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Quais os riscos que o FMI vê para o crescimento de Portugal?

No relatório da sexta avaliação pós-programa de ajuda externa, o Conselho Executivo do FMI aponta três principais áreas que poderão comprometer o futuro do país.
24 Fevereiro 2018, 11h30

Apesar das melhorias no outlook de médio prazo para Portugal, o Fundo Monetário Internacional (FMI) continua a ver fragilidades e riscos. No relatório da sexta avaliação pós-programa de ajuda externa, conhecido esta sexta-feira, o Conselho Executivo do FMI aponta três principais riscos ao crescimento económico do país.

1. Elevados custos com o mercado de trabalho

“A evolução dos custos da mão-de-obra pode influenciar as perspetivas de investimento e exportação. O declínio nos últimos anos ajudou as empresas a gerarem excedentes para iniciarem a desalavancagem e / ou financiarem novos investimentos a partir de recursos internos. Se esses custos aumentassem mais rapidamente, diminuindo as poupanças das empresas sem um aumento compensatório das poupanças em outros lugares da economia, o investimento não poderia continuar a aumentar sem dar origem a um desequilíbrio externo. Além disso, mesmo que sejam geradas poupanças suficientes em outros lugares da economia (por exemplo, no setor público), um sistema bancário ainda em recuperação pode não ser capaz de intermediá-las efetivamente”.

2. Problemas com parceiros externos, num contexto de dependência do turismo

“As mudanças no ambiente externo também podem prejudicar as perspetivas de crescimento. A dependência do setor do turismo deixa Portugal vulnerável a choques externos. O setor do turismo beneficiou de desenvolvimentos geopolíticos que aumentaram a atratividade de Portugal relativamente a destinos concorrentes. Em termos mais gerais, uma desaceleração do crescimento dos parceiros comerciais (especialmente em Espanha) pode afetar Portugal. As condições financeiras globais mais apertadas, incluindo a redução da programa de compra de ativos do BCE e a normalização da Fed, também podem afetar o crescimento através dos efeitos na procura interna e externa. Os efeitos domésticos serão ampliados pelo significativo grau de alavancagem em toda a economia”.

3. Falta de reformas nas áreas do trabalho, justiça e dívida

“Neste contexto, as reformas estruturais são fundamentais para apoiar o crescimento e a estabilidade financeira, e as reversões de políticas seriam caras. As áreas prioritárias das políticas estruturais incluem a flexibilização do mercado de trabalho, a eficiência judicial e a reestruturação da dívida empresarial, conforme defendido no 2017 Article IV Staff Report and Selected Issues Paper. As reformas da era do programa para tornar a contratação e a negociação coletiva mais flexíveis devem ser salvaguardadas, com a diferença entre contratos temporários e permanentes abordada para tornar os contratos permanentes mais flexíveis em vez de simplesmente restringir os contratos temporários. A flexibilidade nos mercados de trabalho é fundamental para a capacidade da economia de absorver choques negativos e adaptar-se a novas oportunidades que surgem com a mudança estrutural. Além disso, salários que reflitam a produtividade, ajudaria Portugal a aproveitar mais plenamente os participantes mais qualificados da força de trabalho, salvaguardando a competitividade”.

O FMI não reviu as perspetivas de crescimento para Portugal e mantêm a projeção de uma aceleração do produto interno bruto (PIB) de 2,6% no ano passado, 2,2% este ano e 1,8% em 2019. A instituição liderada por Christine Lagarde referiu ainda, apesar do otimismo, ainda há cicatrizes da crise como o fardo da dívida pública, o elevado endividamento das empresas e o crédito malparado.

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