Um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) que envolveu 53 países coloca Portugal no grupo dos cinco piores no tratamento aos mais velhos, com 39% dos idosos vítimas de violência.
Os dados foram citados nesta sexta-feira, no Porto, numa conferência sobre “Reaprender a Idade: Contributos interdisciplinares”, pela médica e vice-presidente da Comissão de Protecção ao Idoso, Antonieta Dias, que afirmou que “Portugal é o país da Europa que menos investe nas pessoas da terceira idade”.
“Estamos no topo da Europa como o país que menos investimento tem para os idosos. É um estudo que está publicado e ao qual não podemos ficar alheios, para desempenharmos a nossa função de defesa de direitos humanos, de defesa dos direitos dos idosos e de defesa da cidadania”, disse Antonieta Dias.
A especialista frisou que “neste momento somos o país que tem piores condições para cuidar dos idosos, porque falta fazer o investimento credível e acompanhado do idoso”.
Para Antonieta Dias, este “investimento credível e acompanhado” consiste, nomeadamente, “em criar mais alojamentos, investir nos cuidadores, nas pessoas que acompanham os idosos e alargar o leque de investimento em relação ao apoio da terceira idade”.
A responsável apresentou “uma proposta desafiante, que é fazer com que as instituições que têm lucro invistam esses lucros na realização de outros lares, que permitam acolher as pessoas que têm condições económicas mínimas”.
“Grande parte dos idosos tem reformas de 400/500 euros e não pode pagar mil euros para estar institucionalizado durante um período temporário ou definitivo. O meu desafio é que todos comecemos a despertar para esta problemática e fazer com que os lucros das casas que institucionalizam os idosos sejam investidos em lares adaptáveis aos nossos rendimentos. Estamos na Europa, mas os nossos rendimentos estão a léguas de distâncias de todos os europeus”, frisou.
“Portugal tem um sério problema”
No seu Relatório de Prevenção contra os Maus Tratos a Idosos, a OMS analisa as agressões nos últimos cinco anos contra os mais velhos, num universo de 53 países europeus, e conclui que “Portugal tem um sério problema no que respeita aos maus tratos contra idosos.”
Da lista negra fazem parte apenas mais quatro países: Sérvia, Áustria, Israel e República da Macedónia.
O presidente da Comissão de Protecção ao Idoso, Carlos Branco, citou dados da Associação de Apoio à Vítima relativos a 2016.
“Em Portugal é já possível aferir um aumento do número das vítimas idosas, apresentando agora 1009 pessoas idosas vítimas de crime (em média três por dia e 19 por semana). Das 1009 vítimas registadas em 2016, contra 774 em 2013, 679 tinham idades entre os 65 e os 79 anos (67,4%) e 330 tinham entre 80 e mais de 90 anos (32,6%)”, disse.
Em declarações à Lusa, Carlos Branco considerou que face ao envelhecimento da população, “os apoios existentes não são suficientes” e que, por esse motivo, “a sociedade civil tem de organizar no sentido de tentar mitigar estas situações”.
O responsável disse que a Comissão de Protecção ao Idoso avançou há cerca de um ano com a criação da provedoria do idoso, porque “a nível local, não obstante o trabalho meritório das misericórdias, das próprias autarquias e associações que estão no terreno, não existe nenhuma instituição que se dedique e que se ocupe concretamente dos idosos”
Essa figura, de acordo com Carlos Branco, enquadra-se sempre no município, por serem “as entidades mais próximas das populações, conseguindo de forma hábil diagnosticar os problemas sociais locais”.
“Preconizamos que esse provedor seja indicado pela rede social, a câmara municipal valida em sede de executivo e assembleia municipal e, depois, terá de ser validado pela comissão de protecção ao idoso, com quem vai trabalhar”, explicou.
A experiência piloto foi iniciada em 2017, “em Guimarães e Amares, e, entretanto, já foi alargada à Póvoa de Lanhoso. Existem mais quatro municípios do distrito de Braga onde será implementada já no imediato e ainda na Trofa, distrito do Porto”.
“A ideia é criar mais cinco/seis na região do Porto. A metodologia será diferente dada a dimensão do território, o que está pensado, em termos estratégicos, é implementar esta figura no âmbito das uniões de freguesias”, esclareceu.
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