Não são efetivamente negras, mas cumprem um novo propósito na otimização da rede de estabelecimentos que servem toda a população. As Dark Stores não são apenas uma moda em tempos de Covid-19. Vieram para ficar e são uma nova resposta para a sustentabilidade e para a rentabilidade das lojas online.

Uma Dark Store não passa de uma loja que foi convertida ou criada como centro de consolidação logística e que permite dar uma resposta efetiva à mudança nos hábitos de consumo.

Com o aumento das compras online, aumentaram também as entregas ao domicílio e as Dark Stores são a solução para a origem da última etapa de distribuição, otimizando a rede logística das entregas, baixando custos de distribuição e garantindo janelas horárias de entrega mais precisas.

Este é já um modelo utilizado com frequência fora de Portugal, como é o caso da Walmart, mas já não é, na verdade, um conceito distante da realidade portuguesa. Em 2015, a Sonae MC abriu a sua primeira Dark Store, em Telheiras. Esta estratégia não é exclusiva do retalho alimentar e começa já a ser endereçada a outros segmentos do retalho, onde a competição por espaços pode até transformar o mercado imobiliário. Os conceitos de uberization e fulfillment passaram a ser uma tendência e até a Glovo já conta com uma estratégia de Dark Stores em Portugal.

Mas afinal qual o risco de investimento em Dark Stores para uma marca? O maior risco é falhar a rentabilidade pela abertura destes espaços. No caso da conversão de um estabelecimento, não basta avaliar a rentabilidade de uma loja. Primeiro, porque os hábitos de consumo se alteraram; segundo porque o propósito de uma Dark Store é que faça parte de uma rede de distribuição, onde os critérios de análise tradicionais para uma rede de lojas têm de ser adaptados. Uma coisa é certa: a abertura de uma Dark Store não se pode basear meramente em sensações ou instintos. Mais do que nunca os dados de consumo dos clientes e a envolvente sociodemográfica sustentam as melhores decisões.

Por outro lado, as ferramentas a utilizar não podem ser baseadas apenas em cálculos financeiros e obrigam a ter em linha de conta critérios relacionados com a geografia. Uma plataforma de Location Intelligence suporta decisões de alto nível, com o conhecimento efetivo das áreas de captação com base em dados de compra (presencial e digital), e ajuda a definir prioridades de investimento pelo estudo de mais do que uma localização e a avaliar o uso que melhor se adequa a cada local.

É pela combinação de camadas de informação sobre clientes, áreas de influência em torno de locais e outras informações de negócio próprias que irá permitir que os decisores transformem o risco na disrupção de negócio e, consequentemente, numa verdadeira vantagem sobre os seus concorrentes.

É verdade que a Covid-19 veio acelerar uma transformação no retalho, que não vai deixar de ter em conta a existência de lojas físicas. Mas as estratégias omnicanal vieram para ficar, em função da transformação da jornada de compra dos consumidores, incluindo a flutuação do valor da cesta média. É certo que algumas lojas físicas irão transformar-se em Dark Stores ou em pontos de recolha de compras, enquanto as restantes localizações irão apostar na experiência em loja e numa segmentação de clientes cada vez mais específica.