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Da ascensão à desgraça: a história da gigante chinesa Evergrande

Esta semana está a ser marcada pelo nervosismo nos mercados financeiros, depois de terem surgido vários relatórios que apontam para um risco iminente de incumprimento da gigante chinesa Evergrande.
21 Setembro 2021, 14h22

Vários meios de comunicação começaram a avançar com a informação de que a empresa poderia não conseguir pagar os juros da sua (enorme) dívida, que irão vencer já esta quinta-feira, correndo o risco de entrar em incumprimento.

Os mercados não tardaram a reagir, as principais bolsas mundiais entraram em sell-off, em conjunto com as matérias-primas e o próprio mercado dos cripto-ativos, enquanto que ativos de refúgio como o franco suíço (CHF) e o iene japonês (JPY) valorizavam devido à aversão ao risco por parte dos investidores. Como consequência, a sessão de segunda-feira acabou por se tornar o pior dia de negociações dos últimos 2 meses. Acompanhe na plataforma xStation as flutuações dos mercados financeiros.

 

Desempenho dos índices chineses ao longo dos últimos 12 meses. Deve notar-se que, apesar dos índices norte-americanos continuarem a bater novos máximos históricos, os índices chineses estão a testar os mínimos atingidos durante a primeira vaga da pandemia. Fonte: xStation 5

 

Evergrande é o segundo maior grupo imobiliário na China em termos de vendas. A empresa emprega quase 200 mil trabalhadores, mas esse número poderá ser muito maior se contarmos com os cerca de 4 milhões de pessoas que podem estar ligadas à gigante chinesa, com particular atenção para os 70 mil investidores e centenas de bancos que financiaram a mesma.

A expressão da Evergrande no mercado imobiliário chinês é significativa – este sector representa mais de 18% do PIB na China. A empresa tem entre 1 a 1,5 milhões de apartamentos em construção e gere 2800 bairros em mais de 300 cidades. Além da sua exposição no mercado imobiliário, também tem uma presença em vários sectores como o da saúde, produtos de consumo, entretenimento e veículos eléctricos.

No entanto, os problemas começaram a surgir ao longo dos últimos tempos. A ascensão da empresa foi alimentada pela facilidade de acesso a créditos no país e pela especulação imobiliária. O excesso de alavancagem financeira e de especulação resultaram num endividamento sem precedentes do maior grupo chinês.

Estima-se que a empresa tenha dívidas superiores a 300 mil milhões de dólares, tornando-a uma das mais endividadas em todo o mundo. Os empréstimos e obrigações perfazem apenas um quarto deste montante. A parte restante é constituída por compromissos com fornecedores e empreiteiros, com as obrigações emitidas no estrangeiro a valerem 20 mil milhões de dólares.

Esteja a par da atualidade nos mercados financeiros em tempo real.

Embora a dívida externa seja relativamente pequena, é de notar que a Evergrande é um dos maiores emissores de obrigações de empresas nos mercados emergentes. O potencial colapso da Evergrande cria um risco real de incumprimento por parte de outras empresas altamente endividadas e levantaria sérios problemas no sector bancário chinês, podendo provocar um efeito dominó na economia, semelhante ao que aconteceu durante a última grande crise financeira nos EUA após o Lehman Brothers ter declarado falência.

Este é, inquestionavelmente, o maior risco financeiro do governo de Xi Jinping. Apesar dos reguladores já há algum tempo alertarem para esta situação, o governo insiste que não pretende intervir. Por outro lado, as autoridades chinesas têm meios para evitar uma crise. Existem rumores de que uma eventual intervenção do governo chinês será mais dirigida aos bancos e às famílias do que às empresas imobiliárias.

Contudo, a falência controlada pelo Estado pode ficar rapidamente fora de controlo e, sem um apoio rápido, pode desencadear uma crise de liquidez

Na próxima quinta-feira, 23 de setembro, vencem os juros da dívida da empresa, podendo colocar os mercados novamente sob pressão, no caso da empresa entrar em incumprimento. Saiba como poderá fazer cobertura do risco do seu portfólio.

Prende-se agora a grande questão: até que ponto é que podemos estar perante uma situação semelhante à crise financeira de 2007 caso o governo chinês continue a relativizar a gravidade da situação?

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