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António Horta Osório diz que rácio de capital dos bancos não acomoda aumento da cobertura do malparado

Se os bancos aumentassem imediatamente o rácio de cobertura de NPE para os 80% que o BCE pede, o rácio de capital dos bancos portugueses caía de 13% para 10%, o que é muito baixo”, diz António Horta Osório.
  • Horta Osório
20 Novembro 2020, 13h28

António Horta Osório, presidente do Lloyds Banking Group, falava na Money Conference do Dinheiro Vivo e da TSF sobre a capitalização dos bancos portugueses, numa intervenção feita através de videochamada.

Na sua análise, Horta Osório referiu que os rácios de capital dos bancos portugueses, em termos agregados, têm vindo a subir significativamente e têm hoje um rácio de capital médio de 13,5%, ligeiramente acima dos italianos e muito do dos espanhóis (12%). Mas, ressalva, este rácio tem de ser conjugado com o valor de ativos improdutivos em percentagem do total do crédito dos bancos portugueses, e que é ainda muito elevado face aos pares europeus.

Os rácios de Non-Performing Exposure (NPE), vulgo malparado, dos bancos portugueses têm vindo a descer (chegou a estar nos 17% há três anos e está hoje nos 9%) mas ainda é muito elevado, avisa Horta Osório que infelizmente vão subir depois das moratórias de crédito, sobretudo no crédito a empresas  dos setores mais afectados pela crise.

No entanto, alerta, o rácio de cobertura por imparidades dos bancos portugueses está em cerca de 52%, abaixo do guidance do BCE que é de 80%.

“Se os bancos aumentassem em cerca de 30% o rácio de cobertura, de forma imediata, o rácio de capital dos bancos portugueses caía de 13,5% para cerca de 10%, o que é muito baixo”, diz António Horta Osório. Isto é uma fragilidade da banca portuguesa, disse.

Resumindo, o CEO do Lloyds defende que os bancos portugueses têm de aumentar o provisionamento para acompanhar as orientações do BCE e o problema agrava-se quando o malparado aumentar inevitavelmente e por isso os bancos têm de continuar a reforçar o seu balanço.

Nesse sentido, António Horta Osório defende que os bancos suspendam a distribuição de dividendos para reforçar ainda mais os rácios de capital para poderem apoiar a retoma da economia, que “esperemos que aconteça em 2021”.

“Os bancos foram parte da solução”, lembrou o banqueiro, referindo-se ao papel das moratórias na manutenção da estrutura produtiva da economia, quer para as empresas, quer para as famílias. Sendo que as moratórias também salvaram os bancos do impacto imediato de um previsível aumento de malparado fruto do fecho da economia que comprometeu os cash-flows dos devedores para fazer face à dívida bancária.

“Os bancos têm a responsabilidade acrescida de devolver esses apoios à economia, como têm vindo a fazer”, disse.

Já em relação à redução da dívida da economia, António Horta Osório sublinha que Portugal tem vindo a fazer uma positiva redução nos últimos anos, mas que este “rácio continua muito alto”. A dívida pública e privada está em 281% do PIB, 15% acima antes da grande crise, ainda que 20% abaixo do rácio de endividamento da economia portuguesa em 2013, revelou Horta Osório que apela à necessidade de redução do endividamento da economia.

António Horta Osório defendeu também ser “absolutamente necessário” que o Governo continue com apoios públicos, mesmo que isso signifique um aumento do défice e a dívida pública. Mas alerta que esses apoios devem ter em vista “o curto prazo”.

O CEO do Lloyds defendeu que o que é importante a médio prazo “é que os apoios corretos que têm vindo a ser dados à Economia e os próximos apoios a serem concedidos sejam, o mais possível, apoios extraordinários, que não se repitam em anos seguintes”. E defende que “a um efeito extraordinário da Covid-19 devem corresponder apoios extraordinários” de forma a que não seja afetada, “de maneira significativa, a sustentabilidade do nosso défice orçamental em anos futuros.”

Horta Osório defende que os apoios disponibilizados, como foi o caso do lay off, foram positivos para a economia portuguesa e apoio às famílias mas que não deverão ser disponibilizados a médio e longo prazo.

“Com tempo e a longo prazo”, o Governo deve preocupar-se com a correção das contas públicas e voltar à trajetória de descida da sua dívida, defendeu o banqueiro.

O banqueiro lembra os juros perto de zero da dívida portuguesa.  “Isso torna o esforço de ajustamento menos pesado porque o peso dos juros é menor do que há três ou quatro anos”, disse.

 

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