No nosso país subsiste uma certa intolerância social perante quem, independentemente dos motivos, conhece dissabores nos negócios. A “falência” é ainda um estigma numa sociedade que, por circunstâncias históricas, só tardiamente começou a revelar apetência pela iniciativa privada e a valorizar a atividade empresarial.

Veja-se, a propósito, como as fundadoras da Chic by Choice foram crucificadas no pelourinho mediático, depois de se saber que, com a empresa quase inativa, integraram o ranking “30 Under 30” da Forbes. O aparente paradoxo serviu para questionar a credibilidade do empreendedorismo e a sustentabilidade das startups, insistindo-se na velha tecla da “bolha especulativa”. Ora, o que a Forbes avaliou foi a capacidade empreendedora e inovadora de Filipa Neto e Lara Vidreiro. Capacidade, essa, que não deve ser posta em causa pelo insucesso, numa primeira fase, do modelo de negócio da Chic by Choice.

Importa perceber que a atividade empresarial implica, necessariamente, uma boa dose de risco. Há variadíssimos exemplos de ideias de negócio que se pensaria condenadas ao fracasso mas que resultaram e outras que, parecendo fadadas ao êxito, não foram bem-sucedidas. Não existem, de facto, fórmulas mágicas para o sucesso nos negócios e, por conseguinte, o empresário está mais suscetível ao erro. Com a agravante de que, numa economia aberta e competitiva, os erros têm maiores consequências.

O erro é ainda mais frequente entre as startups, que estão numa fase de consolidação dos seus modelos de negócio. Em todo o mundo, as startups registam elevadas taxas de mortalidade porque, dada a natureza disruptiva dos seus produtos, têm mais dificuldade em posicionar-se no mercado do que as empresas tradicionais, cujos produtos são familiares aos consumidores. As startups levam, por isso, mais tempo a construir uma carteira de clientes e, consequentemente, a rentabilizar os seus negócios. Acresce que as startups fazem, em muitos casos, avultados investimentos em I&D e tecnologia, pelo que necessitam de capital intensivo para vingarem.

Importa, pois, ter presente que o erro é não só inerente ao empreendedorismo como um fator essencial ao sucesso, uma vez que enriquece pessoal e profissionalmente o empreendedor. Depois de errar uma, duas, três vezes, as probabilidades de falhar novamente são bastante mais baixas. Há, contudo, que saber evitar riscos desnecessários e aprender com os erros.

A sociedade portuguesa deve desdramatizar o fracasso nos negócios, passar a assumir o erro de forma descomplexada e deixar de estigmatizar quem falha. Ora, isto apenas sucederá com um ensino que transmita uma cultura empreendedora, em que o risco é encarado com naturalidade e sem temores paralisantes. Só assim, reconhecendo que o erro é parte da aprendizagem, formaremos mais empresários, industriais e empreendedores de sucesso!