O que levou ao processo de fusão?
Começamos por relembrar que a criação da CVMóvel e da CVMultimédia decorre de uma imposição legal, em 2005, e nunca da vontade dos acionistas. Este processo trouxe custos adicionais ao Grupo CVTelecom, impactando tanto a competitividade da empresa, como os custos dos serviços ao cliente. Ademais, a leitura que se vinha fazendo dos diplomas legais em matéria da concorrência – bastante enviesada do nosso ponto de vista – não vinha permitindo a inovação nas ofertas das empresas do grupo. O projeto de fusão foi pensado e efetivado, para dar resposta a este conjunto de questões: melhorar a competitividade da empresa, permitir a inovação nas ofertas e a redução dos preços no consumidor final.
A fusão foi aprovada em junho de 2022, porque só agora se concretiza?
Entre a data da deliberação da assembleia geral e a da sua entrada em funcionamento, havia um conjunto de processos e procedimentos legais, regulamentares e normativos que tinham que ser observados. Adicionalmente, o processo requer intervenções profundas sobre a rede de telecomunicações e de sistemas de informação, que exigiam a montagem de planos de contingência para evitar qualquer cenário de descontinuidade na prestação de serviços. Conseguimos fazer a transição sem impacto operacional para os clientes.
Quanto vai custar ao grupo esta fusão?
Estamos perante um processo de grande envergadura e complexidade, pelo que, para além dos custos planeados, outros poderão emergir ainda no decorrer do processo. Mas, num projeto económico desta envergadura, a preocupação primeira não devem ser os custos a incorrer, mas as vantagens e os benefícios para os nossos clientes, e, diria, para todo o sector do digital. Grosso modo, de entre as várias componentes do projeto, destacamos alguns considerados mais relevantes: a fusão em si, a convergência dos negócios e a nova marca comercial, cujos custos ascendem a 200 mil contos.
Vai haver alterações no funcionamento da empresa?
Aí sim, podemos falar de alterações assinaláveis, tendo em conta que deixamos de ter que contar com gestão para cada uma das empresas incorporadas. Passamos de cinco direções comercias para três. Deixamos de ter de gerir três contratos por cada cliente, para passar a ter um contrato com cada cliente. Resulta, assim, uma simplificação de processos comerciais.
A fusão vai causar despedimentos?
A dinâmica atual do mercado aponta para o crescimento da empresa, tanto nos negócios como no número de efetivos.
O que vai mudar para os consumidores?
Para os consumidores, as vantagens são significativas. Um cliente que antes detinha um contrato com cada uma das empresas passa a ter que lidar com um único contrato, o que proporciona maior comodidade. Há também a possibilidade de integração dos diversos serviços num único pacote, o que permite ao cliente fazer uam melhor gestão dos seus recursos. Espera -se, e também é um dos propósitos da reestruturação e reorganização das nossas empresas e negócios, uma baixa dos preços, decorrentes da redução dos gastos operacionais e da melhoria da eficiência, ganhos esses que pretendemos que sejam repassados aos clientes. Obviamente que, neste último aspeto, vamos ter que avançar com propostas e negociar com o regulador, que é quem tem a última palavra a dizer sobre os preços a serem praticados no mercado.
Como olha para a separação da atividade grossista dos restantes serviços?
Em 2006 já nos tinha sido imposta essa separação e autonomia dos negócios, processo considerado na altura pelo Governo como condição sine qua nom, para a liberalização do mercado e promoção da concorrência no sector. Na altura, os serviços grossistas e a telefonia fixa ficaram na empresa CVTelecom, tendo sido criada uma direção para cada um dos serviços. Neste momento, estamos perante uma obrigação contratual que, embora se trate de uma opção que foi abandonada ou nunca chegou a ser adotada noutras geografias, nos obriga a autonomizar o negócio de venda de capacidades internacional e inter-ilhas sob forma de Separação Funcional Voluntária. Portanto, não se trata de todo o negócio grossista, mas sim do negócio grossista relacionado com a venda de capacidades inter-ilhas e internacional.
No início de 2022, o Governo de Cabo Verde assinou com a CVTelecom um novo contrato de concessão. O que mudou?
Houve algumas mudanças em relação ao contrato inicial, designadamente, no que diz respeito ao prazo que passou de 25 para 20 anos; a renda de concessão que deixou de ser indexada ao volume de negócios para ser fixa, no valor de 41 mil contos anualmente, com a possibilidade da sua revisão; bem ainda como a obrigatoriedade de se proceder à Separação Funcional Voluntária, criando uma unidade para se ocupar do negócio de capacidades nos circuitos inter-ilhas e internacionais.
Com a fusão, quais serão os grandes investimentos e ambições que se seguem?
