que outros.
Outra obra marcante, eventualmente mais esquecida, é “Homenagem à Catalunha”, um relato em primeira mão das condições brutais em que decorreu a Guerra Civil de Espanha, na qual Orwell participou como miliciano. Neste livro, descreve as esperanças e traições a que assistiu, a euforia inicial em Barcelona, a coragem dos espanhóis comuns e o terror e confusão que se viveram na frente de combate.
Menos conhecida é a sua vida antes deste episódio, em particular a sua experiência como agente da polícia na Birmânia. Inspirado precisamente nessa época, “Dias Birmaneses”, editado em Portugal pela Relógio d’Água, o seu primeiro romance, mostra-nos uma imagem devastadora do domínio colonial britânico, descrevendo em detalhe a corrupção e intolerância que se viviam numa sociedade onde “apesar de tudo, os nativos eram nativos — interessantes, sem dúvida, mas (…) um povo inferior de pele negra.”
Um funcionário da administração britânica tenta escapar ao profundo chauvinismo dos colonos do Império, seus conterrâneos, mas a sua simpatia pelos birmaneses e pela sua ânsia de liberdade terminam numa imprevista tragédia pessoal.
George Orwell é o pseudónimo de Eric Arthur Blair (1903-1950), nascido em Bengala, na Índia britânica. A mudança de nome correspondeu a uma mudança radical no seu estilo de vida, de pilar da ordem imperial britânica a rebelde literário e político. Já na Birmânia, para onde regressara para seguir nas pegadas da tradição familiar, constata que os birmaneses não queriam estar sob o poder britânico e sente-se envergonhado do seu papel enquanto colonizador. Há muito decidido a tornar-se escritor – em Eton fora aluno de Aldous Huxley, autor de “O Admirável Mundo Novo” –, demite-se da polícia e vai viver entre mendigos e trabalhadores pobres, em Paris e em Londres, numa tentativa de expiação do seu passado.
Desta experiência surgiria o livro “Na Penúria em Paris e em Londres”. Mais tarde, a sua vivência entre os mineiros desempregados do norte de Inglaterra resultaria em outro livro, “O Caminho para Wigan Pier”. Declarando-se inicialmente anarquista, viria depois a considerar-se socialista – e sempre demasiado libertário para alguma vez poder tornar-se comunista.
Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.
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