Acredita que o Governo vai chegar ao final do mandato?
Tem um cimento, que é o facto de, se cair, eles não sabem para onde vão. Mas a questão da TAP vai condicionar o Governo. Deixaram-se cair numa armadilha em que, se a TAP correr bem, a vida corre-lhes mais ou menos. Mas está a correr mal e vai correr mal. O Governo deixou-se cair numa armadilha de quem tem uma visão muito politiqueira. E aqui o Presidente da República não exerce aquela que era, a meu ver, a sua função. Fala todos os dias. Sou de um tempo em que pessoas como Mário Soares, Cavaco Silva e Jorge Sampaio escreviam livros e deixavam marcados os seus mandatos por aquilo que tinha acontecido no passado e por aquilo que era a sua visão de futuro. E todos foram capazes de o fazer: Soares a pensar na História; Cavaco nas reformas que levaram a que Portugal pudesse crescer e integrar-se na União Europeia; e Jorge Sampaio, com os alertas sobre uma série de problemas na sociedade. Três Presidentes completamente distintos, mas que marcaram. E hoje temos um Presidente que, quando terminar o seu segundo mandato, vamos ler tudo aquilo que tem dito e escrito. Custa muito porque votei nele e é do meu espaço político. Tinha uma grande esperança nele. O que acho é que devia escrever para além do seu tempo e antes do seu tempo. A sensação que temos é que comenta as capas dos jornais. Para um Presidente isto é péssimo e uma grande infelicidade. Precisamos de Presidentes que se não sejam tão interventivos no dia a dia. Mas que sejam ouvidos nos momentos certos. E já tivemos isso. Hoje, estou mais próximo de um Presidente da República de esquerda, com quem estive em desacordo, do que de um Presidente que foi eleito com o apoio do meu partido. Imagine o que teria sido o processo da troika com este Presidente. Imagine como teria sido a decisão do Dr. Paulo Portas de abandonar o Governo ainda antes da saída da troika com este Presidente. O que é que teria sido? A História teria sido completamente diferente. Cavaco Silva teve um papel extraordinariamente importante.
Após dez anos de Marcelo, os portugueses vão querer um perfil diferente?
A sua área política tem os prováveis candidatos adequados a essa missão? Depois deste Governo e deste Presidente, a política vai ser muito diferente. Não sei se numa primeira fase vai necessariamente ser melhor, porque os populismos, sejam eles à direita e à esquerda, são perigosos porque são ocos, sobretudo nas suas ideias. São ocas. Não há uma visão global. Mas vai ser diferente.
Marcelo é populista?
Marcelo alimenta a sua popularidade com um discurso populista. Faz lembrar o diretor de uma televisão. Vive preocupado com a audiência diária. E isso é muito negativo. Percebo que o diretor de uma televisão tenha que viver preocupado com a audiência do dia, porque senão vai para a rua. O Presidente da República tem um mandato de cinco anos, não vai para a rua. Portanto, não tem que viver preocupado com a popularidade diária. Mas temos um Presidente que vive preocupado só com a popularidade diária. Sei que isto que estou a dizer é desagradável para muitos. Mas é aquilo em que acredito e sei que, se não arrepiamos caminho, vamos pagar caro.
Quem seria o candidato ideal do PSD nas presidenciais? Passos ou Marques Mendes?
Como sabe, sou muito amigo dos dois. E o Dr. Passos Coelho é um amigo meu de toda a vida. Acho que ele não tem nenhuma obrigação moral. Essa questão tem que ser definida por cada um, nas suas circunstâncias. O PSD tem melhores candidatos do que as outras forças e isso é uma vantagem. Mas essa questão de serem candidatos, a três anos de distância, sei que ninguém tem uma obrigação moral de se candidatar. Estes cargos devem ser bem desempenhados. Quando quem os quer desempenhar acredita que deve ter um projecto, tem que haver uma força interior que o empurra para este desafio. Apresentar-se em público é de uma grande responsabilidade. Ser primeiro-ministro também é de uma grande responsabilidade. Não se pode ser só por ser.
Leia a entrevista completa a Miguel Relvas na edição impressa desta sexta-feira.
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