O processo de fusão é um marco importante na história das telecomunicações em Cabo Verde e que vai permitir à CVTelecom ter ganhos de eficiência, melhorar a sua competitividade, condição importante para se lançar na exploração e conquista do mercado internacional. Este é o grande objetivo, a seguir à fusão, e vai exigir apostas e investimentos orientados para este segmento de negócio e de mercado. Obviamente, que ainda temos grandes desafios a nível nacional, designadamente o alargamento do acesso e cobertura da rede, a melhoria da qualidade dos serviços, os quais vão merecer toda a atenção da empresa, alinhando-se com a estratégia do Governo que vai no sentido de fazer do digital um sector âncora do desenvolvimento do país.
Os resultados positivos dão margem para investimento?
Os nossos investimentos não estão condicionados pelos nossos resultados. Há muito que as empresas do grupo planeiam os seus investimentos não em função da sua própria disponibilidade financeira, mas sim, olhando para aquilo que são as expetativas do cliente e as necessidades do país. Os investimentos na CVTelecom fazem-se pela antecipação. Obviamente, alinhados e orientados para o potencial de rendimentos que gerarão no futuro. Mas podemos dizer que os sectores a serem priorizados vão ser aqueles que nos permitem democratizar o acesso às comunicações eletrónicas no país e os que concorrem para a internacionalização do negócio. De forma resumida, os investimentos que promovem acesso aos dados, a nível nacional, bem como os que nos permitem alargar o leque do mercado internacional, serão prioritários.
Houve um grande investimento feito no EllaLink. Já estão a colher dividendos?
Os investimentos no EllaLink estão praticamente concluídos. O primeiro ganho vai para o país, que eliminou a sua extrema vulnerabilidade de ligações e comunicações internacionais, por ter estado a depender de um único Cabo Submarino de Fibra Ótica – o WACS.
Neste momento, o país já tem redundância reforçada através do Cabo EllaLink que nos conecta à América Latina e à Europa. De igual forma, o EllaLink veio dotar o país de condições tecnológicas que permitem a implementação do 5G, a domiciliação e circulação de conteúdos 3G e os jogos online. A isso tudo, se acresce o facto de que o EllaLink irá permitir a internacionalização dos negócios no digital.
A CVTelecom detém uma posição dominante no mercado. Como vê o futuro?
Efetivamente, a empresa dispõe de uma posição no mercado bastante confortável, mas estamos no negócio e se descurarmos da qualidade dos serviços e se não levarmos em devida conta a experiência e expetativa dos clientes, os ganhos atualmente conseguidos poderão desaparecer. Quer isto dizer que devemos estar sempre atentos ao mercado, antecipando e inovando.
Será este o nosso futuro.
Tinham falado em investimentos de 140 milhões nas próximas duas décadas. Ainda mantêm?
Normalmente, as incertezas aumentam os receios e, por esta via, os menos ousados tendem a limitar os investimentos. Do nosso ponto de vista, prudência sim, mas redução da dinâmica, nunca. Seria contraproducente limitar os investimentos por causa das incertezas, porque, se for essa a opção, estaríamos a alimentar o círculo da contração económica.
A nossa perspetiva vai no sentido de desafiar as incertezas, apostando num círculo virtuoso da economia, a única via para o crescimento dos negócios e da empresa.
Por isso, mantemos a intenção de continuar a investir no alargamento da cobertura da internet, através da rede móvel e da rede fixa, bem como a exploração do segmento internacional dos negócios.
Como se posiciona o grupo para tornar Cabo Verde num hub digital de serviços?
O essencial dos investimentos em infraestruturas para dar corpo ao almejado hub é da responsabilidade da CVTelecom. Entretanto, para além dessa responsabilidade queremos, juntamente com os demais players dos sector, ascender ao mercado internacional e compensar a reduzida ou insignificante escala da economia nacional. Os investimentos nos cabos submarinos internacionais, por si só, não podem transformar o país num hub. Vamos orientar e alinhar as nossas estratégias com a do Governo, investindo na formação de mais quadros no digital, no data center e na cloudificação, por forma a concorrer para a emergência e afirmação do hub, o que permitirá à empresa ampliar e diversificar os negócios e, consequentemente, melhorar o seu desempenho.
Cabo Verde tem potencial para ser um país “digital”?
Cabo Verde tem registado um trajeto e dinâmica de desenvolvimento que poderá estagnar, caso não encararmos o digital como um indutor de inovação que permitirá ao país internacionalizar-se e integrar-se, de forma vantajosa, na economia mundial, compensando o défice de escala que a economia nacional enfrenta. Quando conjugamos o nível de formação dos nossos jovens residentes, com o know how existente na nossa comunidade na diáspora, só podemos estar otimistas com o potencial que o digital representa e que vai proporcionar ao país um salto qualitativo no processo de desenvolvimento. E para isso, dispomos dos principais requisitos: excelente localização geográfica, paz, estabilidade e segurança.
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