As audições em sede de comissão de inquérito parlamentar à gestão da CGD estão a produzir efeitos. Não tanto pelas perguntas assertivas dos deputados mas antes pelas respostas lapidares de alguns dos inquiridos. Depois de grandes figuras da banca nacional, onde parte delas se esqueceu dos acontecimentos, apareceu Filipe Pinhal, gestor e ex-presidente do BCP, que há muitos anos guardava as cábulas com os acontecimentos e as datas, tipo memória futura. E de forma despudorada disse o que muitos pensam e não dizem sobre os políticos, os gestores bancários e sobretudo sobre os reguladores do setor financeiro. Vítor Constâncio foi o visado e pelas reações que já teve tudo indica que foram tocados pontos sensíveis. Irá aproveitar a sua nova audiência no parlamento para despejar o que lhe vai na alma.
Mas interessa reter que estamos a falar de acontecimentos ocorridos no período do subprime entre 2007 e 2009, ou seja, já lá vai uma boa dúzia de anos. Para Filipe Pinhal este foi o momento ideal até porque há cinco anos boa parte dos leitores pensaria que este seria um ex-banqueiro ressabiado e a alucinar e que atuaria numa revanche pelos processos que lhe moveram os reguladores. Na atualidade, as palavras que proferiu encaixam-se naquilo que tem sido a narrativa difícil de gerir e digerir sobre a banca.
Há um dado crucial em toda a história da banca. Portugal não estava exposto à crise do subprime porque era um país que pedia emprestado e não era um investidor como a China ou a Alemanha. Mas o sistema financeiro nacional, a par do espanhol, francês, italiano, irlandês ou islandês entrou em falência e a conclusão que se pode retirar de imediato é que todos saíram bem da crise menos o português. Isto só pode significar que as decisões políticas dos vários Governos e o regulador não tiveram competência suficiente para delinear um plano estratégico. O sistema espanhol recuperou bem e comprou bancos como o Totta/Santander e o BPI e dos cinco maiores bancos de há 10 anos que detinham 80% do mercado temos hoje uma Caixa doente, um BES desaparecido, um BCP chinês/angolano e um BPI e um Totta/Santander espanhóis. O sistema financeiro espanhol foi bem recuperado e aguentaram os bancos controlados em Portugal. O BCP já o tinha feito em tempos quando engoliu o BPA que estava em estado comatoso, ainda o Sotto Mayor que estava em perda e o Mello que estava falido.
Claramente que o regulador sofreu o percalço da falta de autoridade. Bons foram os tempos de Jacinto Nunes, Pinto Barbosa ou Silva Lopes. Os que vieram a seguir taparam buracos e outros nem isso. Constâncio ficou com um espinho para tirar na próxima audição no parlamento e vai ter de explicar como é que dois bancos grandes, CGD e BPI, iriam resolver o problema de um banco também grande, o BCP. Seria como se o Sporting e o Porto se juntassem para resolver o problema do Benfica!