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A escola tem que deixar a obsessão dos resultados académicos, rankings e quadros de honra e potenciar o talento do aluno

Vivemos numa época em que o talento é umas das palavras mais valorizadas no léxico mundial, podendo mesmo considerá-lo como o fator diferenciador em qualquer grupo de trabalho, sendo algo que é inato e que tem de ser desenvolvido e potenciado.
2 Julho 2019, 07h15

No século XXI, a globalização continua a lançar novos desafios sociais, com a crise económica global a expor fraquezas estruturais, com graves consequências para milhões de pessoas. Apenas na UE, a taxa de desemprego dos jovens é superior a 20%, com alguns estados membros com taxas superiores a 50%. No entanto, a crise não é a única causa do desemprego; a falta de formação e a falta de competências também contribuem para esta situação. A situação económica e social exige cada vez mais indivíduos talentosos com boas competências sociais e emocionais, preparados para os desafios atuais.

Vivemos numa época em que o talento é umas das palavras mais valorizadas no léxico mundial, podendo mesmo considerá-lo como o fator diferenciador em qualquer grupo de trabalho, sendo algo que é inato e que tem de ser desenvolvido e potenciado.

Na sociedade de consumo em que vivemos existem forças que têm alterado as regras de jogo nas organizações e que têm revolucionado os conceitos, desde os conceitos de mercado e de competência até aos de empresa e de trabalhador. O capital deixou de ser o principal recurso produtivo e as empresas líderes de mercado, da manhã para a noite, podem perder grande parte da sua cota, e inclusivamente desaparecer. Sendo o capital e a tecnologia fatores necessários, não são suficientes para sobreviver no envolvimento atual, porque não diferenciam as empresas. Assim, o talento que uma empresa possui e a sua capacidade de inovar e de se antecipar ao mercado não só lhe permitirá perdurar no tempo, como também alterar as regras do jogo a seu favor. A chave do êxito dos profissionais e organizações com talento não reside no facto de terem muitos conhecimentos, mas de serem capazes de aprender, incorporar e inovar. Em definitivo, as organizações, para poderem sobreviver nesta era de talento, terão de se adaptar às transformações ou, melhor ainda, de as provocar.

“Desta forma, o talento é o principal recurso, e mais escasso que nunca, é por isso que as organizações têm de se preparar para se livrarem de uma guerra pelo talento” (Jericó, 2000).

Como nos encontramos ligados à educação, observamos que a escola portuguesa continua a desaproveitar os talentos, continuando preocupada com os resultados académicos, rankings e quadros de honra. Isto é algo que não cria estruturas para que os alunos sejam pessoas com competências diferenciadoras e que, ao longo das suas carreiras profissionais e vida social, façam a diferença. Para que isso aconteça a escola tem que alterar o seu paradigma e deixar de estar de costas voltadas para a evolução do Século XXI. Em vez disso, deve criar um espaço próprio para a educação emocional, considerada como um dos fatores de maior importância para a preparação do futuro de crianças e jovens. Esta análise é justificada, em grande parte, na investigação realizada, que se baseia na forte influência que exercem os processos emocionais no desempenho do comportamento humano.

Sendo a “emoção”, “inteligência emocional” e “educação emocional” das palavras mais mencionadas nas escolas, empresas e outros tipos de organizações, como defendem muitos autores, nomeadamente o “pai” da inteligência emocional – Goleman (1995), os indivíduos portadores desta faculdade têm competências adquiridas como o autocontrolo, o autoconhecimento, a motivação, a empatia, a resiliência, a comunicação, a liderança e outras competências que, sendo bem trabalhadas, são a chave do poder pessoal.

Devemos perspetivar a educação emocional como uma vertente fundamental na educação, tal como é defendido por Goleman, em 1995, no seu best-seller intitulado Emotional Intelligence: “Quanto mais cedo as crianças começam a desenvolver a inteligência emocional, mais rapidamente se podem tornar talentos.”

Existem muitas investigações que comprovam a extraordinária importância do desenvolvimento de competências sociais e emocionais de crianças e jovens em idade escolar. Ao longo dos últimos dez anos, tenho participado em estudos que nos demonstram a importância do desenvolvimento das competências sociais e emocionais no desenvolvimento do talento.

Um dos estudos realizados intitula-se “Aprendizagem de competências sociais e emocionais em crianças do ensino elementar através do programa KidsTalentum”, que pretende avaliar o impacto que a realização de atividades na natureza produz na aprendizagem de competências sociais e emocionais em crianças do ensino básico. No programa, realizado ao ar livre, as crianças são retiradas da sua zona de conforto e estimuladas a enfrentar tarefas que lhes colocam vários desafios. Foi adotado um desenho quase experimental, com pré-teste e pós-teste, em duas turmas de cada ano de escolaridade do 1.º ciclo do ensino básico, distribuídas num grupo de controlo (n=78) e num grupo experimental (n=78). Para avaliar as competências sociais e emocionais, foram utilizados instrumentos de desempenho e de auto e heteroperceção. O efeito do programa foi avaliado através da análise da mudança de scores.

Os alunos que participaram no programa KidsTalentum apresentaram uma melhoria significativa nas competências desenvolvidas, tendo melhorado os resultados académicos, a postura e o comportamento, o que demonstra que, ao darmos prioridade ao desenvolvimento das emoções, estamos a potenciar o talento de cada um e a interferir nos resultados académicos. Trabalhando o aluno como um todo iremos potenciar a sua performance de forma transversal para a vida e não, somente, os resultados académicos para o imediato.

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