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“A biomassa é a maior fonte de energia em Portugal”

Entrevista ao Diretor Geral da Central de Biomassa do Fundão (CBF), Manuel Pitrez de Barros, um dos participantes do evento O Futuro é Circular.
16 Maio 2025, 07h55

O que é exatamente a biomassa e de que forma se posiciona na matriz energética portuguesa?

A biomassa, é matéria orgânica, neste caso proveniente de florestas, da agricultura ou de resíduos orgânicos.

A biomassa é a maior fonte de energia em Portugal. Isto se considerarmos a energia térmica e elétrica produzida em Portugal. O que é de desconhecimento do público em geral. Se considerarmos só a produção de energia elétrica, neste momento é a 4ª fonte de energia.

Por outro lado, a Biomassa tem funções únicas, especialmente na indústria e transportes, mas igualmente na produção de combustíveis sustentáveis e no fornecimento de serviços não elétricos.

A Central de Biomassa do Fundão “é uma das maiores indústrias da região do Fundão”. Como tem sido o processo crescimento e consolidação?

Desde o primeiro momento que trabalhamos a 100% da nossa capacidade de produção, então diria que a consolidação foi imediata em termos industriais.

Na minha opinião, o crescimento tem sido mais por parte dos nossos parceiros e fornecedores, que vêm a Central como uma empresa sólida, confiável, que lhes permite investirem e crescerem connosco.

Qual o impacto da sua operação na região, em termos económicos, sociais e ambientais?

O impacto económico é muito grande desde o primeiro momento. Isto porque, mensalmente e anualmente, entre 70% a 90% da nossa faturação fica na região. Mais nenhuma fonte de energia tem este impacto. É um motor económico de grande impacto desde o 1º dia, sendo que em termos sociais se reflete na oferta de postos de trabalhos diretos e indiretos, associados à economia verde e qualificados com investimentos avultados em maquinaria e não só.

Ambientalmente, somos uma fonte de energia renovável. Contribuímos para as metas de Portugal ao nível da descarbonização. Mas mais do que isso, na minha opinião, contribuímos para o investimento na Floresta Portuguesa, que tem sido esquecida nas últimas décadas. E é com o nosso apoio, o apoio privado, que a florestas na região é valorizada, limpa, sustentável e robusta. Tudo isto, depois, reflete-se também na prevenção e no combate aos incêndios.

A União Europeia estipulou o consumo de energia proveniente de fontes renováveis em Portugal deve atingir os 51% até 2030. Que papel pode a biomassa desempenhar no cumprimento desta meta?

A biomassa, sendo a fonte de energia mais antiga do Mundo, deve ser promovida e alvo de maiores investimentos e abertura de concursos por parte do Estado. Acresce que, e como já referi, é a primeira fonte de energia em Portugal. Assim, acredito que irá continuar a reforçar a sua presença como primeira fonte de energia, nomeadamente porque as indústrias que necessitam de vapor e não podem eletrificar-se vão fazer a transição para a biomassa para descarbonizar os seus processos.

De acordo com dados da DGEG, a biomassa contribuiu com cerca de 6% da eletricidade consumida em 2023. Há potencial para aumentar essa percentagem?

6% de energia elétrica. Este valor vai aumentar por dois motivos. Primeiro, o governo vai atribuir mais 60MW de energia elétrica. Como medida de prevenção e combate aos incêndios. E segundo, porque o mercado de biometano ou biogás vai começar a crescer. Já quanto aos níveis de crescimentos, estes vão depender de quanto as outras fontes de energia vão crescer.

Além de produzir energia, a biomassa contribui também para a prevenção de incêndios, ao valorizar resíduos florestais. Como é feita essa recolha e gestão dos resíduos na CBF?

A recolha é feita por empresas privadas e ou pessoas unipessoais. O nosso trabalho e função é o de disponibilizar um local que valoriza a floresta e a sua limpeza. Também temos tentado desenvolver projetos com entidades locais, nomeadamente a Câmara Municipal para os ajudar a cuidar e valorizar as suas áreas florestais.

De que forma a CBF se inscreve nos princípios da economia circular?

Na minha opinião, a operação normal da CBF é uma economia circular. A biomassa valorizada, produz eletricidade, e o seu CO2 é depois absorvido pela floresta. Além disso, as cinzas da queima da biomassa são usadas para produzir fertilizantes orgânicos, e ou são incorporadas na produção de cimento. E os inertes da biomassa são usados como substrato na agricultura local.

Quais são os principais desafios da sua atividade à data de hoje?

A falta de fornecedores com capacidade e ou vontade de investir em maquinaria para valorizar ainda mais a biomassa residual. Temos vindo a desenvolver um trabalho com alguns fornecedores para que investam em máquinas para nos trazerem mais e melhor biomassa residual.

O que se pode esperar do futuro da biomassa em Portugal? Estamos a caminhar no sentido certo para integrar esta fonte de energia de forma mais ambiciosa?

A biomassa está mais que integrada, embora só se fale de outras fontes de energia, sendo que vai passar a ter um papel ainda mais predominante com o mercado de biometano a aquecer e com os projetos de grande envergadura de amónia e metanol verde em Sines, através do fornecimento do seu CO2 biogénico.

Além disso, as centrais de biomassa são centrais que trazem estabilidade ao sistema elétrico nacional. Têm inércia, são reguláveis e em caso de apagão podem ficar em modo de ilha, ou seja, a funcionar ao realentem, até que a rede esteja estável outra vez para receber energia. Em poucos minutos estão a injetar em plena carga na rede Nacional.

Por fim, há algum projeto ou inovação em curso na Central do Fundão que gostaria de destacar?

Neste momento ainda estamos em estudos e conversações iniciais, mas estamos a estudar a captura de CO2 e o fornecimento de energia térmica para uma indústria local.

 

 

Este conteúdo patrocinado foi produzido em parceria com a Central de Biomassa do Fundão

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